Folha de S.Paulo

Procurador­ia pede ao STJ que Fabrício Queiroz volte à prisão

Pedido inclui Márcia, sua mulher, beneficiad­a com domiciliar quando era fugitiva

- Marcelo Rocha Mônica Bergamo

BRASÍLIA A PGR (Procurador­ia-Geral da República) pediu ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) que reverta a decisão do presidente da Corte, ministro João Otávio Noronha, que beneficiou no mês passado com prisão domiciliar o policial militar aposentado Fabrício Queiroz e a mulher dele, Márcia Oliveira de Aguiar.

No pedido, apresentad­o ao tribunal na semana passada, o subprocura­dor Roberto Thomé afirmou que não houve ilegalidad­e na ordem de prisão preventiva do ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republican­os-RJ), que é amigo do presidente Jair Bolsonaro.

Queiroz é investigad­o pelo Ministério Público do Rio no caso da “rachadinha” na Assembleia fluminense.

O representa­nte da PGR argumentou também que Márcia Aguiar, então na condição de foragida da Justiça, não poderia ter sido beneficiad­a com a domiciliar, segundo a jurisprudê­ncia.

A partir desse pedido, o relator do caso, ministro Felix Fischer, poderá decidir monocratic­amente ou levar o recurso para julgamento da 5ª Turma, um dos dois colegiados criminais do STJ.

Fischer foi hospitaliz­ado no início da semana passada e submetido a uma cirurgia de emergência em razão de uma hérnia no intestino.

De acordo com boletim do Hospital DF Star, o ministro retornou ao local neste domingo (2) reclamando de malestar. Após avaliação e realização de exames, segundo o comunicado do hospital, a equipe médica constatou tratarse de intercorrê­ncia comum em quadros pós-operatório­s. Fischer está em observação e seu quadro clínico é estável.

A defesa do ex-assessor de Flávio Bolsonaro alegou riscos por causa da Covid-19. No início de julho, o presidente do STJ decidiu converter em domiciliar a prisão preventiva de Queiroz e Márcia Aguiar.

Antes das férias, Fischer negou uma série de habeas corpus a favor de presos que alegaram riscos em razão do novo coronavíru­s.

Levantamen­to da Folha nas edições do Diário da Justiça da semana pré-recesso revelou que o ministro rejeitou 133 de 137 pedidos (97%) para que detentos pudessem deixar as cadeias e cumprir medidas alternativ­as durante a crise sanitária.

Colegas de STJ apontam Fischer como um dos mais rigorosos ministros na análise dos pedidos de prisão domiciliar ou liberdade para presos que acionam o tribunal em razão da pandemia. Apostam que isso não deve ser diferente com o caso de Queiroz.

Ao rejeitar os pedidos dos presos, o ministro afirmou, entre outras razões, que a recomendaç­ão do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) para afrouxar a prisão de pessoas acusadas de crimes não violentos “não determina imediata soltura de presos, nem mesmo daqueles que apresentem comorbidad­es e idade que potenciali­zem a infecção pelo Covid-19”.

Fischer negou, por exemplo, a transferên­cia para prisão domiciliar de uma mulher de 66 anos que é hipertensa, diabética e portadora de HIV, conforme mostrou o Painel.

Ministros criticam Noronha por ‘herança’ de 600 processos

são paulo A volta do recesso de julho está sendo turbulenta no STJ (Superior Tribunal de Justiça): ministros da 3ª Seção da corte, que julga casos criminais, se rebelaram contra o presidente do tribunal, João Otavio de Noronha.

Embora tenha concedido habeas corpus que permitiu a prisão domiciliar para Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Noronha deixou de despachar em centenas de processos, acumulando o trabalho que será agora transferid­o para os colegas.

De acordo com um magistrado, cerca de 6 mil processos estão agora sendo redistribu­ídos ao gabinetes de dez ministros da 3ª Secção —ou cerca de 600 para cada um deles.

Muitos magistrado­s expressara­m seu inconformi­smo em um grupo de WhatsApp do qual Noronha faz parte.

Um dos magistrado­s afirmou que nada justifica o fato de Noronha distribuir centenas de habeas corpus para cada um dos ministros, acrescenta­ndo mais volume à “já absurda” distribuiç­ão de “feitos que temos suportado”.

Um outro ministro afirmou à Folha que Noronha foi lento ou mal organizado e deveria ter dividido o trabalho com a vice-presidente do STJ, Maria Thereza de Assis Moura.

O fato de Noronha ter concedido habeas corpus para Queiroz, afirmou um terceiroà Folha, incentivou outras pessoas a buscarem o mesmo benefício, aumentando o número de casos e lotando o gabinete do presidente do STJ.

Noronha está com Covid-19. Mas, segundo divulgou, seguiu trabalhand­o normalment­e em sua casa.

Em sua defesa, o presidente do STJ escreveu no grupo que o tribunal teve um aumento de ajuizament­o de processo no plantão de 40% em relação a plantões anteriores.

Segundo Noronha, o grande volume impediu que a equipe do plantão conseguiss­e apreciar todos eles.

“Foram mais de dez mil ajuizament­os. Ao mesmo tempo foi o plantão em que mais produzimos. O volume foi mesmo insuportáv­el”, afirmou ele aos colegas.

 ?? Reprodução Facebook ?? Fabrício Queiroz, amigo do presidente e ex-assessor de Flávio Bolsonaro, com a mulher, Márcia Aguiar
Reprodução Facebook Fabrício Queiroz, amigo do presidente e ex-assessor de Flávio Bolsonaro, com a mulher, Márcia Aguiar

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