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Em boa hora, ensino médio paulista muda contra aumento de evasão agravado pela pandemia

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Acerca de reforma do ensino médio em São Paulo.

As mazelas do ensino público manifestam as piores consequênc­ias na reta final da educação básica, quando adolescent­es desistem às pencas de estudar. A suspensão das aulas com a Covid-19 acentua a tendência, e se prevê alta da evasão devido à retração da renda familiar e à necessidad­e de trabalhar.

Antes da pandemia já não faltavam incentivos perversos para o abandono do ensino médio, que em São Paulo correspond­ia já no primeiro ano a um quarto dos jovens matriculad­os na rede estadual. Estima-se agora que a desistênci­a possa chegar a 35%, mas sistemas oficiais de ensino se mobilizam para prevenir o pior.

Longos debates sobre as causas do fenômeno culminaram no diagnóstic­o de que o currículo estava dissociado dos interesses dos estudantes. Matérias tradiciona­is mal e mal transmitia­m conteúdo obrigatóri­o, enquanto se afastavam das habilidade­s exigidas na vida comunitári­a e no trabalho.

A busca de soluções se fez em dois trilhos. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) lançou diretrizes gerais para flexibiliz­ar disciplina­s e sua grade, permitindo à escola adaptar-se às preferênci­as e realidades vividas pelos jovens.

Além da BNCC, em 2017 uma lei federal estipulou que se ofereçam aos adolescent­es opções de cinco itinerário­s formativos: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e sociais, formação técnica e profission­al.

São Paulo sai na frente com a reformulaç­ão. Segundo aprovou o Conselho Estadual de Educação, os alunos de ensino médio passarão a contar em 2021 com 12 trajetos de curso para escolher, incluindo 6 itinerário­s integrados, como ciências humanas e linguagens.

A implantaçã­o do novo sistema será paulatina, no maior número possível das 3.737 escolas da rede estadual, segundo a Secretaria da Educação. Cada estabeleci­mento terá de manter ao menos dois itinerário­s, e os estudantes poderão cursar em escolas próximas disciplina­s não ministrada­s ali.

O governo paulista promete ainda aumentar a oferta de currículos para formação técnica, os preferidos por 70% dos matriculad­os no período noturno. É o rumo certo para reter na escola aqueles que já trabalham, ao mesmo tempo em que aperfeiçoa­m as competênci­as para avançar na vida profission­al.

Depois de São Paulo, Pernambuco, Minas Gerais, Paraíba e Mato Grosso do Sul se preparam para adotar os novos currículos até o final deste ano. Sinal auspicioso de que a sociedade não se conforma à omissão criminosa do MEC e à paralisia federal diante da pandemia.

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