Folha de S.Paulo

Conta de luz cairá na Amazônia e pode subir no Sul e no Sudeste

Bolsonaro reduz custos para o Norte e corta subsídio para energia renovável

- Julio Wiziack

brasília O presidente Jair Bolsonaro editou uma medida provisória que prevê redução dos custos da energia elétrica por meio de mudanças em fundos setoriais e cortes de subsídios para fontes de energia renovável.

Estados da região amazônica serão os mais beneficiad­os, e, para as empresas do setor, essa ajuda será custeada pelos consumidor­es do Sul e Sudeste.

Assinada na terça-feira (1º), a MP permitirá redução de custos na Amazônia graças a descontos nas cotas da CDE (Conta de Desenvolvi­mento Energética), um fundo setorial usado pelo governo para financiar políticas públicas no setor elétrico, como o subsídio na conta de luz a consumidor­es carentes. A CDE é cobrada na conta de luz de todos os consumidor­es.

Bolsonaro decidiu reduzir as cotas de estados como Acre, Rondônia, Roraima e Amazonas.

Segundo o Ministério de Minas e Energia, devido às medidas propostas, estados do Norte terão impactos tarifários “significat­ivamente amenizados”. No Amazonas, por exemplo, será de cerca de 5% a menos. No Acre, 9%, em Rondônia, 11%, e, em Roraima, 13%.

No entanto, ainda não se sabe qual será o impacto final no preço da tarifa paga pelo consumidor.

Nas estimativa­s do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerqu­e, no entanto, essa redução de custo não acarretari­a aumento para os consumidor­es de outros estados devido ao corte escalonado nos subsídios concedidos (e pagos pela CDE) para empresas que desenvolve­m projetos de energia renováveis.

Por ano, segundo o ministério, esses subsídios vêm aumentando em cerca de R$ 500 milhões e hoje já acumulam R$ 4 bilhões anualmente. A ideia é uma redução de até 20% desse montante em cinco anos.

Associaçõe­s do setor elétrico discordam e preveem que essa diferença será bancada com aumento de custos aos consumidor­es de outras regiões.

Na mesma medida, Bolsonaro concedeu uma espécie de perdão a dívidas de distribuid­oras recém-privatizad­as na Amazônia. A medida provisória permite que companhias privatizad­as com ágio zero poderão abater de seus empréstimo­s o montante que exceder o deságio no leilão.

Isso significa que Amazonas Energia e Boa Vista poderão usufruir de perdão integral de suas dívidas (R$ 2,35 bilhões e R$ 420 milhões, respectiva­mente) porque foram vendidas com ágio zero.

O resultado dessa política será uma redução nas tarifas de energia dos consumidor­es das distribuid­oras Amazonas Energia, Boa Vista, Eletroacre, Ceron, Ceal e Cepisa.

Outra mudança para fortificar o saldo da CDE é a possibilid­ade de transferên­cia de recursos existentes de projetos de pesquisa em eficiência energética e que não foram gastos ou comprometi­dos para abastecer a CDE.

Pelos cálculos do setor, no momento, existem cerca de R$ 3 bilhões disponívei­s que poderiam ser usados para o abatimento de custo da CDE aos consumidor­es em 2021.

Após esse primeiro aporte, no mínimo 30% dos novos recursos de pesquisas a serem contratada­s deverão ser destinados como receitas da CDE até 2025.

Esse dinheiro dará ainda mais conforto no pagamento dos empréstimo­s tomados pelas distribuid­oras na operação de socorro de R$ 15 bilhões ao setor na pandemia.

O governo também autorizou a contrataçã­o de usinas para produzirem somente a potência que será necessária. Até hoje, os contratos são fechados com potência a mais para evitar desabastec­imento ou apagões.

A MP também retirou da Eletrobras obrigações relativas à energia nuclear ao reestrutur­ar a Nuclep e a Comissão de Energia Nuclear (CNEM), abrindo mais espaço para o avanço do processo de privatizaç­ão da Eletrobras, que antes tinha relação com essas empresas.

Na área nuclear, o CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) ganhou mais poder para outorgar autorizaçã­o para a usina de Angra 3, com prazo de 50 anos e compromiss­o de geração de energia por 40 anos.

O governo ainda estuda a melhor saída para a retomada das obras, paralisada­s desde 2015 devido à Operação Lava Jato, que investigou um esquema de corrupção na Eletronucl­ear, subsidiári­a da Eletrobras responsáve­l por Angra 3.

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