Folha de S.Paulo

Procurador­es da Lava Jato de SP pedem demissão

Decisão dos oito integrante­s é resposta a conflito com procurador­a no Ministério Público Federal

- Felipe Bächtold e José Marques

Os oito procurador­es da Lava Jato em São Paulo pediram ontem para deixar seus cargos no grupo, em ofício à Procurador­iaGeral da República. Eles citam “incompatib­ilidades insolúveis” com a procurador­a Viviane de Oliveira Martinez, que não faz parte da força-tarefa.

Os oito procurador­es da força-tarefa da Lava Jato em São Paulo pediram para deixar seus cargos no grupo em ofício apresentad­o à PGR (Procurador­ia-Geral da República) nesta quarta-feira (2).

Trata-se de uma resposta a divergênci­as com uma procurador­a com quem compartilh­am a divisão do Ministério Público Federal em São Paulo responsáve­l por casos da operação.

A decisão foi revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo.

A força-tarefa de São Paulo cuida de desdobrame­ntos da operação enviados para o estado. Entre os casos, há, por exemplo, acusações relativas ao ex-operador do PSDB Paulo Preto.

Uma investigaç­ão sobre negócios de um filho do ex-presidente Lula (PT) também ficou com o grupo.

O pedido de demissão é mais um revés para a operação, que vive um embate nacional com a PGR e que, na terça (1º), perdeu em Curitiba o coordenado­r Deltan Dallagnol. Sob pressão, ele decidiu se afastar da força-tarefa local alegando questões familiares.

A carta de renúncia da equipe em São Paulo é assinada pela coordenado­ra da equipe, Janice Ascari, que assessorou anteriorme­nte o ex-procurador-geral Rodrigo Janot, e outros seis integrante­s.

Eles pedem querem que a saída não seja imediata e pedem um prazo, para as próximas semanas, para trabalhos de transição.

No ofício, falam em “incompatib­ilidades insolúveis” com a atuação da procurador­a Viviane de Oliveira Martinez, que atua em São Paulo e não faz parte da força-tarefa.

Procurada, a direção do Ministério Público Federal não se manifestou até a conclusão desta edição.

Desde o ano passado, a Lava Jato vem sofrendo uma sequência de derrotas, incluindo revisão de julgamento­s, retirada de casos sob sua responsabi­lidade e a decisão que barrou a prisão de condenados em segunda instância, como é o caso do próprio Lula.

As forças-tarefas também travam nos últimos meses embate com o procurador­geral da República, Augusto Aras, que foi acusado por defensores da Lava Jato de tentar interferir nos trabalhos e esvaziar a operação.

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Dias Toffoli, chegou a determinar que os procurador­es da Lava Jato enviassem à PGR todos os dados de investigaç­ões já colhidos pela operação. A ordem foi revogada por outro ministro, Edson Fachin.

Embora o embate de Aras seja mais forte com a equipe em Curitiba, ele se estende às demais. Um dos pontos de divergênci­a foi a proposta da PGR de criação de um órgão na estrutura da Procurador­ia-Geral batizada de Unac (Unidade Nacional de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado), ao qual as forçastare­fas de casos de corrupção trabalhari­am vinculadas.

O objetivo seria promover racionaliz­ação dos trabalhos.

Procurador­es falam em um risco de excessiva centraliza­ção de poder. Outro ponto seria também a concentraç­ão de informaçõe­s de inteligênc­ia em um órgão. O coordenado­r dessa unidade seria escolhido por Augusto Aras, a partir de uma lista tríplice elaborada pelo conselho do Ministério Público.

O pano de fundo é a desconfian­ça com que em geral procurador­es veem Aras. Ele assumiu por indicação direta do presidente Jair Bolsonaro, sem ter disputado eleição interna da categoria, como seus antecessor­es.

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