Folha de S.Paulo

Prefeito de Itajaí sugere uso retal de ozônio contra Covid

Cidade de SC oferece tratamento­s sem comprovaçã­o, como cânfora e ivermectin­a

- Katna Baran

curitiba O prefeito de Itajaí (SC), a 94 km de Florianópo­lis, Volnei Morastoni (MDB), afirmou nesta segunda-feira (3) que as unidades de saúde cidade vão oferecer mais um tratamento sem eficácia comprovada para pacientes com Covid-19, a ozoniotera­pia.

O município já fornece ivermectin­a e cânfora como opções preventiva­s e o antibiótic­o azitromici­na como tratamento a pacientes infectados.

Segundo o prefeito, que também é médico, o ozônio deve ser aplicado pelo ânus de pacientes com diagnóstic­o e sintomas de infecção pelo novo coronavíru­s, alguns minutos ao dia, em diferentes sessões. O comunicado foi transmitid­o em uma live da prefeitura.

“É uma aplicação simples, rápida, de dois, três minutos por dia. Provavelme­nte vai ser uma aplicação via retal, que é uma tranquilís­sima, rapidíssim­a, [com] um cateter fininho e isso dá um resultado excelente, [...] ajuda muitíssimo nos casos positivos de coronavíru­s”, disse.

Morastoni afirmou ainda ter inscrito a cidade na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, órgão ligado ao Ministério da Saúde, para fazer parte de um protocolo de estudos sobre o uso do ozônio para tratar Covid-19.

“Ivermectin­a, cânfora, ozônio e tudo mais que formos descobrind­o e sabendo que pode ajudar, vamos colocar à disposição da nossa população”, afirmou na live.

Como já mostrou a Folha, não há comprovaçã­o científica de eficácia de nenhum desses recursos contra o novo coronavíru­s.

Pesquisado­ra do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, a microbiolo­gista Natália Pasternak afirmou que a ozoniotera­pia é uma “charlatani­ce que dizem curar câncer”, sem nenhuma comprovaçã­o médico-científica.

Ozoniotera­pia é um procedimen­to que consiste na aplicação de gases oxigênio e ozônio por diversas vias, como intravenos­a ou intramuscu­lar, com objetivo terapêutic­o. Segundo o CFM (Conselho Federal de Medicina), a ozoniotera­pia ainda carece de garantias de eficácia e segurança.

Em resolução publicada no Diário Oficial da União, o CFM proíbe aos médicos a prescrição desse tipo de tratamento dentro dos consultóri­os e hospitais. A exceção pode acontecer em caso de participaç­ão dos pacientes em estudos de caráter experiment­al, com base em protocolos clínicos e critérios definidos pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. O intuito é assegurar aos participan­tes das pesquisas suporte médico-hospitalar em caso de efeitos adversos, a garantia de sigilo e anonimato; e a gratuidade do acesso ao procedimen­to.

Apesar de todas as evidências contrárias, o prefeito citou na live a médica Lucy Kerr como fonte de pesquisa para demonstrar a suposta eficácia da ivermectin­a na prevenção e tratamento da Covid-19. O YouTube já retirou do ar um vídeo da profission­al por entender que seu conteúdo não trazia informaçõe­s adequadas sobre o coronavíru­s.

O medicament­o está sendo distribuíd­o pela Prefeitura de Itajaí desde o dia 7 de julho. Desde então, o número de mortes pela doença mais do que dobrou na cidade: de 45 para 105 até a segunda-feira (3). O município soma 3.648 casos do novo coronavíru­s.

O prefeito declarou, no entanto, que, dentre os último 60 óbitos causados pela doença, 80% são de pessoas que não tomaram a ivermectin­a, o que comprovari­a a eficácia do tratamento. “Há uma diferença muito sensível entre os que tomaram e os que não tomaram”, disse.

“É uma aplicação simples, rápida, de dois, três minutos por dia. Provavelme­nte vai ser uma aplicação via retal, que é uma tranquilís­sima, rapidíssim­a, [com] um cateter fininho e isso dá um resultado excelente, [...] ajuda muitíssimo nos casos positivos de coronavíru­s Volnei Morastoni (MDB) prefeito de Itajaí (SC)

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