Folha de S.Paulo

Onyx admite caixa dois da JBS e dará R$ 189 mil para encerrar caso

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BRASÍLIA O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni (DEMRS), firmou um acordo de não persecução penal com a PGR (Procurador­ia-Geral da República) no qual admitiu ter recebido R$ 300 mil em caixa dois da JBS em 2012 e 2014.

Ele se compromete­u a pagar multa de R$ 189 mil em troca do arquivamen­to da investigaç­ão a respeito do tema.

O valor pactuado é nove vezes o salário líquido do ministro, de R$ 21 mil.

O acordo é o primeiro dessa natureza fechado pela Procurador­ia-Geral da República perante o STF (Supremo Tribunal Federal).

Está previsto na Lei Anticrime, aprovada no ano passado, como forma de solucionar, com economia processual, casos referentes a delitos não violentos e de pena considerad­a baixa —menor que quatro anos.

O crime de caixa dois atribuído a Onyx, previsto no artigo 350 do Código Eleitoral, está entre os que podem levar a esse tipo de pactuação.

O documento agora será enviado ao ministro do STF Marco Aurélio Mello, que vai analisar se foram cumpridos os requisitos da lei e decidir se homologa o acordo.

Onyx foi delatado em 2017 por executivos da J&F, holding que controla a JBS.

O ex-diretor de Relações Institucio­nais da J&F Ricardo Saud entregou à PGR anexo de sua colaboraçã­o informando que a empresa de carnes doou, via caixa dois, R$ 200 mil a Onyx em 2014.

Na eleição daquele ano, ele foi reeleito deputado federal.

Após o caso ser divulgado, o agora ministro do governo Jair Bolsonaro admitiu publicamen­te ter recebido doação não contabiliz­ada naquele ano eleitoral.

Afirmou que só soube da origem dos recursos quando os dirigentes da JBS falaram a respeito, pois havia acertado a contribuiç­ão com a Abiec (Associação das Indústrias Exportador­as de Carne).

Onyx, contudo, continuou omitindo o repasse de 2012.

Como noticiou a Folha em novembro de 2018, planilha entregue pelos colaborado­res da empresa juntamente com anexos complement­ares das delações mostrou que houve outra doação por fora a Onyx, de R$ 100 mil, naquele ano.

Na época, o então deputado não concorreu a cargos eletivos, mas era presidente do DEM no Rio Grande do Sul e apoiou vários candidatos. Nos registros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), não consta doação oficial da JBS ou da J&F para a sigla naquelas eleições.

A planilha “Doações-2012”, com os registros de caixa dois, foi entregue para corroborar as acusações dos colaborado­res contra políticos.

Joesley Batista, dono da JBS, disse que todas as contribuiç­ões não declaradas foram feitas a pedido dos políticos. Os objetivos, explicou, eram evitar retaliaçõe­s e contar com a boa vontade deles.

Já Saud relatou que os pagamentos a partidos e políticos foram feitos sem contrapart­ida, no intuito de que se tornassem benevolent­es ou simpáticos à empresa. Segundo ele, isso faria a empresa economizar com subornos.

O caixa dois pago a Onyx ensejou a abertura de uma investigaç­ão no Supremo em 2018. Se homologado e cumprido o acordo, o caso será encerrado.

Um trecho do documento, que é sigiloso, diz que o ministro “concorda em se declarar culpado por haver omitido em documentos públicos declaraçõe­s que deles deveriam constar”.

O valor a ser pago tem o caráter de prestação pecuniária, ou seja, uma penalidade pelo delito cometido. Para casos como esse, não cabe ressarcime­nto do valor recebido como caixa dois. Não se trata de prejuízo financeiro ao Estado.

A defesa de Onyx confirmou o acordo e informou que ele buscará empréstimo bancário para pagar a multa.

Em nota, os advogados Daniel Bialski e Adão Paiani afirmaram que seu cliente decidiu procurar as autoridade­s “com a intenção de colaborar e dar um desfecho final ao processo”.

Bialski reiterou que, quando a delação da JBS veio a público, Onyx “desconheci­a a origem do recurso”.

“Diante da nova legislação processual e com a intenção de solucionar isso de uma vez por todas, foi postulado junto à PGR o acordo de não persecução penal. Agora, esperamos que o Supremo homologue o acordo e a causa seja extinta”, acrescento­u.

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