Distrito Federal começa a reabrir atividades no auge da pandemia
brasília O Distrito Federal vai lidar nos próximos dias, ao mesmo tempo, com a abertura de todas as atividades da economia e o momento mais delicado da epidemia do novo coronavírus. Autoridades de saúde estimam que o pico da Covid-19 começou no último fim de semana e levará dias até que os números de novos casos e óbitos comecem a diminuir.
O cenário, no entanto, pode ser pior, uma vez que especialistas questionam essa previsão. Muitos afirmam que a unidade da federação está vivendo um período de aceleração da transmissão. Um platô —período de estabilidade no auge da pandemia, antes da queda— só seria atingido em agosto.
A previsão do período de pico foi confirmada à Folha, na sexta (3), pelo subsecretário de Vigilância à Saúde, Eduardo Hage. “A expectativa é essa: inicia a partir desse fim de semana, mas sem ter uma grande elevação em relação aos últimos dias. Deve se manter aí próximo desses [números dos] últimos dias e deve durar no máximo uma semana.”
A subsecretaria estima uma média diária de 1.300 a 1.400 infecções nos próximos dias e de 11 a 14 mortes, em média, por dia. A quantidade de óbitos, no entanto, deve demorar mais para baixar, cerca de 10 a 14 dias —por causa do tempo de evolução da doença.
O pico vai coincidir com a reabertura do restante das atividades, anunciada pelo governador Ibaneis Rocha (MDB). Nesta terça-feira, voltam a funcionar academias e salões de beleza. Na próxima semana será a vez de bares e restaurantes. E, em seguida, reabrem os estabelecimentos de ensino privado e público.
O anúncio da reabertura provocou reação da sociedade e entidades do DF, que temem que o surto do novo coronavírus saia do controle.
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios ingressou com uma ação na sexta (3) para que o governo apresente estudos técnicos que embasam a reabertura.
Além disso, há dúvidas de que o Distrito Federal esteja realmente atingindo o pico da pandemia. Uma nota técnica produzida por pesquisadores das áreas de exatas e de saúde de diversas universidades brasileiras aponta que muitos estados ainda estão em fase de aceleração, entre eles a capital federal.
A previsão, pelo trabalho, é que o platô não seja atingido antes da metade de agosto.
“Parece que está havendo uma estabilização, mas é muito pouco tempo para afirmar isso”, disse Tarcísio Marciano da Rocha Filho, professor do Instituto de Física da Unb (Universidade de Brasília), que participou do estudo.
O professor também alerta para o aumento da ocupação dos leitos de UTI exclusivos para a Covid, que pode sinalizar que o pico ainda está distante. Em maio, o índice estava em 25% e, mesmo coma abertura de novos leitos públicos, agora chegou a 77%. Os leitos particulares estão com 92% de ocupação.
O governo do Distrito Federal, no entanto, defende que a abertura não vai provocar impacto substancial. Hage afirma que o processo seguiu um planejamento, para espaça rare aberturados setores.
Questionado sobre o impacto de bares e restaurantes, setor que emprega 100 mil pessoas, Hage afirma que a abertura vai se dar no período final do “platô”.
Além disso, o subsecretário afirma que a reaberturas anteriores, principalmente do comércio de rua, não resultaram em aumento na transmissão do coronavírus.
Houveum aumento nos números da Covid-19, após um período em que a epidemia parece estar estável no DF. O número de casos aumentou 32 vezes nesse período, enquanto o crescimento em todo o país foi de 15 vezes.
Em relação ao total de mortos, o número teve um aumento de 21 vezes desde o início de maio, enquanto o dado do país inteiro cresceu 9 vezes. Desde o início da pandemia, o Distrito Federal registrou 57.854 casos e 699 mortos.