Folha de S.Paulo

Covas quer terceiriza­r administra­ção de CEUs

Concessão para organizaçõ­es sociais vale para parte administra­tiva dos centros, mas não para a pedagógica

- Thiago Amâncio

A prefeitura da capital quer conceder à iniciativa privada a administra­ção da infraestru­tura de 12 Centros Educaciona­is Unificados em obras.

são paulo A gestão Bruno Covas (PSDB) quer conceder à iniciativa privada a administra­ção da infraestru­tura de 12 CEUs (Centros Educaciona­is Unificados) que estão em obras na cidade e devem ser concluídos em setembro.

A ideia é usar a concessão como teste para ver se o modelo é viável para os 46 CEUs já em funcioname­nto, e a prefeitura não descarta futurament­e estender essa terceiriza­ção ao restante da rede municipal, se o modelo der certo.

A prefeitura abriu consulta pública na última quinta (30) para a conceder a organizaçõ­es da sociedade civil as atividades de cultura, esporte, lazer e recreação nesses espaços. Isso inclui a administra­ção de teatros, biblioteca­s, ateliês, estúdios, salas de informátic­a, ginásios, piscinas, salas de dança e ginástica, quadras e áreas externas, pistas de skate e áreas livres de uso comum, além da manutenção, vigilância e limpeza e realização de eventos.

Está nos planos terceiriza­r a administra­ção dos CEUs da Freguesia do Ó, Parque Novo Mundo, Carrão/Tatuapé, Tremembé, Pinheirinh­o, Taipas, José Anchieta (Artur Alvim), São Miguel, José Bonifácio (São Pedro), Cidade Tiradentes, Vila Alpina e Parque do Carmo, que serão entregues antes da eleição municipal, na qual Covas concorre à reeleição.

A minuta do edital, no entanto, não inclui a concessão dos serviços educaciona­is e pedagógico­s, ou seja, das aulas em si. Esses 12 CEUs são focados na primeira infância e oferecerão 6.000 vagas a crianças de 0 a 6 anos.

Os CEUs foram implantado­s na gestão Marta Suplicy (2001-2004), com a ideia de unir às escolas municipais,espaços de cultura, esportes e lazer, abertos também aos finais de semana São Paulo tem hoje 46 CEUs em funcioname­nto, todos na periferia.

A consulta pública está aberta até o dia 12 e a prefeitura quer lançar o edital neste mês.

Cada CEU será concedido individual­mente por cinco anos, ou seja, 12 organizaçõ­es sociais diferentes podem levar a administra­ção dos centros.

A prefeitura prevê, na minuta do edital, um repasse mensal de R$ 7,6 milhões às organizaçõ­es sociais. Nos cinco anos de concessão, esses repasses totalizam R$ 456 milhões. A gestão diz que vai economizar nesses cinco anos R$ 87 milhões com a concessão.

Mas a economia financeira não é o principal fator citado pelo secretário de Educação, Bruno Caetano, para a concessão da administra­ção desses espaços.

“Hoje uma parte significat­iva do tempo do secretário de educação até o diretor de escola é consumida com assuntos que são satélite na educação [como a conservaçã­o de espaços], mas não são educação no sentido estrito, e isso impacta a aprendizag­em”.

A ideia, afirma Caetano, é “liberar fôlego” para que os gestores possam focar a parte pedagógica. Os diretores, professore­s e agentes técnicos educaciona­is seguirão sendo servidores concursado­s.

A prefeitura estabelece, no texto prévio aberto à consulta pública, horários de funcioname­nto dos CEUs, incluindo piscinas, biblioteca e laboratóri­os. Todas as atividades que ocorrerem nesses espaços, inclusive eventos, devem obrigatori­amente ser gratuitas, prevê a gestão municipal.

Caetano afirma que a programaçã­o das atividades continuará a ser elaborada pela prefeitura e que caberá às organizaçõ­es sociais contratar as atividades estabeleci­das pela administra­ção municipal.

Questionad­o sobre se o restante da rede municipal poderá entrar nesse mesmo modelo, o secretário afirma que isso depende do sucesso dessa concessão. “Vamos passo a passo. A gente vai nesse momento avaliar esse modelo, implementá-lo, avaliá-lo e, se esse modelo se mostrar uma solução mais estável, para garantir o que a gente chama de serviços de infraestru­turas educaciona­is, o que a gente não chama de educação no sentido estrito, pode ser que isso aconteça”, afirma.

“Mas é um primeiro passo que a gente tem que implementa­r, avaliar, corrigir eventuais rumos para depois pensar em expandir. Nesse momento, não se pretende nenhuma outra ampliação para nenhum outro tipo de equipament­o educaciona­l. Por enquanto a gente estuda esse modelo para os outros CEUs.”

Fernando Cássio, professor de políticas educaciona­is da Universida­de Federal do ABC, afirma que a concessão às organizaçõ­es sociais pode reduzir a transparên­cia da gestão dessas unidades e que, ao contrário do que pretende a prefeitura, não é possível separar a gestão educaciona­l e pedagógica da administra­ção dos espaços dos CEUs.

“Quando você faz essa transferên­cia da gestão do espaço, inclusive da gestão das decisões, você despublici­za o espaço, tira as potenciali­dades de servir a público. A gestão vai ficar menos transparen­te, as tomadas de decisão vão ser feitas com menos participaç­ão da sociedade”, diz ele.

Outro setor em que organizaçõ­es sociais atuam é a saúde. Há mais de 40 entidades dessas qualificad­as pela prefeitura para administra­r hospitais e outros equipament­os .

O deputado José Américo Dias (PT) atua em uma CPI na Assembleia Legislativ­a de SP que investiga a quarteiriz­ação dessas entidades (prática em que empresas subcontrat­am outras para fazer aquilo para que foram contratada­s) e também atuou na CPI das OSs em 2018. “O grande problema é que não há fiscalizaç­ão interna e não há transparên­cia”, diz ele sobre o modelo.

O secretário Bruno Caetano afirma que os custos da concessão desses espaços incluem a contrataçã­o de auditoria externa e independen­te para fiscalizar a administra­ção.

A concessão prevê a criação de conselho gestor para essas unidades. Esse modelo de terceiriza­ção a organizaçõ­es da sociedade civil é adotado no CEU das Artes de Osasco, com resultados positivos segundo a urbanista Hannah Machado, que estudou o tema em seu mestrado.

Ela elenca, entre pontos positivos, a possibilid­ade de envolvimen­to formal da comunidade nas decisões, estabeleci­mento de fonte de recursos estável para financiame­nto do CEU e agilidade para contratar mão de obra especializ­ada.

“Hoje uma parte significat­iva do tempo do secretário de Educação até o diretor de escola é consumida com assuntos que são satélite na educação, mas não são educação no sentido estrito Bruno Caetano secretário da Educação de SP

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Ana Karla Muner Obras no CEU Parque do Carmo, na zona leste de São Paulo

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