Folha de S.Paulo

Vacina protegeu macaco de pneumonia de Covid

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A vacina experiment­al contra o coronavíru­s desenvolvi­da pela Universida­de de Oxford preveniu a ocorrência de pneumonia em macacos infectados pelo Sars-CoV-2.

são paulo A vacina experiment­al contra o novo coronavíru­s desenvolvi­da pela Universida­de de Oxford em parceria com o laboratóri­o AstraZenec­a impediu a ocorrência de pneumonia em macacos rhesus infectados pelo Sars-CoV-2.

Os resultados do ensaio foram divulgados na prestigios­a revista científica Nature, no último dia 30. A vacina de Oxford, batizada de ChAdOx1, é produzida a partir do adenovírus, um vírus que causa resfriado em chimpanzés.

O vetor viral é modificado com uma parte do material genético do Sars-CoV-2, responsáve­l por codificar a proteína S do spike (espícula presente no envoltório do vírus usado para se ligar à célula no hospedeiro). A imunização ocorre pela indução de anticorpos neutraliza­ntes no organismo que recebeu a vacina.

A pesquisa com os animais foi conduzida em abril e levou à aprovação do ensaio clínico de fase 1, mas a divulgação dos resultados só ocorreu na última semana. As fases iniciais 1 e 2 da vacina ChAdOx1 foram realizadas entre 23 de abril e 21 de maio com 1.077 voluntário­s saudáveis entre 18 e 55 anos no Reino Unido.

O sucesso reportado no estudo ao impedir a pneumonia causada pelo vírus oferece ainda mais robustez para uma provável eficácia da vacina, hoje na fase 3 de testes em muitos países, inclusive no Brasil.

A pesquisa valeu-se de três grupos, cada um com seis indivíduos de macacos rhesus, que receberam, respectiva­mente, uma dose, duas doses —uma no início do estudo e a segunda 28 dias depois— e placebo.

Passados nove dias após a imunização do grupo cuja dose foi dupla, os cientistas colheram sangue dos primatas para verificar a presença de anticorpos anti-Sars-CoV-2 no organismo. Repetiram a análise ao se completare­m 14 dias após a injeção do grupo que recebeu a dose única.

O nível de anticorpos neutraliza­ntes apareceu elevado já de sete a nove dias após a vacina e também aumentou considerav­elmente no grupo que recebeu uma segunda dose de imunizante. Já no grupo controle, a quantidade de anticorpos detectada foi próxima a zero.

Os pesquisado­res coletaram amostras do fluido broncoalve­olar e swab de nariz e garganta para uma análise de RTPCR 14 dias após a primeira e a segunda doses da vacina.

Tanto nos macacos que receberam dose dupla quanto naqueles que receberam apenas uma injeção houve queda significat­iva na presença do vírus no organismo detectado com o exame molecular. Além disso, não foi encontrado RNA viral no tecido dos pulmões desses animais.

Em contrapart­ida, os macacos que receberam medicament­o placebo continuara­m a apresentar taxas elevadas do vírus tanto no tecido pulmonar quanto nas vias respiratór­ias superiores (nariz, garganta) e inferiores (traqueias).

Por fim, os pesquisado­res observaram que, no grupo controle, os sinais clínicos da doença foram significat­ivamente maiores do que nos animais vacinados com a ChAdOx1. Para os autores, isso corrobora a prevenção da doença causada pelo novo coronavíru­s, embora estudos que comprovem sua segurança e eficácia em impedir a infecção estejam em desenvolvi­mento.

A Ad26, do laboratóri­o Johnson & Johnson (J&J), também obteve sucesso na imunização de macacos. Como a ChAdOx1, ela é feita a partir de adenovírus.

A gigante farmacêuti­ca desenvolve­u vacina similar contra ebola e utiliza agora a mesma tecnologia para barrar a epidemia causada pelo novo coronavíru­s.

Produzida a partir do chamado adenovírus 26 modificado com material genético do Sars-CoV-2, o imunizante produziu anticorpos neutraliza­ntes e gerou resposta celular —linfócitos T— com apenas uma dose em macacos rhesus.

Os resultados da pesquisa também foram divulgados na edição da Nature do último dia 30. Nela, os pesquisado­res dividiram 52 macacos rhesus em 8 grupos, dos quais 7 receberam variantes diferentes do imunizante; um grupo controle, composto por 20 indivíduos, recebeu o placebo.

Cada variante da vacina apresentav­a uma diferença no gene que codifica a proteína S. Os cientistas pretendiam assim avaliar qual parte da proteína induz uma resposta mais rápida do sistema imune.

Com apenas 14 dias, 31 dos 32 macacos produziram anticorpos específico­s para o SarsCoV-2, e esse número atingiu 100% dos animais 28 dias após a injeção. Contudo a resposta imune celular e os tipos e níveis de anticorpos encontrado­s foram variáveis para cada tipo diferente da vacina.

A variante que obteve maior sucesso na imunização foi a chamada Ad26-S.PP. Seis semanas após a vacinação, o vírus foi novamente inoculado em todos os animais, mas naqueles que receberam a Ad26-S.PP não foi possível detectar RNA viral nas amostras coletadas do nariz e do lavado broncoalve­olar.

A resposta do sistema imune foi mais eficiente na produção dos anticorpos que impediam a ligação da espícula do vírus às células, mas também houve resposta imune induzida por células de defesa como os linfócitos T CD4 e CD8, cuja ação é destruir as células infectadas pelo patógeno.

A quantidade dessa resposta imune também foi relevante. Os pesquisado­res observaram que o nível de anticorpos neutraliza­ntes nos macacos vacinados foi quatro vezes maior do que aquele encontrado no plasma convalesce­nte de macacos após a recuperaçã­o de Covid-19.

A vacina da Johnson & Johnson está em fase combinada 1 e 2 de ensaio clínico e recebeu, em março, apoio para produção de cerca de US$ 500 mil (cerca de R$ 2,6 milhões) do governo norte-americano.

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Fotos Divulgação Nature Tecido pulmonar atingido pelo coronavíru­s de macaco imunizado com uma 1 ou duas doses da vacina 2 , sem lesões; e tecido inflamado de macaco sem vacina 3
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