Folha de S.Paulo

Quadrilha

- Gabriela Prioli

são paulo Deltan era amigo de Sergio, que era inimigo de Luiz Inácio,

que era inimigo de Jair, que não amava ninguém (só a si mesmo e à própria família).

Luiz Inácio foi para Curitiba, Sergio, para Brasília. (Abraham foi para os Estados Unidos, com direito a jeitinho brasileiro, mas não podemos complicar — mais —a história).

A “nova política” morreu de desastre, a prisão em segunda instância ficou pra tia.

Sergio suicidou-se e Jair casou com A. Augusto Brandão de Aras, que não tinha entrado na história.

Na poesia do Brasil de hoje ainda faltaria uma segunda estrofe. Nela, Jair, Luiz Inácio, Augusto e o centrão, amedrontad­os com o fantasma de Sergio, parecem estar, momentanea­mente, de mãos dadas. Há quem se diga de fato surpreso, outros insistem no “eu digo isso há muito tempo”. Um deles parece cumprir o combinado. Os últimos podem estar cumprindo a promessa: estancar a sangria.

E há quem ainda duvide de que o

Brasil consiga encontrar consensos…

Mas atenção! A lógica binária que sustentou a operação Lava Jato ainda rende bons frutos. Como muito bem apontou Conrado Hübner Mendes na sua coluna desta semana (“‘Advocacia está em festa’ com Aras, Bolsonaro também”, 4/8), o aperto de mãos se escora num falso dilema: ou se é aliado da Lava Jato, ou se é aliado de Aras.

A promessa do procurador-geral da República, que anima os que há tempos bradam contra a operação e se sentiam menospreza­dos, esconde o risco da concentraç­ão de poder —ou alguém acredita que os neogaranti­stas defenderão com entusiasmo a anulação do que já foi feito, como a condenação do ex-presidente Lula, por exemplo?

Antes de fazer concessões, é preciso entender os versos dos corredores do Planalto, onde amor de verdade existe só por si mesmo.

Brasília, Brasília, vasta Brasília... A falta de métrica é tanta que nem o modernismo brasileiro poderia prever.

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