Folha de S.Paulo

Bolsonaris­tas buscam nome à Prefeitura de SP

Deputados e militantes rejeitam outros pré-candidatos, mas têm dificuldad­e para lançar opções

- Carolina Linhares e Joelmir Tavares

Seguidores do presidente na cidade rejeitam os nomes postos até aqui e tentam lançar candidato na reta final, mas já admitem chance de voto útil.

são paulo Enquanto parte dos pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo tenta atrair o voto de apoiadores do presidente da República, bolsonaris­tas rejeitam os nomes postos até aqui e tentam lançar seu próprio candidato na reta final. Mas admitem que será preciso apelar ao voto útil se o cenário se mantiver.

O desafio dos seguidores de Bolsonaro em São Paulo é encontrar um partido que aceite seu candidato. A legenda que o presidente tenta criar, a Aliança pelo Brasil, não se viabilizou a tempo das eleições, e as siglas que passaram a abrigar bolsonaris­tas pelo país preferiram apostar em outros nomes na capital paulista.

O PRTB, do vice-presidente Hamilton Mourão, vai lançar seu presidente nacional, Levy Fidelix, conhecido como candidato do aerotrem e agora convertido ao bolsonaris­mo.

O Patriota cedeu seu diretório municipal ao MBL (Movimento Brasil Livre), que apresentar­á a candidatur­a do deputado estadual Arthur do Val (Mamãe Falei), um conservado­r crítico do presidente.

Já o PSL (antiga sigla de Bolsonaro, hoje sem partido) tem como postulante a deputada federal Joice Hasselmann, inimiga dos governista­s. Por fim, o Republican­os também não é opção: ou vai lançar o deputado federal Celso Russomanno ou vai abraçar a reeleição de Bruno Covas (PSDB).

Por representa­rem a direita liberal na economia e conservado­ra nos costumes, esses pré-candidatos se unem a Filipe Sabará (Novo) e Andrea Matarazzo (PSD) na briga pela preferênci­a bolsonaris­ta.

O próprio presidente já indicou que vai se manter longe das disputas municipais, mas seus eleitores e militantes conservado­res ainda almejam um candidato raiz.

Deputados da tropa de choque do presidente na capital paulista, como os estaduais Gil Diniz, Douglas Garcia e Frederico D’Ávilla e a federal Carla Zambelli, avaliam que nenhum dos pré-candidatos satisfaz o perfil desejado.

No espírito de que a esperança é a última que morre, um grupo tenta emplacar a candidatur­a de Major Costa e Silva no PTB de Roberto Jefferson, novo aliado de primeira hora do presidente, ou até mesmo no Patriota. As chances de sucesso do oficial do Exército, porém, são baixas.

“Os pré-candidatos que tentam se apegar à imagem do presidente, na verdade, nunca foram alinhados a ele. Não temos nenhum candidato verdadeira­mente bolsonaris­ta”, afirma Costa e Silva, que prega conservado­rismo nos costumes e liberdade econômica.

O major, que concorreu a governador em 2018 pelo DC e recebeu 3,7% dos votos, diz que tem a simpatia de Jefferson, mas um racha no PTB impede sua candidatur­a. O deputado estadual Campos

Machado, cacique local da sigla, lançou à prefeitura o advogado Marcos da Costa, expresiden­te da OAB-SP.

Jefferson afirma que não deu aval à candidatur­a, que gostaria de lançar um candidato conservado­r e que resolveria a questão com Campos Machado. Procurado pela reportagem, não atendeu. Do lado de Marcos da Costa, a avaliação é que não haverá recuo em sua candidatur­a.

Outra via igualmente complicada é o Patriota. Aliados de Costa e Silva esperam que o partido desista de lançar Arthur do Val e realize prévias com o nome do major. A direção estadual da sigla, porém, nega a hipótese.

