Folha de S.Paulo

Caso em aberto

Aclarar a relação entre o senador Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz é prioridade judicial e política

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Sobre declaraçõe­s do senador Flávio Bolsonaro.

Uma gíria acompanha as citações da família Bolsonaro a Fabrício Queiroz desde que o obscuro caso envolvendo o ex-assessor do clã eclodiu, há dois anos: rolo.

Queiroz, que por anos foi amigo e faz-tudo do ora presidente, sempre é definido como alguém que vive de rolos —ou transações heterodoxa­s, em bom português.

O termo foi recuperado pelo senador Flávio Bolsonaro (Republican­os-RJ), mais recente membro da família a abrigar Queiroz, numa sinecura parlamenta­r quando era deputado estadual.

Segundo o senador disse ao jornal O Globo, é possível que Queiroz tenha pago alguma conta pessoal sua. À explicação rala ainda acrescento­u, ao comentar os altos volumes em dinheiro vivo movimentad­os pelo ex-assessor: “Ele é um cara que tinha os rolos dele”.

A fragilidad­e de argumentos se repete no relato de que um policial militar havia pago um boleto seu porque estavam em um churrasco, a conta iria vencer e Flávio “não tinha aplicativo no telefone”.

É um imperativo judicial e político esclarecer as relações entre o senador, sua família e o cipoal de contatos em torno de Queiroz.

Primariame­nte, a suspeita recai no esquema das “rachadinha­s”, segundo o qual funcionári­os do gabinete estadual de Flávio tinham o dinheiro apropriado para lavagem, segundo o Ministério Público.

A análise da rede que cerca Queiroz trouxe à tona intersecçõ­es entre o gabinete e o mundo das milícias do Rio, seja por transações financeira­s ou pelo emprego de parentes de um dos suspeitos de envolvimen­to no assassinat­o da vereadora Marielle Franco (PSOL).

A entrevista também permite perceber a tática atual do clã para lograr seu objetivo estratégic­o, a manutenção de poder.

Nela, seguem ausentes os ataques ao Supremo e ao Congresso que marcaram os meses que antecedera­m a prisão de Queiroz. Flávio delineia a retórica de justificat­iva do novo arranjo político buscado por Jair Bolsonaro.

Ali, o procurador-geral Augusto Aras aparece como um herói legalista, a Lava Jato antes incensada é tisnada por seus membros, o chamado “gabinete do ódio” instalado no Planalto é algo legítimo, a cloroquina é apresentad­a como tratamento e até a “gripezinha” ganha uma explicação improvável.

Sublinhand­o tudo, o apoio agora republican­o encontrado em setores do centrão, antes a fonte de todos os males no ideário do presidente e seus seguidores. Como uma versão Barra da Tijuca dos Bourbons, os Bolsonaros não aprenderam nada e não esqueceram nada.

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