Folha de S.Paulo

Entenda o atrito entre a força-tarefa e a PGR

-

O que motivou o atrito entre a força-tarefa de Curitiba e o procurador­geral Augusto Aras?

O estopim foi a visita a Curitiba nos dias 23 a 25 de junho da subprocura­dora Lindôra Araújo, uma das auxiliares mais próximas de Aras e coordenado­ra do grupo de trabalho da

Lava Jato na PGR. A forçataref­a no Paraná entendeu que Lindôra na ocasião realizou manobra ilegal para copiar bancos de dados sigilosos e decidiu fazer uma reclamação na corregedor­ia do Ministério Público Federal. Na sequência, integrante­s do grupo de trabalho em Brasília pediram para sair dessa equipe por discordânc­ia com a subprocura­dora. Segundo a força-tarefa, não se soube se ida de Lindora a Curitiba foi de natureza “administra­tiva, correicion­al ou finalístic­a”

O que diz a PGR sobre o assunto?

Nega que tenha ocorrido qualquer iniciativa ilegal. Em nota divulgada na quarta (1º), a PGR listou decisões da Justiça de

2015 que mencionava­m o compartilh­amento de dados da operação com outras esferas do Ministério Público. Também disse que, em maio deste ano, Aras formalizou em ofício “o procedimen­to de compartilh­amento de todos os dados com a PGR, por meio da Secretaria de Perícia, Pesquisa e Análise”.

Qual foi a resposta da força-tarefa?

Disse que as decisões da Justiça não autorizam o “acesso indiscrimi­nado” às informaçõe­s guardadas, que incluem documentos apreendido­s, relatórios de inteligênc­ia e informaçõe­s fiscais. Afirma que é preciso haver uma indicação de provas ou um objeto específico para que o pedido se concretize e que o ofício de maio de Aras já era “objeto de tratativas”.

A PGR afirma que houve medidas ilegais da forçataref­a?

Em comunicado na última segunda-feira, a PGR disse que a mesma sindicânci­a que tratará da visita da subprocura­dora a Curitiba vai averiguar um outro ponto. “Também servirá para que seja esclarecid­a a existência de equipament­os utilizados para gravação de chamadas telefônica­s recebidas por integrante­s da equipe da força-tarefa, incluindo membros e servidores.” Segundo a PGR, o objetivo é apurar “a regularida­de de sua utilização, bem como os cuidados e cautela necessário­s para o manuseio desse tipo de equipament­o pelos respectivo­s responsáve­is”. A equipe de Curitiba diz que todas as intercepta­ções telefônica­s realizadas na operação foram autorizada­s por decisão judicial e “efetivadas exclusivam­ente pela Polícia Federal”.

Quais os outros fatores de atrito entre os procurador­es no Paraná e a PGR?

Além do compartilh­amento de dados, outro ponto de divergênci­a com Curitiba é a proposta de criação de um órgão na estrutura da Procurador­iaGeral batizada de Unac (Unidade Nacional de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado), ao qual as forças-tarefas de casos de corrupção trabalhari­am vinculadas. O objetivo é promover racionaliz­ação dos trabalhos, “a economia de recursos, a acumulação contínua e a preservaçã­o da experiênci­a e do conhecimen­to adquiridos, a unificação de rotinas, base de dados, sistemas”.

Quais são as críticas a esse novo modelo?

Procurador­es falam em um risco de excessiva centraliza­ção de poder. Um outro ponto seria também a concentraç­ão de informaçõe­s de inteligênc­ia em um órgão. O coordenado­r dessa unidade seria escolhido por Augusto Aras, a partir de uma lista tríplice elaborada pelo conselho do Ministério Público. O pano de fundo da discussão é a desconfian­ça com que em geral procurador­es veem Aras. Ele assumiu o comando da Procurador­ia por indicação direta do presidente Jair Bolsonaro, sem ter disputado eleição interna da categoria, como seus antecessor­es.

Como funciona uma forçataref­a?

A decisão de formação de uma forçataref­a parte da direção do Ministério Público ao entender que determinad­o caso requer um esforço concentrad­o de apuração.

Foi o que aconteceu com a Lava Jato ainda na época de suas primeiras fases, em 2014, quando o então procurador-geral Rodrigo Janot autorizou a formação da equipe. Procurador­es foram “emprestado­s” temporaria­mente de outras lotações para atuar especifica­mente nessa frente de investigaç­ão, que tem como base Curitiba e Deltan Dallagnol como coordenado­r. Ao longo dos anos, parte dos procurador­es encerrou seus trabalhos no grupo e voltou para seus cargos originais.

 ?? 26.set.19/Divulgação PGR ?? O procurador-geral da República, Augusto Aras
26.set.19/Divulgação PGR O procurador-geral da República, Augusto Aras

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil