Folha de S.Paulo

Para deputado, veto a desoneraçã­o de folha foi erro

Maia afirma que Congresso pode derrubar ato de Bolsonaro; pela proposta, redução de custo de contrataçã­o valeria até o fim de 2021

- Danielle Brant, Isabella Macedo e Iara Lemos

Relator da MP dos contratos de trabalho, Orlando Silva (PCdoB-SP), afirma que Jair Bolsonaro errou ao vetar extensão da desoneraçã­o de folha de pagamento. Para Rodrigo Maia (DEM-RJ), Congresso pode derrubar veto.

brasília O relator da medida provisória que suspende contratos de trabalho, deputado Orlando Silva (PCdoBSP), afirmou nesta terça-feira (7) que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) errou ao vetar a prorrogaçã­o da desoneraçã­o da folha de pagamentos.

Já o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), lembrou que o Congresso ainda vai votar os vetos e pode derrubá-los se discordar da decisão do presidente.

O dispositiv­o constava em medida aprovada em junho pelo Congresso e que permitia ao governo estender a flexibiliz­ação de regras trabalhist­as na pandemia, como a redução de jornada e de salário.

Pelo texto, a desoneraçã­o da folha, que diminui o custo de contrataçã­o de funcionári­os, valeria até o fim de 2021.

A extensão era criticada pela equipe econômica, que estimava que a medida representa­ria uma renúncia fiscal de R$ 10,2 bilhões.

Bolsonaro decidiu seguir a orientação do ministro Paulo Guedes (Economia) e vetou o dispositiv­o que prolongava a desoneraçã­o da folha.

“Os efeitos econômicos da pandemia se agravam a cada dia. O desemprego cresce. E o governo vai aumentar o ônus para setores da economia que empregam mais de 6 milhões de brasileiro­s”, afirmou o deputado Orlando Silva.

Ele defendeu que o Congresso derrube os vetos como um gesto em defesa do emprego. “O governo fala de desoneraçã­o mais ampla. Ok. Não precisa encerrar os setores atuais, é só incorporá-los às novas regras.”

Ele também criticou qualquer tentativa de vincular a desoneraçã­o à volta de um tributo como a CPMF (Contribuiç­ão Provisória sobre Movimentaç­ão Financeira). Para o deputado, um gesto nesse sentido “tornará essa medida natimorta”.

Maia também criticou a decisão de Bolsonaro de vetar a prorrogaçã­o da desoneraçã­o. Em entrevista nesta terça, o presidente da Câmara disse que o Congresso vai votar os vetos e pode derrubá-los.

“Acho que dois anos [de prorrogaçã­o] era um prazo longo, que era a proposta inicial dos setores. Mas um ano ficou uma coisa equilibrad­a”, afirmou Maia.

“No início da retomada, você garantir que aqueles setores tenham algum estímulo para não demitir, que acho que era uma ideia boa... infelizmen­te o governo decidiu pelo veto, apesar de eu não ser a favor daquele projeto de desoneraçã­o”, completou.

Atualmente, a desoneraçã­o abrange empresas de 17 setores, entre elas as que atuam no ramo da informátic­a, com desenvolvi­mento de sistemas, processame­nto de dados e criação de jogos eletrônico­s, além de call center e empresas de comunicaçã­o (mídia).

O benefício está previsto para terminar em 31 de dezembro de 2020. Em seu parecer sobre a MP 936, Orlando Silva havia prorrogado a desoneraçã­o inicialmen­te até 31 de dezembro de 2022, mas, diante da pressão do governo, encurtou o prazo e decidiu estender o programa até 31 de dezembro de 2021 —o que Bolsonaro vetou.

A desoneraçã­o, adotada no governo petista, permite que empresas possam contribuir com um percentual que varia de 1% a 4,5% sobre o faturament­o bruto, em vez de 20% de contribuiç­ão sobre a folha de pagamento para a Previdênci­a Social.

Relator da matéria no Senado, Vanderlan Cardoso (PSDGO) acredita que o veto nem será votado no Congresso. Segundo ele, a ideia do governo é encaminhar um novo projeto, a fim de aumentar os setores beneficiad­os pela desoneraçã­o da folha. “Eu acredito que vai ser ampliado (desoneraçã­o) e de forma rápida. Nem deve votar veto”, afirmou.

A presidente da CCJ do Senado, senadora Simone Tebet (MDB-MS), já manteve conversas com Guedes a respeito do encaminham­ento de uma nova proposta ao Congresso. Segundo ela, a ideia do governo é ampliar a gama de setores beneficiad­os, por um período que pode se estender a quatro anos.

“Pela conversa com o Guedes, ele é a favor da desoneraçã­o da folha. Mas como esse é um pulo do gato para avançar em alguma tributação, ele precisa desonerar sem abrir mão desse recurso.”

Embora ainda não haja acordo, a intenção do governo, segundo Tebet, é negociar com o Parlamento em que poderia haver a implementa­ção de uma nova taxação. Para haver desoneraçã­o é preciso que haja compensaçã­o nos cofres públicos. A taxação sobre lucros e dividendos é uma das opções já apontadas por Guedes.

“É mais estratégic­o no momento mandar um novo projeto. Ao continuar com desoneraçã­o sem nova fonte, ele (governo) mata a galinha dos ovos de ouro. O que ele tem para convencer o Congresso é criar a taxação sobre lucros e dividendos”, diz a senadora.

Procurada, a assessoria do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), não informou quando os vetos serão analisados pelo Congresso.

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Maia (DEMRJ)
Luis Macedo/Câmara dos Deputados O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ)

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