Folha de S.Paulo

Pandemia faz casal de atletas do goalball treinar junto em lua de mel de 4 meses

- Alex Sabino

são paulo Atleta da seleção brasileira de goalball, Leomon Moreno, 26, se casou em 14 de março com Milena Nogueira, 21, jogadora da mesma modalidade.

Os dois sabiam que a lua de mel teria de esperar. Dias depois, ele viajaria para participar de um evento-teste antes da Paraolimpí­ada de Tóquio.

Na sequência, o estado de São Paulo entrou em quarentena por causa da pandemia da Covid-19, os Jogos Paraolímpi­cos foram adiados para 2021 e o evento-teste, cancelado. A lua de mel do casal, que teria de esperar, completou 4 meses nesta terça-feira (14).

Goalball é esporte praticado por pessoas com deficiênci­a visual. Cada equipe tem três jogadores titulares e três reservas, e o objetivo é arremessar a bola com as mãos para fazer gols. Para igualar a condição dos atletas, todos atuam com vendas sobre os olhos. A percepção da bola, que tem guizos, é feita pela audição.

Leomon é um dos principais nomes brasileiro­s da modacorpor­al.

lidade e vai, em 2021, para a sua terceira Paraolimpí­ada. Foi prata em Londres-2012 e bronze no Rio-2016. Ela busca lugar na seleção brasileira.

“As dicas dele são importante­s. Eu deixo o lado marido e mulher e me espelho nele como atleta”, afirma Milena.

Os dois passaram um mês em São Miguel Arcanjo (a 190 km de São Paulo), terra natal dela e onde aconteceu o casamento. Depois foram para Brasília, local de nascimento de Leomon. Isolados, resta a eles treinarem juntos, um impulsiona­ndo o outro.

O casal reconhece que as atividades em casa não se igualam, na quantidade de horas e na intensidad­e, às que faziam antes da pandemia. Mas o goalball tem uma vantagem em relação a outros esportes.

“Por causa da deficiênci­a visual, o goalball obriga que você dependa da memória Se mantiver o corpo realizando os movimentos de maneira correta, quando voltar para a quadra não vou estranhar”, afirma Leomon.

Eles estão em categorias diferentes. O esporte é dividido em B1, B2 e B3. Esta última é para quem enxerga mais, como Milena. Ela consegue ver a tela do celular se aumentar as letras, por exemplo. Seu marido está no B1, reservada aos que veem menos.

Ele tem retinose pigmentar, doença degenerati­va com origem na retina. Vê luzes se estiver bem perto. Caso contrário, enxerga apenas vultos.

Enquanto alguns podem achar que ficar em casa quase todo o tempo é um incômodo, isso pode não ser verdade para uma dupla jovem e recémcasad­a. Milena vê como uma oportunida­de, mesmo sentindo muita falta do esporte.

“Sinto saudades de jogar, mas é situação que para mim tem sido boa, no pessoal e no esporte. Às vezes, um dos dois desanima um pouco e o outro puxa a orelha, incentiva para melhorar”, conta ela.

Quando a lua de mel prolongada acabar, o pensamento de Leomon estará em saber se a Paraolimpí­ada acontecerá em 2021. Desde o final dos Jogos do Rio, o pensamento dele é que Tóquio iria lhe oferecer a chance de enfim conquistar a medalha de ouro.

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Divulgação Milena e Leomon fazem musculação em Brasília

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