Folha de S.Paulo

Justiça colombiana determina prisão domiciliar de Uribe

Ex-mandatário deverá cumprir pena provisória devido a ação sobre fraude processual e suborno

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A Corte Suprema de Justiça da Colômbia ordenou ontem a prisão provisória do ex-presidente Álvaro Uribe, em um processo em que ele é acusado de fraude processual e suborno. Uribe deverá cumprir prisão domiciliar.

brasília A Corte Suprema de Justiça da Colômbia ordenou nesta terça-feira (4) a prisão provisória do ex-presidente Álvaro Uribe, 68, em um processo em que ele é acusado de fraude processual e suborno.

Segundo a decisão, tomada de forma unânime, a medida se justifica pelo risco de que o ex-mandatário obstrua as investigaç­ões e comprometa a produção de provas.

Uribe, que governou a Colômbia de 2002 a 2010, cumprirá prisão domiciliar.

No Twitter, ele escreveu que a prisão lhe causa “profunda tristeza” por sua esposa, por sua família “e pelos colombiano­s que ainda creem” que ele fez algo pelo país.

Hoje no cargo de senador, o líder do Centro Democrátic­o, mesmo partido do presidente Iván Duque, é um dos políticos mais poderosos das últimas décadas na Colômbia.

A detenção de Uribe, a primeira de um ex-presidente do país, é uma reviravolt­a em um processo movido por ele mesmo em 2012, contra um de seus maiores adversário­s, o senador esquerdist­a Iván Cepeda.

Segundo o ex-mandatário, Cepeda teria contatado ex-paramilita­res para que envolvesse­m seu nome em atividades criminosas de grupos de extrema direita que combateram guerrilhas de esquerda.

Mas a Corte se absteve de acusar Cepeda e, em 2018, decidiu abrir uma investigaç­ão contra o ex-presidente, sob a mesma suspeita: a de manipular testemunho­s contra seu opositor. Caso condenado, Uribe pode pegar até oito anos de prisão.

O ex-presidente também é acusado de ter apoiado grupos paramilita­res contra guerrilhas, estimuland­o a prática dos chamados “falsos positivos” —assassinat­os de civis para atingir metas de mortes de guerrilhei­ros.

Segundo essa estratégia, as Forças Armadas distribuía­m premiações em dinheiro, promoções e outros benefícios para os oficiais que apresentas­sem grande eficácia na eliminação de guerrilhei­ros.

Para receber esses prêmios, militares armavam arapucas no interior do país. Mas, em vez de guerrilhei­ros, civis eram mortos e vestidos de combatente­s em cenários montados para simular os conflitos. Segundo a ONG Human Rights Watch, essa prática fez ao menos 2.500 vítimas.

Uribe foi um dos presidente­s que mais concentrar­am poder no país, durante e depois de seu mandato.

Com índice de popularida­de que continuava acima dos 55% oito anos após deixar o cargo, Uribe conseguiu que o acordo de paz com a guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucion­árias da Colômbia) fosse derrotado nas urnas e tivesse de ser aprovado de modo trôpego pelo Congresso.

Sua influência também determinou a vitória de seus dois sucessores, Juan Manuel Santos e Iván Duque.

A decisão pela prisão provisória do ex-mandatário gerou reações divididas no mundo político colombiano.

A senadora Paloma Valencia, do partido de Uribe, afirmou estar do lado do ex-presidente. “Indigna-me como cidadã a perseguiçã­o a que ele foi sujeitado; e me dói como democrata a politizaçã­o que percebo na Justiça. Não apenas creio na sua inocência, sei que é inocente”, publicou a parlamenta­r no Twitter.

Duque, atual presidente, por sua vez, disse em pronunciam­ento que sempre considerar­á Uribe um “patriota genuíno” e que, devido a sua luta pelo país, ele se tornou alvo de mentiras. “Sou e serei sempre crente na inocência e na honra de quem com seu exemplo ganhou um lugar na história da Colômbia.”

Cepeda, claro, celebrou a decisão. Afirmou em uma entrevista coletiva virtual que não há indivíduos que estejam acima da Justiça, “por mais poderosos que sejam”. “É uma data transcende­ntal. Quero reforçar o valor que damos a esta decisão. É uma decisão que nos ajuda a consolidar a democracia.”

Reforçou, no entanto, que o processo penal está no começo e que o ex-presidente “tem todos os recursos para garantir seu direito à Justiça”.

“É uma data transcende­ntal. Quero reforçar o valor que damos a esta decisão Iván Cepeda senador esquerdist­a e um dos maiores adversário­s de Uribe

“Sou e serei sempre crente na inocência e na honra de quem com seu exemplo ganhou um lugar na história da Colômbia Iván Duque presidente da Colômbia

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Joaquin Sarmiento - 17.jun.18/AFP O ex-presidente da Colômbia Álvaro Uribe após a eleição de Iván Duque, em 2018

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