Em outra frente, há um esforço para emplacar Gil Diniz. O deputado —em um imbróglio jurídico com o PSL desde que o partido decidiu expulsálo, em julho— quer insistir na realização de prévias na legenda. Ele diz que pode se apresentar como postulante, mas o objetivo maior é derrubar a candidatur­a de Joice.

“Continuo no PSL até ser notificado [da expulsão]. Vou exigir as prévias, como está no estatuto. Se recusarem, vou exigir judicialme­nte”, diz ele, que admite a dificuldad­e de depender de uma decisão judicial favorável. “Com todos esses obstáculos, a possibilid­ade que eu saia é remotíssim­a.”

Para o presidente estadual do PSL, deputado federal Júnior Bozzella, não há possibilid­ade de reverter a expulsão nem realizar prévias. A candidatur­a de Joice, diz ele, está consolidad­a no partido.

Segundo Gil, a expulsão dele e de Douglas foi uma manobra do PSL para tirar da disputa dois candidatos fortes. O deputado diz que o episódio reforça a necessidad­e de debater a permissão para candidatur­as avulsas (sem filiação partidária, que hoje é obrigatóri­a).

“A militância quer um candidato que tenha a identidade bolsonaris­ta, defenda a pauta conservado­ra e tenha as bandeiras do presidente”, afirma Gil.

De acordo com o parlamenta­r, se não houver um candidato que agrade à militância fiel de Bolsonaro, o caminho mais provável é o do voto útil. “Os que nós temos aí são horríveis.”

O período de oficializa­ção das candidatur­as pelos partidos é de 31 de agosto a 16 de setembro, quando serão realizadas as convenções. Os partidário­s do presidente ainda esperam conseguir alguma legenda até esse prazo.

A legislação eleitoral, porém, exige que o candidato esteja filiado ao seu partido ao menos desde 4 de abril, o que também dificulta a vida dos bolsonaris­tas. Douglas Garcia, por exemplo, migrou para o PTB após ser expulso do PSL e poderia ser uma opção, mas em abril ainda pertencia à antiga legenda.

Por isso também Costa e Silva (tenente-coronel do Exército, embora seja conhecido como major) é visto como uma carta na manga. Por ser militar da ativa, ele não pode estar filiado enquanto exerce sua atividade.

Pode, no entanto, concorrer a cargo eletivo se tiver o nome aprovado por um partido na convenção. Com isso, ele não teria a limitação de ter de estar vinculado a uma sigla desde abril.

Com dificuldad­e de emplacar um candidato à prefeitura, os bolsonaris­tas garantiram legenda ao menos para concorrer a uma vaga na Câmara Municipal. Se não for candidato a prefeito, Costa e Silva já tem acordo com o Patriota para concorrer a vereador.

Presidente do Movimento Conservado­r, Edson Salomão também cogitou ser candidato a prefeito, mas encontrou portas fechadas nos partidos. Será candidato a vereador pelo PRTB.

Douglas Garcia, que também é membro do movimento, fala que a militância está “num verdadeiro beco sem saída” nas eleições em São Paulo.

“Eu, por exemplo, estou desesperad­o aqui. Não sei o que eu faço da vida com relação à prefeitura”, afirma o deputado. “Não tenho candidato a prefeito. A gente tentou lançar o Edson Salomão, nenhum partido quis dar a legenda. Está tão complicado que estamos sofrendo para ter um candidato no primeiro turno.”

“Os pré-candidatos que tentam se apegar à imagem do presidente, na verdade, nunca foram alinhados a ele. Não temos nenhum candidato verdadeira­mente bolsonaris­ta Major Costa e Silva partidário do presidente em busca de legenda para concorrer

“Os [pré-candidatos] que nós temos aí são horríveis Gil Diniz deputado estadual expulso do PSL

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Reprodução Facebook Ao centro, com camiseta de Bolsonaro em manifestaç­ão na Paulista, o Major Costa e Silva, que ainda tenta legenda para ser o candidato dos bolsonaris­tas à Prefeitura de São Paulo

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