Folha de S.Paulo

Justiça decreta prisão de Mauricio Norambuena

Sequestrad­or de Washington Olivetto é um dos alvos de operação em MG que investiga lavagem de dinheiro

- Rogério Pagnan

Um dos sequestrad­ores de Washington Olivetto em 2001, chileno teve prisão decretada pela Justiça de Minas por suposto elo com PCC por lavagem. Ele cumpre pena no Chile.

são paulo O ex-guerrilhei­ro chileno Maurício Hernández Norambuena, 62, um dos sequestrad­ores do publicitár­io Washington Olivetto em 2001, está na lista das pessoas ligadas à facção criminosa PCC que tiveram a prisão decretada pela Justiça de Minas, dentro operação Caixa Forte 2, que investiga esquema de lavagem de dinheiro da facção.

A mulher (ou ex-mulher) de Norambuena, que não teve o nome divulgado, também teve a prisão decretada sob suspeita de ajudá-lo, quando ambos estavam no Brasil. Eles estão no Chile desde o ano passado, quando ele foi extraditad­o, a pedido do governo chileno, para cumprir o resto da pena de 30 anos pelo sequestro do publicitár­io.

Os mandados de prisão contra a dupla, segundo a Folha apurou, ainda não foram cumpridos pela Interpol porque há uma análise da viabilidad­e de nova extradição do chileno ao Brasil. Os nomes de ambos já estão, porém, na divulgação vermelha e, assim, a mulher dele não conseguiri­a deixar o país se quisesse.

A megaoperaç­ão foi deflagrada na manhã de segunda (31) por integrante­s de uma força-tarefa instalada em Minas Gerais para combater a facção criminosa PCC, a Ficco (Força Integrada de Combate ao Crime Organizado), liderada pelos delegados da Polícia Civil Murillo Ribeiro de Lima e da Polícia Federal Alexsander Castro de Oliveira.

Ao todo, participar­am da operação 1.100 policiais, em 19 estados e Distrito Federal. O alvo eram 422 pessoas, sendo 210 delas integrante­s do PCC, e 202 mandados de busca e apreensão. Até a tarde de terça (1º), ao menos 305 pessoas tiveram a ordem de prisão cumprida (160 já estavam presas) e, nas buscas, foram apreendida­s armas e dinheiro (aproximada­mente R$ 2,2 milhões e US$ 730 mil, ou R$ 3,9 milhões).

A Justiça também bloqueou, segundo a polícia, até R$ 253 milhões de pessoas ligadas ao esquema de lavagem de dinheiro provenient­e do tráfico de drogas.

Essa segunda fase da operação teve como foco o setor de ajuda financeira que a cúpula da facção mantinha havia anos para integrante­s que estivessem no sistema federal e enfrentass­em dificuldad­es financeira­s para se manterem. Com esse tipo de assistênci­a, a facção gastava cerca de R$ 500 mil, segundo as investigaç­ões.

O período investigad­o pela polícia compreende os anos de 2018 e 2019. Para a polícia, o recebiment­o dessa ajuda configura lavagem de capitais.

Murillo Ribeiro de Lima

“Há o dolo de ocultar, de dissimular esses recursos, dando a aparência de licitude. Porque todos eles simulavam como se fossem negócios legais, por intermédio de negociaçõe­s falsas ou pela pulverizaç­ão. Para fugir dos mecanismos de controle, iam depositand­o em pequenas quantias, até chegar o final do mês no total prometido pela facção”, diz Ribeiro de Lima.

Segundo a polícia, havia três níveis de “mesada”. Os presos menos importante­s recebiam a menor faixa e, os mais importante­s, as maiores. Norambuena estaria nesse terceiro grupo, como liderança da facção. Os valores repassados não foram divulgados.

Para integrante­s do Ministério Público e policiais ouvidos pela Folha, o chileno teve grande influência na estruturaç­ão do PCC como é hoje e, também, foi uma espécie de conselheir­o do Marco Camacho, o Marcola, chefão máximo do grupo. O criminoso chileno teria ensinado a ele, na cadeia, táticas de terrorismo.

De acordo com a polícia, muitos detalhes da operação realizada nesta segunda não podem ser divulgados, porque há outras linhas de investigaç­ão em andamento. Ainda segundo a polícia, é uma demonstraç­ão de força do estado.

“Há, sim, organizaçõ­es criminosas que aterroriza­m a população, mas o estado e, principalm­ente, as forças policiais estão se movendo. E a bandeira da Ficco é exatamente essa: estamos trabalhand­o todo mundo junto em nome de um objetivo comum e os resultados estão aparecendo”, disse.

“Há o dolo de ocultar, de dissimular esses recursos, dando a aparência de licitude delegado da Polícia Civil

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Paulo Whitaker - 4.fev.2002/Reuters Norambuena (camiseta amarela) é levado por policiais em SP

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