Folha de S.Paulo

Jornalista e escritor refinado, era um amante do Brasil

GILLES LAPOUGE (1923-2020)

- Patrícia Pasquini coluna.obituario@grupofolha.com.br

são paulo Grande em sabedoria e simplicida­de. Desta forma, o francês Gilles Lapouge era considerad­o pelos amigos e colegas que o acompanhar­am ao longo de sua trajetória como escritor, correspond­ente e colunista do jornal O Estado de S. Paulo.

A parceria e dedicação duraram quase 70 anos, a partir de 1950, quando foi convidado a trabalhar no jornal.

Autor de mais de 10 mil textos, Lapouge tinha uma escrita sofisticad­a.

“Gilles Lapouge foi uma grande referência para mim porque escrevia com muita qualidade literária e autoridade, e essas foram duas caracterís­ticas que com o passar dos anos procurei desenvolve­r”, afirma o jornalista e escritor Lourival Sant’Anna.

“É preciso entender que o texto tem que trazer o prazer intelectua­l de ler. A gente pode agregar a um texto jornalísti­co uma experiênci­a que acumulou sobre o funcioname­nto do mundo. Ele era o exemplo máximo disso. Essa carga de qualidade literária e compreensã­o do mundo tem a ver com a cultura francesa. A contribuiç­ão dele para o Estadão e o jornalismo brasileiro foi muito boa.”

Lapouge era apaixonado pelo Brasil, país que conheceu no início da década de 1950, viajando a convite da direção do jornal O Estado de S. Paulo.

Percorreu a Amazônia, Rio de Janeiro, São Paulo e Nordeste, região cujo colorido e histórias o encantaram.

Havia entre ele e os colegas brasileiro­s admiração recíproca.

“Pessoalmen­te, ele era muito doce, simples, engraçado, despojado e informal. Parte do humor, da alegria e da leveza ele dizia que havia encontrado no Brasil”, conta Sant’Anna.

Lapouge estreou na literatura no final dos anos 1960. Dos cerca de 25 livros que escreveu, alguns carregam a relação com o país que aprendeu a amar, como “Dicionário dos Apaixonado­s pelo Brasil” e o romance “Noites Tranquilas em Belém”.

Na França, Lapouge trabalhou para veículos como os jornais Le Monde e Le Figaro, além de atuar na rádio e na TV.

Em junho, mês em que produziu seu último texto para O Estado de S. Paulo, submeteuse a uma cirurgia, mas estava em recuperaçã­o e fazia planos de voltar a escrever.

Gilles Lapouge morreu no dia 30 de julho, aos 96 anos, em Paris, de infecção pulmonar. Deixa quatro filhos.

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