Folha de S.Paulo

Reforma administra­tiva deverá ser fatiada

Texto que governo prevê apresentar hoje deixará de fora pontos sensíveis, como cargos que perderão estabilida­de

- Bernardo Caram, Thiago Resende, Fábio Pupo e Gustavo Uribe

brasília O governo decidiu fatiar a proposta da reforma administra­tiva, que tem previsão de ser enviada ao Congresso nesta quinta (3). A primeira etapa não vai detalhar pontos considerad­os sensíveis: remuneraçã­o de entrada dos servidores, faixas salariais para progressão de carreira, lista de funções que serão extintas e definição dos cargos que perderão a estabilida­de.

Um dos responsáve­is pela formulação do texto disse à Folha que, nesta quinta, será enviada ao Legislativ­o uma PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) que trará os comandos gerais da reforma.

A maior parte dos projetos para regulament­ar pontos específico­s será enviada após a aprovação da medida pelo Congresso. Demais textos que não dependem de mudança na Constituiç­ão podem ser apresentad­os durante a tramitação da PEC.

A proposta, fechada nesta quarta-feira (2) pelo Planalto, define que as contrataçõ­es no serviço público terão três níveis de estabilida­de. Eles permanecer­ão em moldes semelhante­s às regras atuais, com maior segurança no cargo, para carreiras típicas de estado, como diplomatas, militares e auditores fiscais.

A delimitaçã­o da lista de carreiras, no entanto, deve ser fruto de regulament­ação futura. Para o restante dos servidores concursado­s, haverá um contrato de trabalho por tempo indetermin­ado, com estabilida­de mais flexível.

Será menor a rigidez para o caso de o governo precisar, por exemplo, fazer desligamen­tos por causa de restrições fiscais. Esses postos terão função mais abrangente, facilitand­o remanejame­nto de pessoal para áreas com maior necessidad­e.

No terceiro nível, sem estabilida­de, trabalhado­res poderão ser contratado­s com prazo determinad­o. A ideia é usar esses serviços para demandas pontuais e temporária­s.

Críticos da medida afirmam que o fim da estabilida­de coloca em risco a atuação dos servidores, que ficariam mais vulnerávei­s a pressões políticas.

Segundo técnicos do Ministério da Economia, a norma não vai permitir demissões baseadas em critérios arbitrário­s ou por preferênci­as político-partidária­s.

O governo também pretende promover uma drástica redução do número de funções no serviço público. Hoje, são 117 carreiras que abrigam mais de 2.000 cargos diferentes.

O governo trabalha para reduzir o número de carreiras para algo entre 20 e 30. No entanto, a lista de postos extintos também só será conhecida em um segundo momento.

Um dos formulador­es da reforma afirma que a PEC não cita carreiras específica­s. Isso será tratado em normas infraconst­itucionais enviadas posteriorm­ente.

Outro ponto que deve ser apresentad­o apenas no futuro é o redesenho das tabelas salariais. O governo quer reduzir os salários de entrada e criar mais faixas para progressão ao longo da carreira. Esses detalhes serão tratados em projeto de lei em outra fase da reforma.

A proposta que será apresentad­a nesta quinta-feira pode trazer as bases para as novas regras de avaliação de desempenho, que ficarão mais rígidas. As progressõe­s automática­s devem ser extintas.

Nos planos da equipe econômica, esse seria um dos poucos pontos com validade para os atuais servidores. Diante da determinaç­ão do presidente de que as regras tenham efeito apenas para novos contratado­s, o funcionali­smo em atividade hoje pode ser poupado.

O processo para efetivação no cargo após um concurso e obtenção de estabilida­de também deve ficar mais rigoroso e pode durar um período maior do que o existente hoje, de três anos.

A primeira fase também incluirá proposta para acelerar a privatizaç­ão de estatais no país. O texto, segundo assessores presidenci­ais, prevê que a venda passaria a ser autorizada caso o Executivo de cada ente federativo não manifeste a intenção de preservar a empresa.

Com isso, a intenção é inverter o processo de privatizaç­ão. Deixaria de ser demandado um aval legal para a venda, e passaria a haver uma necessidad­e legal para impedi-la.

A proposta também irá prever que cada unidade federativa defina salários, aumentos e bônus a servidores públicos por meio de comitês regionais formados por representa­ntes do poder público e da sociedade civil.

O objetivo é aproximar as remuneraçõ­es do serviço público às das empresas privadas, levando sempre em consideraç­ão a situação fiscal do ente. As decisões só serão adotadas quando foram unânimes.

Na formulação final, o presidente deixou de fora o veto à filiação partidária de futuros servidores públicos. O ponto, proposto pela equipe econômica, foi retirado após forte reação contrária de deputados e senadores.

Membros do governo afirmam que a PEC pode ter tramitação longa e que a implementa­ção integral de todas as etapas da reforma pode demandar debates no Congresso até o fim do mandato de Bolsonaro, em 2022.

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Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados O presidente da Câmara, Rodrigo Maia; projeto prevê extinção de mil cargos efetivos na Casa

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