Folha de S.Paulo

O imposto do tumulto

- Bruno Boghossian

A equipe econômica adotou o tumulto como método de trabalho. No vazio de ideias para impulsiona­r a atividade no país, o time de Paulo Guedes se habituou a lançar planos exóticos, que não saem do papel, ou ideias tão impopulare­s que só podem ter sido elaboradas por quem quer atrapalhar o governo.

O fantasma de um tributo nos moldes da antiga CPMF é um exemplo dessa autossabot­agem. Nesta semana, Guedes voltou a citar a proposta de cobrança sobre transações. O ministro reconheceu que o imposto “é feio”, mas tentou emplacar a ideia para aliviar a carga cobrada de empresário­s sobre folhas de pagamento.

O roteiro se repete desde 2018. Em setembro, o economista disse num encontro privado que planejava cobrar um tributo sobre pagamentos. A agitação tomou a campanha de Jair Bolsonaro. O candidato quis bater na imprensa, mas deu uma paulada indireta na proposta do assessor.

“Ignorem essas notícias mal-intenciona­das dizendo que pretenderm­os recriar a CPMF. Não procede. Querem criar pânico, pois estão em pânico com nossa chance de vitória”, escreveu Bolsonaro.

Desde então, Guedes e seus auxiliares levantaram a ideia do tributo outras oito vezes. O plano derrubou um secretário da Receita no primeiro ano do governo e foi se metamorfos­eando. O ministro tentou mudar o nome do imposto, reduziu a alíquota e falou até em usar o dinheiro arrecadado para bancar a versão repaginada do Bolsa Família.

Guedes ainda precisa convencer o chefe. Em campanha, Bolsonaro afirmava que o plano de uma nova CPMF era “mentiroso e irresponsá­vel”. Depois, disse estar disposto a conversar sobre o assunto. Para contornar as resistênci­as, o governo quer que seus novos aliados do centrão abracem essa ideia.

O imposto sobre transações é o ramo podre de uma reforma tributária prometida e nunca apresentad­a pela equipe econômica. Em setembro, o ministro anunciou que entregaria o texto “na semana que vem”. Já se passaram quase 300 dias.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil