Folha de S.Paulo

Efeito placebo

- Bruno Boghossian

brasília Jair Bolsonaro foi à porta do Palácio da Alvorada na terça (1°) e anunciou que finalmente apresentar­ia uma proposta com novas regras para o serviço público. A ideia era acalmar investidor­es que estavam em pânico com o caminhão desgoverna­do pilotado por ele. Faltou dizer, no entanto, que aquele remédio para a ansiedade era só placebo.

O projeto de reforma administra­tiva que chegará ao Congresso nesta quinta (3) será mais brando do que queria a equipe econômica. As novidades valerão apenas para futuros servidores, o que já era esperado, mas a proposta também não deve mexer agora com os salários ou a estabilida­de desses funcionári­os.

Essas eram ideias centrais no gabinete de Paulo Guedes, mas o ministro foi obrigado a dar um passo atrás. Se ainda havia dúvidas, a desidrataç­ão precoce provou que o novo consórcio entre Bolsonaro e os parlamenta­res do centrão passou a dar as cartas também nessa área.

O governo ainda não quis estabelece­r as regras mais sensíveis do plano e resolveu mandar ao Congresso apenas parâmetros gerais. Para que as normas tenham efeito e façam diferença nas contas públicas, como queria Guedes, ainda seria necessário aprovar uma outra lei.

O fatiamento vai exigir uma base parlamenta­r coesa, algo que o governo ainda não demonstrou ter. O caminho tende a ser mais acidentado por se tratar de um tema que os deputados preferem evitar, já que o funcionali­smo é uma ferramenta de poder em suas bases eleitorais. Além disso, a ideia de acabar com a estabilida­de enfrenta resistênci­as porque abre caminho para perseguiçõ­es políticas no serviço público.

O próprio Bolsonaro, que fez carreira como uma espécie de líder sindical de militares, brigou contra a reforma por quase um ano. Em novembro, ele disse que a proposta do governo seria “a mais suave possível” e mandou o projeto original de Guedes para a gaveta. Agora, o presidente até fez um aceno ao fiador de sua política econômica, mas deu a palavra final. Mais suave impossível.

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