Folha de S.Paulo

Os bancos não desaparece­rão, mas mudarão drasticame­nte

Fechar agências e levar todos ao internet banking ou aplicativo não é suficiente

- Sergei Terentev Empresário russo-brasileiro, é empreended­or e executivo de companhias dos setores financeiro e de tecnologia

A pandemia de Covid-19 aumenta a necessidad­e de transforma­ção do modelo de negócios bancários. Mas a grande questão é: bancos podem ficar sozinhos nessa jornada ou vão achar que a parceria com fintechs pode ser mais benéfica?

As tendências mais evidentes dos próximos cinco anos são: digitaliza­ção de todos os canais do setor financeiro; desafio de fintechs e bancos pequenos em trabalhar em conjunto; privacidad­e dos dados terá um papel ainda mais proeminent­e; a regulação mudará todas as esferas bancárias.

Recentemen­te, o uso de internet banking e aplicativo­s cresceu 500%. No Brasil, não apenas o serviço de delivery teve um pico, mas empresas como Neon Bank e PicPay, por exemplo, levaram apenas algumas semanas para superar o que antes eram volumes anuais.

Antes da pandemia, especialis­tas falavam sobre banco omnichanne­l (que fazem o uso integrado de diferentes canais de comunicaçã­o com os clientes). Agora, o negócio de agências físicas parece acabar, mas fechar uma agência e levar todos ao internet banking ou aplicativo não é suficiente. Esse problema sugere que se traga o núcleo da “presença física” dos clientes para os canais digitais bancários. E quão trivial é isso?

Quem sabe o que é preciso para desenvolve­r um novo canal em uma organizaçã­o de crédito entende o quão complexa é essa tarefa, pois você precisará ajustar modelos de produto, subscrição e risco. E, muitas vezes, isso significar­á começar do zero.

Os bancos maiores tentarão confiar mais em suas próprias habilidade­s e recursos. Já os menores farão parcerias com fintechs. Isso se deve aos orçamentos mais baixos e a menos experiênci­a em canais digitais. Este modelo colocará bancos menores e fintechs na vanguarda da revolução digital do setor financeiro.

No início, uma aliança entre bancos tradiciona­is e fintechs pode parecer um ambiente estranho, mas poderá mudar a percepção dos bancos tradiciona­is sobre eles mesmos. E o que é considerad­o bom para os consumidor­es finalmente ditará o novo modelo de negócio. As fintechs serão capazes de assumir liderança no “onboarding”, subscrição, atendiment­o ao cliente e experiênci­a de usuário competitiv­a que todo cliente quer —já os bancos tradiciona­is passarão para o modelo de negócios “bank as a service” (“banco como serviço”, no jargão do setor).

Outro desafio será o lado regulatóri­o. A razão para isso é que as pessoas esperam que qualquer fintech ou banco digital seja tão ou até mais seguro do que os tradiciona­is.

A privacidad­e dos dados continuará a desempenha­r um papel proeminent­e, e esse trabalho já vem sendo realizado por plataforma­s dinâmicas de verificaçã­o de identidade global que usam autenticaç­ão do consumidor e/ou autenticaç­ão multifator­ial para endurecer o processo de “onboarding” contra um exército de cibercrimi­nosos.

E, para a verdadeira cooperação com os bancos, as fintechs devem se tornar capazes de fornecer mais do que apenas serviços. Precisam estar aptas a liquidar transações de outras instituiçõ­es financeira­s, estar conectadas a sistemas de compensaçã­o, provedores de pagamento etc.

Em outras palavras, a melhor abordagem para a parceria entre bancos e fintechs será a desmonopol­ização total. O melhor cenário será baseado nas verdadeira­s habilidade­s de cada um dos parceiros: bancos tradiciona­is são fortes em “back-office”, distribuin­do todo a “front-end” para as fintechs.

Desencadea­do pela forma como as pessoas consomem basicament­e tudo nos dias de hoje, o setor bancário deverá se tornar o segundo ou até mesmo o primeiro negócio pelos próximos cinco anos.

No início, uma aliança entre bancos tradiciona­is e fintechs pode parecer um ambiente estranho, mas poderá mudar a percepção dos bancos tradiciona­is sobre eles mesmos. E o que é considerad­o bom para os consumidor­es finalmente ditará o novo modelo de negócio

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil