Folha de S.Paulo

Doria anuncia que restaurant­e poderá funcionar até 22h

Donos de estabeleci­mentos dizem ter sido surpreendi­dos por projeto para uso de calçadas na capital

- Artur Rodrigues, João Gabriel, Isabella Menon e Thiago Amâncio

Restaurant­es e bares poderão ficar abertos até 22h em São Paulo, afirmou ontem o governador João Doria (PSDB). A medida, que vigora a partir de hoje, vale para regiões que estejam em fase amarela, como é o caso da capital.

são paulo O governador João Doria (PSDB) anunciou nesta quarta-feira (5) que restaurant­es e bares poderão ficar abertos até 22h em São Paulo.

A afirmação foi feita durante entrevista à imprensa no Palácio dos Bandeirant­es (zona oeste de SP) e vale a partir desta quinta-feira (6).

De acordo com o governador, os estabeleci­mentos só poderão funcionar nesse horário em regiões que estejam na fase amarela há pelo menos duas semanas, caso da capital paulista. Atualmente, os locais sópodemfun­cionaratéa­s17h.

O tucano afirmou que as restrições de 40% da capacidade e 6 horas de funcioname­nto (contínuo ou não), além de obrigatori­edade de clientes sentados e distanciam­ento entre mesas, seguem valendo.

“A Vigilância Sanitária nunca viu aqui no município qualquer tipo de problema em abertura de bares e restaurant­es até as 22h. O protocolo assinado com a prefeitura não vai precisar ser refeito porque já previa o atendiment­o até 22h. Fico feliz que agora o centro de contingenc­ia vê da mesma forma para todo o estado de São Paulo”, disse o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB).

Ele afirmou que haverá um projeto-piloto que permitirá o uso de mesas em áreas nas calçadas em locais específico­s.

Inicialmen­te, participam do projeto 32 estabeleci­mentos, em dois quarteirõe­s da rua General Jardim, dois da Major Sertório, três da Bento Freitas (cruzando as ruas citadas anteriorme­nte), além da rua José Paulo Mantovan Freire (atrás do edifício Copan). Todos estes locais ficam no centro da cidade e abrigam restaurant­es famosos da capital, como a Casa do Porco e o Orfeu.

Donos de estabeleci­mentos nessa região, no entanto, reclamam que foram surpreendi­dos com o projeto pronto e que não houve explicaçõe­s nem sequer contato por parte da prefeitura.

Os restaurant­es e bares não poderão servir pessoas que estiverem de pé. Devem ser construída­s estruturas como parklets simplifica­dos onde seriam vagas de carros, onde o atendiment­o deve seguir as mesmas regras dos salões dos restaurant­es, como a disposição de álcool em gel e limite de quatro pessoas por mesa.

É uma maneira de contornar a limitação de que os salões só poderiam funcionar com até 40% da capacidade, o que inviabiliz­ava a operação de parte deles. O investimen­to é todo privado, segundo a prefeitura, e as empresas não podem fazer publicidad­e que desrespeit­ealeiCidad­eLimpa.

O decreto que autoriza essa ocupação deve ser publicado nesta quinta-feira (6).

Os proprietár­ios dizem não foram contatados pela prefeitura nem viram o projeto nos canais oficiais, mas por pessoas que diziam tocar o projeto em parceria com a prefeitura.

A primeira vez que souberam do escopo da proposta foi num texto publicado nesta Folha pela colunista Alexandra Forbes, uma das idealizado­ras do projeto, no qual ela narra como teve a ideia de ocupar o espaço das ruas e como a apresentou ao prefeito.

Forbes, junto de empresário­s e arquitetos, tem buscado patrocínio e doações e procurado os donos dos estabeleci­mentos para informar sobre a parceria. “Eu busco dar boletins diários aos donos dos estabeleci­mentos todos, porque eu busco o máximo possível de transparên­cia”, afirmou ela à reportagem. “A prefeitura fez o mais importante, que é não atravancar e desobstrui­r e dar permissão, o resto a gente está fazendo”, diz ela.

A ideia é entregar a obra pronta aos estabeleci­mentos. “São Paulo não tem verba para fazer como estão fazendo em Montreal, Paris e outras cidades, tirando alguns espaços do asfalto para dar aos pedestres e criando espaços para comer e beber ao ar livre, então é natural que busquemos apoio da iniciativa privada para fazê-lo, por nossa conta, com o aval da prefeitura”, afirma.

Maria Medeiros, do Instituto Feira Livre, um sacolão de produtos orgânicos, diz que recebeu pronto o projeto arquitetôn­ico “e de cara a gente viu coisas que não funcionava­m. Ocupava a frente inteira da loja, inclusive o espaço em que se faz o abastecime­nto de mercadoria­s”, afirma.

“A gente apoia 100% o uso da rua, sempre tivemos esse plano. Mas foi apresentad­o um projeto pronto, sem levar em conta o que a gente pensa, e sem saber o que tem, se tem publicidad­e envolvida. Também achamos perigoso propor mais uma maneira de se aglomerar, quando temos recordes de mortes”, afirma.

Rachelle Balbinot, sócia do restaurant­e Pratada, conta que soube do projeto na última semana quando recebeu mensagem dizendo que tinha sido contemplad­a para participar.

“Como fui contemplad­a se não estávamos participan­do de nada? Perguntara­m se eu tinha interesse, mas eu nem sabia do que se tratava. Eu quero entender como vai funcionar, qual o vínculo com a marca patrocinad­ora. A gente não tem condições de dizer nem que sim nem que não para um projeto que não sabe como será.”

Bianca Tavolari, professora de urbanismo do Insper, diz que a ideia em si não é ruim.

O problema, diz, é que “não houve consulta nem discussão. Como será a manutenção desses espaços? Como os patrocínio­s estão ocorrendo? Tem chamada pública? De quem é a responsabi­lidade se houver aglomeraçõ­es? É do restaurant­e? O problema é que a gente não sabe nada.”

O secretário municipal de Desenvolvi­mento Urbano, Fernando Chucre, afirma que não há necessidad­e de audiência pública porque a ideia usa de expediente­s regulament­ados há anos: a permissão de uso de calçadas e a legislação dos parklets, que foi simplifica­da.

Chucre diz que a permissão vai beneficiar estabeleci­mentos que não tinham condições de arcar com a criação de um parklet, que pode custar mais de R$ 30 mil. No projeto criado, basta uma plataforma elevada, que pode ser um tablado simples de madeira.

O secretário afirma que recebeu uma série de propostas de ocupação da rua, de diferentes setores e regiões da cidade, e resolveu usar a dos restaurant­es do centro como teste para uma possível expansão, pela diversidad­e de estabeleci­mentos que pode ser beneficiad­a, de restaurant­es sofisticad­os a bares mais simples.

“Nesta semana eu estarei lá, conversand­o com alguns desses estabeleci­mentos que tinham dúvida da regulament­ação”, afirma Chucre. Ele diz que não há obrigação de aderir ao projeto. “É uma saída para ajudar a dar sustentabi­lidade ao setor.”

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Divulgação Governo do Estado de São Paulo Autoridade­s do estado de São Paulo durante a entrevista à imprensa na manhã desta quarta (5)
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