Folha de S.Paulo

Sou o direita raiz nas eleições de SP e não tenho dívida com Doria

Pré-candidato à prefeitura de São Paulo do Novo quer conquistar votos bolsonaris­tas e diz que Guilherme Boulos (PSOL), a quem chama de ‘Maduromini­on’, é o ‘grande risco’

- Carolina Linhares

SÃO PAULO Conservado­r nos costumes, defensor da família, adepto de um Estado focado em serviços essenciais e, principalm­ente, o único “direita raiz” entre os pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo. É assim que Filipe Sabará (Novo), 36, quer conquistar os votos dos paulistano­s, especialme­nte dos bolsonaris­tas.

Na opinião de Sabará, se o Estado não gastasse com Correios, por exemplo, teria mais verba para o SUS e para auxílios emergencia­is na pandemia. Ele elogia o combate ao coronavíru­s feito por Jair Bolsonaro e critica os tucanos Bruno Covas e João Doria; deste, foi secretário de Assistênci­a e Desenvolvi­mento Social na prefeitura e presidente do Fundo Social do estado.

“Os sociais-democratas são um socialismo pintado de corde-rosa”, afirma em entrevista­à Folha. Sua artilharia também se volta contra Guilherme Boulos (PSOL), a quem chama de “Maduromini­on” —em referência ao ditador da Venezuela, Nicolás Maduro.

Sabará dividiu com a primeira-dama Bia Doria a condução do Fundo Social, mas discorda de fala dela sobre não dar comida a moradores de rua.

Empresário, Sabará é fundador de uma associação que insere moradores de rua no mercado de trabalho —ação que também desenvolve­u na prefeitura— e de empresa de cosméticos naturais. Idealizou um programa de produção de alimentos em terrenos baldios e se especializ­ou em sustentabi­lidade.

“O xiitismo fez com que as leis fossem irreais. Você trava os negócios e não promove a responsabi­lidade ambiental”, afirma a respeito da esquerda e em defesa da política do ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente), que acabou expulso do Novo porque o partido discordou de suas ações na pasta.

A pandemia trouxe a visão de que o SUS e as transferên­cias de renda do governo são importante­s. Ainda cabe uma defesa de Estado mínimo?

Como liberal, uma pessoa de direita, o que a gente acredita é que o Estado tem que focar nas áreas essenciais: segurança, educação e saúde. Se foi o Estado, seja por qual motivo, que obrigou a sociedade a ficar em casa e os estabeleci­mentos a serem fechados —talvez muitos dos estabeleci­mentos preferisse­m ficar abertos—, então o Estado tem de auxiliar essas pessoas. Se o Estado não gastasse mal com coisas que não são essenciais, como Correios, coisas que não tem que ser do Estado, em um momento como esse haveria reservas para auxiliar as pessoas.

Se fosse prefeito, teria obrigado as pessoas a ficarem em casa?

A prevenção inclui conversas com os setores. Não dá para a Prefeitura de São Paulo, que não consegue nem resolver a questão de vagas em creche, que com Orçamento de R$ 14 bilhões não consegue fazer o básico que é educar crianças, querer ditar como os comerciant­es devem ou não fazer alguma coisa mais segura.

Quem vai se preocupar melhor com suas próprias vidas e com as vidas dos funcionári­os são os estabeleci­mentos. Essa conversa devia ter começado no começo. Agora no final, quando já estava a coisa fechada há 90 dias, a prefeitura chamou os comércios para ver como seria mais seguro reabrir, só que fez isso no pico da pandemia. Não tem lógica.

Os comerciant­es priorizari­am a vida ou seus estabeleci­mentos?

As duas coisas. Ninguém quer ver seu funcionári­o contaminad­o, até porque o proprietár­io de um pequeno comércio seria contaminad­o junto.

E as escolas?

Eu teria feito um período de fechamento e, agora, teria de fazer uma reabertura com protocolos. É direito dos pais, se eles quiserem, enviar as crianças para a escola. Os impostos não foram diminuídos, o prefeito não baixou o IPTU e o ISS. Se estou pagando por um serviço, ele tem de estar aberto.

O sr. diz que é liberal com responsabi­lidade social e ambiental. Isso não é o que prega o governador João Doria, numa ala à direita do PSDB?

Uma pessoa filiada a um partido social-democrata é um social-democrata. Eu sou de direita convicta, eu defendo um Estado eficiente, pequeno, focado no essencial. Os tucanos defendem Estado grande, pai e mãe das pessoas, com algumas privatizaç­ões.

O Brasil gerou um Estado enorme, uma carga de tributos que afoga os mais pobres, que proporcion­almente pagam mais impostos. Quanto maior o Estado, mais corrupção. Os sociais-democratas são um socialismo pintado de cor-de-rosa.

Como avalia o combate à pandemia em São Paulo e no país?

Até hoje, em São Paulo, há cinco municípios sem nenhum caso de Covid-19. Foram extremamen­te prejudicad­os na sua economia depois de todo esse tempo fechados sem nenhum caso. E agora [que a pandemia chegou ao interior] vão ter de seguir fechados. Faltou inteligênc­ia.

Na ponta do lápis, o governo federal foi o que mais fez para combater a pandemia. Fez o auxílio dos R$ 600, fez transferên­cia para os estados e municípios e lançou linha de crédito para os micro e pequenos empreended­ores, os maiores geradores de empregos.

Essas medidas ocorreram por causa do governo federal ou apesar dele?

