Black Is King
Excelente a crítica de Lilia Moritz Schwarcz sobre o filme de Beyoncé ao propor um novo viés de análise de um trabalho da indústria pop (“Filme de Beyoncé erra ao glamorizar negritude com estampa de oncinha”, Ilustrada, 3/8). Lendo os comentários, fica clara a incapacidade de certos leitores de analisarem os diversos aspectos de uma obra. Brasileiros defendem a indústria pop norte-americana, grande responsável pela propagação de estereótipos nocivos, sem refletir sobre o jogo de poder em que a obra está incluída.
Júlia Cavalcante de Moraes
(Rio de Janeiro, RJ)
Achei infeliz a crítica. Negros e não negros temos nossas opiniões sobre estratégias políticas para a luta antirracista —e, apesar de achar a da autora ruim, insensível e arrogante, respeito que a tenha. Mas quando essa opinião vai para o debate público, para intervir na discussão política, precisa ter lastro em uma estratégia coletiva dos protagonistas dessa luta, sob o risco de reproduzir o abuso branco do “eu sei e te digo como você deve lutar, resistir, celebrar sua ancestralidade etc.”. Foi o caso.
Mariel Mitsuru Aramaki (Brasília, DF)
Adorei a crítica. Os trabalhos da autora sobre a história da escravidão no Brasil e seus constantes incentivos em pesquisas e publicações sobre racismo e antirracismo são coerentes com sua defesa de uma nova avaliação da africanidade, considerando a violência que marca a história. Como filme, realmente são apresentados estereótipos. Seu texto enaltece a diversidade africana e apresenta grande crítica ao racismo. Defende uma indústria cultural menos voltada à estereotipagem.
Fábio Lucas da Cruz (Campo Largo, PR)
A professora Schwarcz não precisa de defesa: seu fazer e sua obra falam por si só. O que podemos, sim, é nos perguntarmos se o trabalho crítico tem raça ou credo e se a ação emancipadora deve ser deixada exclusivamente nas mãos do grupo identitário oprimido em questão. Os estudiosos da história e da cultura constatam que embriões autoritários fazem parte dos próprios processos emancipatórios, são universais e atravessam todos os credos e todas as raças.
Belinda Mandelbaum, professora de psicologia social na USP (São Paulo, SP)