Folha de S.Paulo

Contra estupidez não há vacina

- Mariliz Pereira Jorge

rio de janeiro A estupidez do movimento antivacina ganhou a chancela presidenci­al. Sabe-se lá que estrago pode provocar a declaração feita por Jair Bolsonaro sobre uma possível imunização contra o novo coronavíru­s. “Ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina”, disse.

Na sequência, veio a Secom (Secretaria de Comunicaçã­o) confirmar que não está nos planos do governo “impor obrigações”. Do presidente à sua equipe, é muita gente desinforma­da. Ou mentirosa. Ou irresponsá­vel. Provavelme­nte tudo isso. Vacinação é uma das medidas compulsóri­as que podem ser adotadas no combate à Covid-19, prevista em lei assinada por Bolsonaro.

É possível que ele desconheça que há vacinas obrigatóri­as na infância e que o descumprim­ento pode penalizar os responsáve­is, inclusive com prisão. Mas sabemos que negacionis­tas estão aí desde sempre. A onda mais recente vem desde 1998, depois que um artigo publicado —e depois rejeitado— pela revista The

Lancet relacionou a tríplice viral ao autismo. Um desastre.

Sei de pessoas, aqui e acolá, inclusive conhecidos, que devem se achar o próprio alecrim dourado e resolveram não vacinar os filhos pelos “riscos”. É gente culta, preocupada com a desigualda­de, PhD em namastê, que só come orgânico, recicla e compra na livraria do bairro, mas acha que vacina só no rabo dos outros.

Além desses que não acreditam na segurança da profilaxia, uma pesquisa da Universida­de de Pittsburgh (EUA) identifico­u mais três grupos. Os que desconfiam da ciência, aqueles que adoram tratamento­s alternativ­os e os que compram teorias conspirató­rias, incluindo a de que a gravidade da pandemia é falsa.

Bolsonaro alimenta a insensatez até de quem se opõe ao seu governo mas desdenha desse tipo de prevenção. Ele se mostra de novo o pior líder diante da crise. O mundo inteiro quer uma vacina contra o coronavíru­s. Mas mais difícil do que essa só uma para a estupidez do presidente.

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