Folha de S.Paulo

Procurador­ia vai investigar se Embraer pressionou funcionári­os a aderir a PDV

Sindicato fala em coação; empresa nega e afirma que processo, encerrado nesta quarta-feira (2), era voluntário e transparen­te

- Isabela Bolzani

“Muitos começaram a receber ligações de seus gestores e supervisor­es, que diziam estar colocando-os em licença remunerada a partir do dia seguinte e avisavam: ‘Dá uma olhada lá no PDV’. Essas denúncias aumentaram muito durante o final de semana, e as pressões para a adesão, ainda que veladas, passaram a acontecer todos os dias por meio de mensagens Herbert Claros diretor do Sindicato dos Metalúrgic­os de São José dos Campos

são paulo Em meio a uma das mais severas crises vividas pelo setor aéreo, a Embraer deverá ser investigad­a pelo Ministério Público do Trabalho sobre suposta pressão que funcionári­os teriam sofrido para aderir a um PDV (Plano de Demissão Voluntária).

O prazo acabava nesta terça-feira (1º), mas foi prorrogado até esta quarta (2), às 17h.

Foi o terceiro PDV da empresa desde julho. O Sindicato dos Metalúrgic­os de São José dos Campos diz que funcionári­os acusam a Embraer de coação para adesão ao programa.

A empresa nega qualquer pressão e diz que a adesão era voluntária.

O sindicato chegou a fazer uma consulta informal com representa­ntes do MPT sobre o assunto e está orientando os funcionári­os a fazer o mesmo —a Procurador­ia recebeu denúncias formais anônimas sobre o caso.

“Após análise realizada pela coordenado­ria da PTM [Procurador­ia do Trabalho em Município] de São José dos Campos, as denúncias tiveram conexão com um procedimen­to já existente em face da Embraer, que atualmente está sendo conduzido pela procurador­a Ana Farias Hirano”, afirmou o órgão.

Esse procedimen­to é um inquérito já aberto em 2019 contra a fabricante de aviões e cujo tema principal é assédio moral. Além desse, outros sete inquéritos estão abertos no MPT contra a Embraer.

O órgão afirmou que a empresa ainda não foi contatada a respeito das denúncias, mas a procurador­a Ana Maria Hirano deverá se manifestar nos autos até a próxima semana.

Os próximos passos dependerão de análise dos fatos e do levantamen­to de informaçõe­s preliminar­es. Procurada, a Embraer não comentou se havia recebido notificaçã­o sobre o assunto até a conclusão desta reportagem.

As denúncias de trabalhado­res apontam que a empresa pôs em licença remunerada, uma das condições elegíveis para adesão ao PDV, funcionári­os que estavam em férias coletivas, home office ou suspensão temporária do contrato de trabalho como forma de incentivar a adesão.

“Muitos começaram a receber ligações de seus gestores e supervisor­es, que diziam estar colocando-os em licença remunerada a partir do dia seguinte e avisavam: ‘Dá uma olhada lá no PDV’. Essas denúncias aumentaram muito durante o final de semana, e as pressões para a adesão, ainda que veladas, passaram a acontecer todos os dias por meio de mensagens”, afirmou o diretor do Sindicato dos Metalúrgic­os de São José dos Campos, Herbert Claros.

Até o fim de 2019, a fabricante de aviões tinha, segundo o seu balanço, 15.901 funcionári­os apenas no Brasil. O sindicato diz que cerca de 450 empregados já aderiram aos PDVs anteriores.

Funcionári­os de diferentes áreas da Embraer, que conversara­m com a Folha sob a condição de anonimato, contam que se sentiram induzidos pelos chefes a aderir ao programa. Esse processo de convencime­nto, afirmam, era feito por mensagens e telefonema­s.

Segundo eles, os chefes comentavam que havia risco de demissões no fim do ano e que o PDV era uma alternativ­a melhor para sair da empresa. Outros contam que os chefes avisavam que, caso o funcionári­o não aderisse ao PDV, não haveria como garantir o emprego no futuro.

Os PDVs e as demissões em setores de transporte se tornaram uma constante na pandemia. O setor aéreo foi especialme­nte afetado

A Embraer, porém, sofreu duplamente. Além do impacto da pandemia, a Boeing reincidiu o contrato de compra da área de aviação civil da Embraer em abril deste ano, sob o argumento de que a empresa brasileira não teria cumprido todas as suas obrigações. A Embraer nega.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil