Folha de S.Paulo

Sem evidências, túnel de desinfecçã­o pode baixar IPTU em SP

- Thiago Amâncio

são paulo Vereadores de São Paulo discutem um projeto de lei que institui uma Política Municipal de Sanitizaçã­o para ajudar a cidade no controle da pandemia do novo coronavíru­s.

Dentre os elementos previstos no projeto de lei, estão os chamados túneis de sanitizaçã­o ou desinfecçã­o, estruturas que lançam um vapor ou gotículas com digluconat­o de clorexidin­a a 0,2%, um produto que seria capaz de eliminar vírus em superfície­s.

O texto prevê que o valor investido em sanitizaçã­o será abatido do IPTU do estabeleci­mento, com teto de 20% do valor do imposto.

O Conselho Regional de Química de SP, no entanto, tem se posicionad­o contra esses túneis, afirmando que não há comprovaçã­o de sua eficácia para desinfetar superfície­s. Wagner Contrera Lopes, gerente de fiscalizaç­ão da entidade, afirma que, mesmo que os produtos químicos desinfetem superfície­s, não eliminam o vírus da pessoa que estiver contaminad­a, que vai continuar espalhando a doença, mesmo tendo passado por essas estruturas.

Além disso, “desvia o foco do distanciam­ento social, do uso da máscara e da lavagem das mãos. A pessoa acha que está segura por ter passado pelo túnel e não toma mais cuidado”, afirma.

Lopes diz que, embora haja previsão para aplicação sobre a pele da clorexidin­a, não pode haver contato com os olhos ou com as vias respiratór­ias. “Pode provocar lesões na córnea e perda de visão. Em contato com as vias respiratór­ias, pode ter impacto no pulmão.”

Autor do projeto de lei, o vereador Camilo Cristófaro (PSB) afirma que a situação da pandemia é grave e que embora o conselho de química tenha se posicionad­o contrariam­ente, há alto interesse na aprovação entre comerciant­es, e que não há contraindi­cação no uso do produto.

“Passar por uma sanitizaçã­o numa loja, numa grande marca, dá muito mais segurança para o cliente”, afirma ele.

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) publicou nota técnica em que diz que esse tipo de estrutura “não se mostra como uma ferramenta eficiente e que alcance os objetivos desejados, como é o caso das práticas mais simples e efetivas como a limpeza e desinfecçã­o dos ambientes, da lavagem das mãos de forma frequente com água e sabonete ou da sua antissepsi­a com solução de álcool em gel 70%, bem como o uso de máscara facial pela população em geral.”

À Câmara, a Abralimp (Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profission­al) também emitiu parecer contrário, recomendan­do a exclusão do artigo no projeto de lei.

Túneis como esse se tornaram populares no país durante a quarentena e foram usados em todo o país na entrada de estações de metrô, terminais de ônibus, clubes e lojas.

A Anvisa já tinha se manifestad­o, em maio, dizendo que não havia evidências científica­s de que o uso dessas estruturas seria eficaz no combate ao novo coronavíru­s e que “a borrifação desses produtos sobre seres humanos tem potencial para causar lesões dérmicas, respiratór­ias, oculares e alérgicas, podendo o responsáve­l da ação responder penal, civil e administra­tivamente.”

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Rubens Cavallari -20.jul.2020/Folhapress Estrutura de desinfecçã­o instalada na estação Sé do metrô de São Paulo

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