Investigado por propina, rei emérito Juan Carlos deixa a Espanha
MADRI | AFP O rei emérito da Espanha Juan Carlos, alvo de uma investigação do Supremo Tribunal por corrupção, anunciou nesta segunda-feira (3) sua decisão de se mudar do país, afirmou a Casa Real em um comunicado. Em carta ao filho Felipe 6º, divulgada no comunicado, ele escreveu:
“Vossa Majestade, querido Felipe, com a mesma ânsia de servir a Espanha que inspirou meu reinado e diante da repercussão pública que certos eventos passados em minha vida privada estão gerando (...) Comunico a você minha ponderada decisão de sair nesse momento da Espanha.”
O comunicado não informa para onde ele irá. Segundo os jornais El Mundo e El País, ele já está fora da Espanha, mas as reportagens não dizem onde. O rei Felipe aceitou e agradeceu a decisão, diz a Casa Real, “ressaltando a importância histórica que o reino de seu pai representa” para a democracia na Espanha.
Segundo o El País, o advogado de Juan Carlos, Javier Sánchez-Junco, divulgou um comunicado dizendo que seu cliente “permanece à disposição em todo momento do Ministério Fiscal para qualquer trâmite ou atuação que considere oportuna”.
O anúncio do rei não faz menção ao destino da rainha Sofia, que tem descolado sua imagem dos escândalos envolvendo o marido. A imprensa espanhola afirma que ela não viajou com Juan Carlos e continua na Espanha, passando férias em um palácio em Palma de Maiorca.
O casal, apesar de não ter se divorciado no papel, é tido como separado de fato há vários anos, após terem vindo à tona notícias sobre amantes de Juan Carlos. Até agora, os dois continuaram vivendo no palácio da Zarzuela, residência oficial nos arredores de Madri.
Em junho, a Procuradoria da Suprema Corte da Espanha abriu investigação contra Juan Carlos, 82, para apurar possível envolvimento em um esquema de propinas na construção de uma ferrovia na Arábia Saudita. O objetivo, de acordo com o órgão da instância mais alta da Justiça espanhola, é identificar se o monarca cometeu crimes após abdicar do trono, em 2014.
A legislação concede imunidade durante o exercício do reinado. Ao renunciar ao trono, portanto, Juan Carlos perdeu o privilégio. A investigação, segundo a Procuradoria, refere-se à segunda fase da construção da ferrovia para trens de alta velocidade que liga Meca a Medina, na Arábia Saudita, e que ficou conhecida como Ave do Deserto.
O caso veio à tona em 2018, quando Corinna Zu Sayn-Wittgenstein, ex-amante de Juan Carlos, vazou gravações
“Comunico a você minha ponderada decisão de sair nesse momento da Espanha Juan Carlos rei emérito da Espanha, em carta a seu filho, rei Felipe 6º
que mostravam que o antigo rei havia cobrado propina pela concessão da licitação dos trens a um consórcio de empresas espanholas.
Juan Carlos era popular por seu papel na transição do país para a democracia no final dos anos 1970, após a derrocada do ditador Francisco Franco. Sua popularidade, no entanto, foi corroída por diversos escândalos que o forçaram a passar o trono para seu filho, o atual rei Felipe 6º.
Em março, Felipe 6º anunciou que havia renunciado a qualquer herança de seu pai e encerrado a mesada paga pela Casa Real a Juan Carlos. Segundo a imprensa espanhola, o valor desse subsídio somava mais de 194 mil euros por ano (cerca de R$ 1 milhão, em valores atuais).
A decisão veio após o jornal suíço La Tribune de Geneve informar que Juan Carlos havia recebido US$ 100 milhões (R$ 487 milhões) do falecido rei da Arábia Saudita.
O jornal afirmou ainda que Juan Carlos depois ofereceu US$ 65 milhões (R$ 316 milhões) a Corinna zu Sayn-Wittgenstein. Em 2012, Juan Carlos se envolveu em outra polêmica ao participar de uma caçada de elefantes em Botsuana num momento de forte crise econômica em seu país.
A imprensa divulgou os custos da viagem e criticou a falta de transparência da Casa Real.
A viagem teria permanecido secreta se Juan Carlos não tivesse tropeçado em um degrau e fraturado o quadril. O rei acabou sendo transferido de maneira emergencial para Madri para passar por uma cirurgia.