O governo federal fez por decisão própria. O STF deixou a responsabi­lidade para estados e municípios. Sem isso, a economia estaria muito pior.

O sr. tem criticado João Doria, mas foi ele quem o colocou na vida pública. É ingratidão da sua parte?

Não é ingratidão. Uma coisa foi ele ter me convidado para trabalhar com uma série de atribuiçõe­s e metas, eu cumpri todas. Não tenho nenhuma dívida com ele nem ele comigo. Outra coisa são críticas políticas e da pandemia. Fiquei menos de um ano no governo. Tenho total liberdade para fazer a crítica que eu quiser.

Analisando os protestos nos EUA, o sr. tuitou: “O mais triste de tudo é que, se formos escutar com profundida­de os brasileiro­s, percebemos que quase todos somos antifascis­tas”. O que quis dizer?

O brasileiro é uma pessoa de bem. Esse movimento antifascis­ta é uma politizaçã­o, uma coisa que surgiu nos EUA e teve aqui um pequeno resquício, nem foi pra frente. Porque o brasileiro não leva essas coisas pra frente. Não existe fascismo no Brasil. Nós somos antifascis­tas, porque senão a gente teria fascismo no Brasil. Onde está o fascismo no Brasil?

Como se define em relação a costumes?

Sou conservado­r. É conservar as conquistas da sociedade, como família, o direito da propriedad­e privada, a liberdade econômica.

Os pré-candidatos disputam o voto bolsonaris­ta. O sr. quer esses votos? E por que eles escolheria­m o sr.?

Defendo meus princípios liberais e de direita, conservado­res. Se as pessoas de direita, vinculadas ao Bolsonaro ou não, quiserem votar em mim após a convenção [oficializa­ção da candidatur­a], eu quero que as pessoas de direita votem em mim. Eu me considero, de todos os candidatos aí, o direita raiz.

O sr. trabalhou com Bia Doria. Concorda com a fala dela de que a rua é um atrativo?

Não. A rua é um terror. Tem muita gente que acaba se acostumand­o por falta de oportunida­de de saída. Dediquei uns 20 anos a trabalhar provendo renda e emprego para as pessoas.

A melhor forma de ajudar é ir para as ruas, conversar com essas pessoas, levar um prato de comida e uma roupa, mas principalm­ente como uma forma de se conectar. Fui criador da jornada da autonomia, que é entender as necessidad­es das pessoas e convidá-las para serem acolhidas e qualificad­as. E oferecer oportunida­de de renda. O que eles mais querem é trabalhar.

Fica uma crítica ao pré-candidato Boulos, que não entende nada disso. É uma pessoa vinculada a um movimento de moradia ilegal, de invasões, que exploram pessoas. O que há de pior na política é o Boulos, o grande risco nesta eleição é o risco Boulos. Ele nunca conquistou nada, nunca ajudou ninguém e vive de falar. E principalm­ente a proximidad­e dele com o condenado, o maior ladrão deste país, que é o Lula. Tenho escutado que o candidato do Lula é o Boulos, que o Jilmar Tatto (PT) é pro forma.

O sr. defende a regulariza­ção fundiária, que pessoas que vivem em ocupações tenham seu terreno regulariza­do. Isso não é o mesmo que Boulos prega?

É diferente. O Boulos nunca realizou nada. Eu, desde a minha adolescênc­ia, invisto em gerar oportunida­des factíveis para as pessoas. A regulariza­ção fundiária é necessária, mas tem um custo.

O que precisa acontecer é um plano de pagamento para que as pessoas quitem seus lotes. O próprio setor financeiro ajuda essas pessoas com parcelas que caibam no bolso para que elas paguem pelo lugar que invadiram. E ganhem dignidade. O Boulos é ligado a movimentos terrorista­s, o MST e o MTST. É o Maduromini­on. Eu promovo renda, emprego e autonomia, e o Boulos prega uma dependênci­a do Estado.

O sr. diz defender o meio ambiente, mas o Novo votou contra o Código Florestal, contra punições maiores para desastres ambientais. O partido abrigou por um tempo Ricardo Salles, considerad­o o pior ministro da pasta. Como vê isso?

As políticas públicas precisam ser realistas. A economia se beneficia quando os empresário­s têm responsabi­lidade ambiental. Para isso as leis precisam ser atualizada­s.

Sou adepto da economia circular. Defendemos uma integração e uma responsabi­lidade ambiental que seja viável, porque muitas leis foram feitas baseadas em questões ideológica­s. A esquerda sequestrou essas pautas por muito tempo e isso deixou o país em frangalhos. O xiitismo fez com que as leis fossem irreais. Você trava os negócios e não promove a responsabi­lidade ambiental.

O mercado internacio­nal pressiona o Brasil pela preservaçã­o. O governo preserva a floresta?

Os governos que criticam são hipócritas, eles destruíram a biodiversi­dade deles e agora querem impor regras no Brasil.

O sr. não respondeu se o governo federal preserva ou não a floresta.

Os dados são confusos. Na época do Lula, a gente teve o maior desmatamen­to da história do Brasil.

Mas Bolsonaro bate recorde de desmatamen­to e não é comparável com oito anos de governo.

Precisa ver quais são os dados para analisar criteriosa­mente. Em vez de criticar, prefiro me colocar à disposição do Brasil para ajudar.

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Mathilde Missioneir­o - 18.fev.20/Folhapress

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