Procuradores da Lava Jato de SP pedem demissão
Decisão dos oito integrantes é resposta a conflito com procuradora no Ministério Público Federal
Os oito procuradores da Lava Jato em São Paulo pediram ontem para deixar seus cargos no grupo, em ofício à ProcuradoriaGeral da República. Eles citam “incompatibilidades insolúveis” com a procuradora Viviane de Oliveira Martinez, que não faz parte da força-tarefa.
Os oito procuradores da força-tarefa da Lava Jato em São Paulo pediram para deixar seus cargos no grupo em ofício apresentado à PGR (Procuradoria-Geral da República) nesta quarta-feira (2).
Trata-se de uma resposta a divergências com uma procuradora com quem compartilham a divisão do Ministério Público Federal em São Paulo responsável por casos da operação.
A decisão foi revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo.
A força-tarefa de São Paulo cuida de desdobramentos da operação enviados para o estado. Entre os casos, há, por exemplo, acusações relativas ao ex-operador do PSDB Paulo Preto.
Uma investigação sobre negócios de um filho do ex-presidente Lula (PT) também ficou com o grupo.
O pedido de demissão é mais um revés para a operação, que vive um embate nacional com a PGR e que, na terça (1º), perdeu em Curitiba o coordenador Deltan Dallagnol. Sob pressão, ele decidiu se afastar da força-tarefa local alegando questões familiares.
A carta de renúncia da equipe em São Paulo é assinada pela coordenadora da equipe, Janice Ascari, que assessorou anteriormente o ex-procurador-geral Rodrigo Janot, e outros seis integrantes.
Eles pedem querem que a saída não seja imediata e pedem um prazo, para as próximas semanas, para trabalhos de transição.
No ofício, falam em “incompatibilidades insolúveis” com a atuação da procuradora Viviane de Oliveira Martinez, que atua em São Paulo e não faz parte da força-tarefa.
Procurada, a direção do Ministério Público Federal não se manifestou até a conclusão desta edição.
Desde o ano passado, a Lava Jato vem sofrendo uma sequência de derrotas, incluindo revisão de julgamentos, retirada de casos sob sua responsabilidade e a decisão que barrou a prisão de condenados em segunda instância, como é o caso do próprio Lula.
As forças-tarefas também travam nos últimos meses embate com o procuradorgeral da República, Augusto Aras, que foi acusado por defensores da Lava Jato de tentar interferir nos trabalhos e esvaziar a operação.
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Dias Toffoli, chegou a determinar que os procuradores da Lava Jato enviassem à PGR todos os dados de investigações já colhidos pela operação. A ordem foi revogada por outro ministro, Edson Fachin.
Embora o embate de Aras seja mais forte com a equipe em Curitiba, ele se estende às demais. Um dos pontos de divergência foi a proposta da PGR de criação de um órgão na estrutura da Procuradoria-Geral batizada de Unac (Unidade Nacional de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado), ao qual as forçastarefas de casos de corrupção trabalhariam vinculadas.
O objetivo seria promover racionalização dos trabalhos.
Procuradores falam em um risco de excessiva centralização de poder. Outro ponto seria também a concentração de informações de inteligência em um órgão. O coordenador dessa unidade seria escolhido por Augusto Aras, a partir de uma lista tríplice elaborada pelo conselho do Ministério Público.
O pano de fundo é a desconfiança com que em geral procuradores veem Aras. Ele assumiu por indicação direta do presidente Jair Bolsonaro, sem ter disputado eleição interna da categoria, como seus antecessores.