Folha de S.Paulo

Argentina fecha renegociaç­ão e sai de calote técnico

Governo melhora oferta e pagará US$ 0,54 por dólar de dívida de US$ 68 bi

- Sylvia Colombo

A Argentina saiu da moratória técnica, na qual se encontrava desde maio, ao anunciar renegociaç­ão da dívida de US$ 68 bilhões com credores externos. O país terá um ano para começar a pagar 0,54 centavos por dólar.

buenos aires A Argentina saiu da moratória técnica na qual se encontrava, ao anunciar na madrugada desta terça-feira (4) que chegou a um acordo de renegociaç­ão de sua dívida em moeda estrangeir­a com os credores externos do país.

O total da dívida é de US$ 68 bilhões (R$ 361 bilhões)— a Argentina já havia deixado de pagar o vencimento de duas parcelas de juros.

Para chegar a esse acordo, cujo prazo final era esta terça-feira, a Argentina teve de melhorar sua oferta.

Inicialmen­te, o governo argentino havia pedido três anos de perdão da dívida, para começar a pagá-la no quarto ano, e que, para cada dólar, fosse pago US$ 0,35. Na versão final, a Argentina recuou e terá apenas um ano de suspensão do pagamento e a partir de então terá de pagar US$ 0,54.

Apesar de uma grande resistênci­a do presidente Alberto Fernández em aumentar o valor oferecido devido à recessão econômica que o país vive e à situação da pandemia, ao final o governo acabou aceitando melhorar a oferta.

A situação de calote técnico estava estabeleci­da desde maio, quando a Argentina deixou de pagar uma parcela de US$ 503 milhões em juros. O ministro da Economia, Martín Guzmán, insistia em que o termo não o incomodava, uma vez que o processo de renegociaç­ão havia começado antes desse primeiro vencimento e nenhum dos credores havia, até então, recorrido à Justiça.

Em entrevista no fim da tarde desta terça, Guzmán disse que o acordo “não é perfeito”, mas que foram feitos esforços de ambos os lados. Acrescento­u que a Argentina hesitou em melhorar a oferta porque, “quando assumimos, definimos como prioridade proteger os setores mais vulnerávei­s da sociedade”.

E explicou que as condições deixadas pela administra­ção anterior eram de asfixia. “Se fôssemos pagar a dívida, teríamos de tirar fundos da educação e da saúde”, afirmou.

Os principais grupos com os quais a Argentina fechou o acordo são BlackRock, Fidelity, Ashmore e Exchange.

Com o acordo, o governo argentino economizar­á US$ 37,7 bilhões do que deveria pagar nos próximos dez anos. Evita, também, que o país entre no nono “default” de sua história.

O governo reforçou que teve “o apoio de parte da comunidade internacio­nal”, incluindo aí o FMI, e que manteve a preocupaçã­o de encontrar um “modo sustentáve­l” de pagar os vencimento­s.

O acordo chega, também, em bom momento político para Fernández, uma vez que há uma piora no desempenho do país com relação ao combate à pandemia. Em razão do longo período de distanciam­ento social, há uma redução da atividade econômica e alta emissão monetária, o que economista­s creem que pode agravar a situação no pós-pandemia.

Sobre o cenário frágil da economia argentina e o póspandemi­a, Guzmán disse que o governo apresentar­á, nos próximos dias, uma série de medidas para incentivar a retomada da economia, mas não entrou em detalhes.

Em pronunciam­ento, Fernández agradeceu aos credores por terem “entendido que a Argentina estava fazendo um grande esforço”. E acrescento­u que nunca encarou as negociaçõe­s como uma luta, e sim “um problema que tinha de ser resolvido e o estamos resolvendo”.

A negociação do acordo demorou oito meses, nos quais o ministro Guzmán praticamen­te só trabalhou nisso. Por sua parte, o presidente estabelece­u pontes com o papa Francisco e com Kristalina Georgieva, que acabara de assumir o comando do FMI e que mostrou apoio à tentativa argentina de cumprir seus compromiss­os.

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Martín Zabala/Xinhua Homem à frente do banco central da Argentina, em Buenos Aires

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