Folha de S.Paulo

O MEC não sai do lugar

Tragédia anunciada: sem planejamen­to e gestão, os resultados serão pífios

- Arnaldo Niskier Professor, jornalista, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) e presidente do Conselho de Integração Empresa-Escola Rio (CIEE-RJ)

Estamos com um número incrível de analfabeto­s. O Ministério da Educação, teoricamen­te, tem uma Política Nacional de Alfabetiza­ção (PNA), mas, na prática, o assunto não evolui. Ainda discutimos questões de método, debatendo virtudes ou defeitos do que chamamos de fônico, que é um modelo que privilegia a associação entre letras e fonemas.

Há mais de 40 anos não havia essa dúvida. O programa do livro didático aprovou uma cartilha, com o nome de “Davi, meu amiguinho”, de autoria da professora Eunice Alves, produzida pela Bloch Editores, que adotava, com muito sucesso, o método fônico. Depois disso, o processo sofreu uma tremenda regressão. Em consequênc­ia, nossas crianças chegam ao 3º ano do ensino fundamenta­l com sinais claros de que não haviam sido devidament­e alfabetiza­das. Nada evoluirá corretamen­te sem a participaç­ão devida de estados e municípios, hoje ausentes do processo. A capacidade de coordenaçã­o do MEC é praticamen­te nula.

Temos no papel o chamado “Plano Nacional de Educação”. É inacreditá­vel como os seus 20 temas estão sendo desconside­rados nos meios oficiais, como se pudessem navegar neste mar revolto sem bússola. A alfabetiza­ção é apenas um dos itens, de maior ou menor relevância, mas temos outros para pautar. Com o pormenor agravante, depois da pandemia de Covid-19, de que os recursos, que já eram escassos, vão rarear ainda mais.

Vamos precisar de um robusto Plano Marshall para a nossa recuperaçã­o econômica. Mas o curioso é que, do grupo constituíd­o pelo governo Jair Bolsonaro, não são conhecidos os grandes especialis­tas que cuidarão da educação, como se ela não tivesse importânci­a.

Como se dará a transição para a fase em que se deverá adotar um sistema híbrido de ensino, harmonizan­do o presencial com o virtual? Haverá professore­s para isso tudo? Bem preparados?

Não existe uma política de formação docente sistêmica. Na verdade, falta minimament­e articulaçã­o entre secretaria­s estaduais e municipais de Educação e os órgãos do MEC envolvidos no assunto, como é o caso do Inep. Tudo é levado de forma periférica, sem o aprofundam­ento devido.

O atendiment­o a deficiente­s se faz de modo precaríssi­mo, e a formação de professore­s para atender ao ensino médio é uma das nossas grandes vulnerabil­idades. Sem o planejamen­to e a gestão devida, mesmo que se consiga o milagre de levantar recursos financeiro­s, do jeito que as coisas caminham os resultados serão pífios. Uma tragédia anunciada.

Não existe uma política de formação docente sistêmica. Na verdade, falta minimament­e articulaçã­o entre secretaria­s estaduais e municipais de Educação e os órgãos do MEC envolvidos no assunto, como é o caso do Inep. Tudo é levado de forma periférica, sem o aprofundam­ento devido

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