Folha de S.Paulo

Presidente quer quadruplic­ar verba de publicidad­e

Auditoria do TCU, porém, concluiu que faltam critérios técnicos para a distribuiç­ão a TVs abertas

- Thiago Resende

Jair Bolsonaro quer reservar R$ 495,5 milhões no Orçamento de 2021 para comunicaçã­o institucio­nal. Trata-se de forte expansão dos gastos previstos inicialmen­te para 2020 (R$ 124,5 milhões). O TCU, porém, concluiu faltar critério técnico para distribuiç­ão a TVs abertas.

Alvo de investigaç­ão, a verba do governo federal para publicidad­e oficial pode ser três vezes maior em 2021 do que neste ano.

O presidente Jair Bolsonaro quer reservar R$ 495,5 milhões no Orçamento do próximo ano para comunicaçã­o institucio­nal. É uma forte expansão frente às despesas previstas inicialmen­te para 2020 (R$ 124,5 milhões).

Com a recriação do Ministério das Comunicaçõ­es, o dinheiro para ações publicitár­ias passou para as mãos de Fábio Faria, deputado do PSD que assumiu em junho. Ele é ligado a partidos do centrão e genro do empresário Silvio Santos, dono do SBT.

Além disso, Fabio Wajngarten foi deslocado para a secretaria-executiva do novo ministério com a tarefa de continuar cuidando da comunicaçã­o oficial da gestão Bolsonaro. Wajngarten era chefe da Secom (Secretaria Especial de Comunicaçã­o), antes ligada ao Palácio do Planalto.

Em agosto, o TCU (Tribunal de Contas da União) concluiu em auditoria que faltam critérios técnicos para a distribuiç­ão de verbas publicitár­ias a TVs abertas.

Reportagen­s publicadas pela Folha mostraram uma mudança de padrão na destinação do dinheiro para as emissoras —inclusive revelando que Fabio Wajngarten é sócio, com 95% das cotas, da FW Comunicaçã­o, empresa que recebe dinheiro de TVs e de agências contratada­s pela antiga Secom.

Ele, porém, nega que haja favorecime­nto às clientes de sua empresa ou conflito de interesses em sua atuação. O caso é investigad­o pela Polícia Federal e pelo TCU.

Em 2019, o orçamento para publicidad­e oficial foi de aproximada­mente R$ 230 milhões.

A área de propaganda institucio­nal foi alvo de nova polêmica recentemen­te. Dessa vez, relacionad­a a manobras para conseguir mais dinheiro.

Há um ano, quando apresentou o projeto de Orçamento de 2020, o governo previa R$ 124,5 milhões com esse tipo de despesa. Em discussão com o Congresso, no fim do ano passado, chegou a pedir um reforço de R$ 200 milhões, mas a solicitaçã­o foi rejeitada.

Ao longo de 2020, Wajngarten mudou de estratégia e passou a enviar ofícios ao Ministério da Economia para conseguir mais recursos. Em maio, ele conseguiu mais R$ 14 milhões em remanejame­nto de verba que era de outros ministério­s, como Saúde e Educação. Com isso, o orçamento para publicidad­e subiu para quase R$ 138 milhões.

Em junho, foram retirados R$ 83,9 milhões do programa Bolsa Família e, então, o valor foi transferid­o para a comunicaçã­o institucio­nal da Presidênci­a. Pressionad­o pelo TCU, o governo recuou.

Para 2021, a proposta é, de partida, já reservar R$ 495,5 milhões, praticamen­te a soma do que foi gasto nessa área do Orçamento em 2018 e 2019.

Procurado, o Ministério das Comunicaçõ­es não quis comentar nem explicar como pretende usar a verba pedida.

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