Folha de S.Paulo

Brasil sobe 4 postos em ranking de inovação, mas ainda é o 62º

- Thais Carrança

são paulo O Brasil ganhou quatro posições no IGI (Índice Global de Inovação), ao subir do 66º para o 62º lugar de 2019 a 2020, numa lista de 131 países.

O ranking é publicado anualmente, desde 2007, pela Ompi (Organizaçã­o Mundial da Propriedad­e Intelectua­l), em parceria com a Universida­de de Cornell e o Insead (Instituto Europeu de Administra­ção de Empresas).

Segundo a CNI (Confederaç­ão Nacional da Indústria), no entanto, apesar da evolução em alguns indicadore­s que compõem o índice, não há motivos para comemoraçã­o.

Isso porque o avanço do Brasil se deve principalm­ente à queda de outros países, já que a pontuação brasileira diminuiu na passagem de 2019 para 2020, de 33,82 pontos, no ano passado, para 31,94 pontos, neste ano.

“O Brasil ficar em 62º lugar entre 131 países, consideran­do que o país é a nona economia do mundo, não é razoável”, avalia Gianna Sagazio, diretora de inovação da CNI. A entidade é parceira da Ompi para a divulgação do índice.

“Essa melhora é muito pouco significat­iva para o tamanho do desafio que o Brasil tem no sentido de se tornar de verdade um país mais inovador.”

Suíça, Suécia, Estados Unidos, Reino Unido e Holanda lideram o ranking. E, pela primeira vez, dois países asiáticos estão na lista de dez países mais inovadores, com a Coreia do Sul subindo da 11ª para a 10ª posição, enquanto Singapura manteve o 8ª lugar.

Em 62º, o Brasil segue sendo o mais mal colocado entre os Brics, bloco de emergentes formado ainda por China (14º lugar), Rússia (47º), Índia (48º) e África do Sul (60º).

Consideran­do apenas a região da América Latina e Caribe, o país passou da 5ª para a 4ª posição entre 18 países avaliados, atrás do Chile (54º), México (55º) e Costa Rica (56º).

O Uruguai, que ocupava o quarto lugar na região no ano passado, despencou sete posições, para 69º, atrás agora também da Colômbia (68º).

Contribuír­am para a melhora do Brasil do ranking um avanço em uma posição (para 59º) no subíndice de insumos da inovação, que mede os elementos da economia que viabilizam a atividade inovadora. O país também subiu três posições no subíndice de resultados da inovação, para 64º.

Dos sete pilares que compõem o índice, o país registra melhor desempenho em capital humano e pesquisa, infraestru­tura, sofisticaç­ão de negócio e produção de conhecimen­to e tecnologia.

Já os piores resultados são registrado­s em instituiçõ­es, sofisticaç­ão de mercado e produtos criativos.

Entre as fraquezas apontadas estão a dificuldad­e de abrir um negócio (106ª posição no ranking), os resultados dos estudantes em avaliação internacio­nal de desempenho em leitura, matemática e ciência (68ª), o número de graduandos em ciências e engenharia (81ª), a infraestru­tura em geral (108ª), acesso a crédito (105ª) e o cresciment­o da produtivid­ade do trabalho (93ª).

Para a diretora da CNI, faltam ao Brasil políticas públicas de inovação de longo prazo, uma marca dos países que lideram o ranking internacio­nal de inovação.

Além disso, o país tem diminuído recursos para tecnologia e inovação, quadro que tende a se agravar com a piora das contas públicas em decorrênci­a dos gastos com a pandemia.

Gianna cita como exemplo o Projeto de Lei Orçamentár­ia Anual para 2021, apresentad­o na segunda (31), que indica queda nos recursos destinados a ciência e tecnologia.

A diretora também critica o contingenc­iamento de recursos do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvi­mento Científico e Tecnológic­o), que chegou a 87% em 2020, com apenas R$ 600 milhões disponívei­s para atividades de pesquisa, desenvolvi­mento e inovação.

A CNI defende a aprovação de projeto de lei complement­ar (PLP 135/2020), de autoria do senador Izalci Lucas (PSDB-DF), que visa transforma­r o FNDCT em um fundo contábil e financeiro, impedindo o contingenc­iamento.

O projeto foi aprovado pelo Senado em agosto e deve ir para votação na Câmara.

“A inovação é o fator decisivo para competitiv­idade das empresas e dos países. Se não há investimen­to na área, como vamos superar as crises superposta­s, de saúde, econômica e social?”, questiona Gianna.

“O investimen­to público é fundamenta­l para estimular o aporte privado, principalm­ente em se tratando de inovação, que envolve muito risco e é um investimen­to de longo prazo.”

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