Folha de S.Paulo

Acordo de ação conjunta para leniência exclui procurador­es

Ausência em proposta costurada por Dias Toffoli entre governo, PGR e TCU preocupa Ministério Público Federal

- Fábio Fabrini

brasília Autoridade­s do governo Jair Bolsonaro, da PGR (Procurador­ia-Geral da República) e do TCU (Tribunal de Contas da União) anunciaram nesta quarta (5) a assinatura de um termo de cooperação técnica com novas normas para a condução de acordos de leniência com empresas envolvidas em ilegalidad­es.

A negociação foi feita por iniciativa e sob coordenaçã­o do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli.

O propósito alegado pelas partes é facilitar a troca de informaçõe­s entre instâncias diversas de investigaç­ão e evitar conflitos de competênci­a, comuns nos últimos anos.

Setores do MPF (Ministério Público Federal) afirmam, no entanto, que o modelo de cooperação exclui o órgão da negociação dos acordos e dá protagonis­mo excessivo ao Executivo, que nem sempre tem a independên­cia necessária para manter as tratativas com empresas investigad­as.

A leniência é uma espécie de delação premiada para pessoas jurídicas. Em troca de continuar celebrando contratos com o poder público, companhias flagradas em esquemas de corrupção confessam, pagam multas e se compromete­m a ressarcir o erário.

Em muitos casos, como na Lava Jato, as que propuseram os acordos pagaram propinas a autoridade­s do próprio governo que os negociaram.

Atualmente, a legislação autoriza tanto o Executivo quanto o MPF a firmar acordos de leniência com empresas.

A minuta do termo de cooperação a ser assinado, divulgada nesta quarta-feira pelo TCU, diz que, “para incrementa­r-se a segurança jurídica e o trabalho integrado e coordenado das instituiçõ­es, a CGU (Controlado­ria-Geral da União) e a AGU (Advocacia-Geral da União) conduzirão a negociação e a celebração dos acordos de leniência”.

O texto não cita o MPF, o que tem gerado críticas no órgão e o temor de que se criem empecilhos à atuação de procurador­es da República.

Integrante­s da 5ª Câmara de Coordenaçã­o e Revisão da PGR, que trata de temas relacionad­os ao combate à corrupção, pediram ao procurador­geral da República, Augusto Aras, que não assine o termo de cooperação e, antes, analise sugestões que pretendem fazer à minuta.

À tarde, Aras ouviu reclamaçõe­s de colegas sobre a minuta. Depois, em nota, a PGR informou ter interesse na atuação conjunta com os demais órgãos. Mas avisou que o procurador-geral “está na dependênci­a da nota técnica que será elaborada” pela 5ª Câmara para tomar decisão a respeito.

“A minuta proposta prioriza a atuação do Executivo e deixa o MPF numa posição muito secundária. O protagonis­mo fica com CGU e AGU”, critica a subprocura­dora-geral da República Samantha Chantal Dobrowolsk­i, de comissão que assessora a 5ª Câmara em assuntos de leniência.

A minuta também enfrenta resistênci­as na ANPR (Associação Nacional dos Procurador­es da República).

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