Minoria de médicos espalha desinformação pelo mundo na pandemia
agência lupa Enquanto milhões de médicos em todo o mundo lutavam contra a Covid-19 e suas consequências, alguns poucos emprestavam o prestígio da profissão para dar credibilidade a notícias falsas sobre a pandemia.
Do início do ano ao fim de agosto, 125 conteúdos desinformativos envolvendo médicos foram verificados, segundo as bases de dados Coronavirus Facts Alliance e Corona Verificado. Essas peças circularam em 42 países, com destaque para Índia (18), Brasil (15) e Espanha (10).
O caso mais conhecido foi o do grupo norte-americano Médicos da Linha de Frente da América, que em 27 de junho gravou um vídeo em frente à Suprema Corte dos EUA fazendo falsas alegações sobre a hidroxicloroquina.
O conteúdo, impulsionado pelo presidente Donald Trump e pela cantora Madonna, foi retirado das redes sociais por conter desinformação sobre a pandemia. Estudos clínicos randomizados e duplo-cegos comprovaram que o remédio não é eficaz parat ratara Covid-19 e não serve como profilático.
Esse tipo de movimento não ocorreu somente nos EUA. Na Espanha, um grupo de profissionais chamados Medicos Por La Verdad questionou a utilidade dos testes PCR, das vacinas para a Covid-19 e do isolamento social. Também indicou ou soda hidroxicloroquina como tratamento. Checadores colombianos, espanhóis e mexicanos classificaram as declarações como falsas.
Médicos também foram responsáveis individualmente por peças desinformativas. Na Argentina ena Colômbia, dois profissionais diferentes recomendaram, em vídeos, a inalação de água quente para combater o vírus. O colombiano também prescreveu beber água alcalina. Nada disso serve como tratamento para o novo coronavírus.
No Brasil, um vídeo que mostrava um profissional da saúde fazendo recomendações sobre ivermectina viralizou. Na gravação ele diz que, na África, o remédio está sendo distribuí dopara a população eque, por isso, a pandemia estava contro ladano continente. Todas as informações eram falsas.
Em nota, o Conselho Federal de Medicina (CFM) disse que recomenda aos médicos que usem as redes sociais “dentro dos limites estabelecidos pelo Código de Ética Médica”. “Ou seja, com ou sode informações validadas cientificamente e no intuito de promovera adoção de comportamentos e hábitos saudáveis”, afirma.
A entidade informou também que “ainda não existem evidências robustas de alta qualidade que possibilitem a indicação de uma terapia farmacológica específica para a Covid-19”. O CFM reforçou que, em situações em que o médico descumpra estes parâmetros, queixas podem ser apresentadas ao Conselho Regional de Medicina do estado onde ele atua.
Outra situação comum foi o compartilhamento de falsas declarações de médicos conhecidos. Na República Democrática do Congo, por exemplo, circulou que JeanJacques Muyembe-Tamfum, um dos responsáveis pela descoberta do vírus ebola em 1976, teria dito que a “pele negra é tão eficiente que não pode ser infectada pelo coronavírus”. Ele nunca disse isso.
Outro médico congolês famoso, o vencedor do Prêmio Nobel da Paz Denis Mukwenge, foi alvo de desinformação em vários países, incluindo o Brasil. No WhatsApp, circulou uma mensagem dizendo que Mukwe ng e abandonou a coordenação de força-tarefa para o combate à Covid-19 no país após descobrir que a pandemia era uma “farsa”.
Em seu Twitter, o médico confirmou ter deixado uma equipe de combate à pandemia, mas por causa de dificuldades na implantação de políticas contra a doença.
Já um texto falsamente atribuído ao japonês Tasuku Honjo, vencedor do Prêmio Nobel de Medicina em 2018, viralizou nos EUA, na Suécia, na Índia, na Costa Rica, no Brasil e em outros locais, e foi desmentido por 36 plataformas de checagem.
No texto, uma pessoa que se apresenta como Honjo diz que trabalhou em um laboratório em Wuhan, na China, e que sabia que o Sars-CoV-2 estava sendo desenvolvido lá. Em nota no site da Universidade de Kyoto, no Japão, onde de fato trabalha, o médico negou todas as informações.