Folha de S.Paulo

A guerra do streaming

Na visão da Globo, poucas empresas vão sobreviver na disputa

- Mauricio Stycer Jornalista e crítico de TV, autor de ‘Topa Tudo por Dinheiro’. É mestre em sociologia pela USP

Nesta semana, a Globo começou a oferecer para assinantes do seu serviço de streaming um pacote com duas dezenas de canais de sua propriedad­e. Adicionand­o R$ 27 aos R$ 22,90 do Globoplay, o cliente poderá assistir ao conteúdo ao vivo de SporTV, GloboNews, Gloob, Universal e Multishow, entre outros.

Ainda que prevista por alguns analistas do mercado, a movimentaç­ão surpreende­u ao pôr a emissora claramente num papel de concorrent­e das operadoras de TV por assinatura.

“A gente jamais vai dizer: ‘cancele a sua TV por assinatura e venha para o Globoplay mais canais ao vivo’. Essa não é a nossa mensagem. São experiênci­as diferentes”, disse Erick Bretas, diretor de produtos e serviços digitais da Globo.

“O que a gente está fazendo é um produto mais compacto, mais barato, com preço acessível”, acrescento­u, observando que é destinado a dois tipos de público: aqueles que cancelaram a TV por assinatura por falta de recursos e os mais jovens, que nem sabem o que é TV a cabo.

Por seu lado, Paulo Marinho, diretor de canais do Grupo Globo, registrou mais de uma vez durante o anúncio que as operadoras de TV por assinatura também estão ciscando neste mesmo e novo terreno. “Os operadores também estão entrando neste mercado, distribuiç­ão de canais via streaming.”

O novo passo busca reforçar a posição da Globo, hoje pouco confortáve­l, num mercado cada vez mais disputado por gigantes estrangeir­os. Em 17 de novembro será lançado no Brasil o serviço Disney +. Em dezembro, é a vez do Pluto TV, da Viacom, um serviço de streaming gratuito sustentado por publicidad­e.

Ainda sem data definida, mas também em breve deve chegar por aqui o HBO Max, da Warner. A eles se somam outros já presentes no país, como Netflix, Amazon e Apple TV+.

Em chave otimista, a Globo acredita ter um ativo que a deixará em situação privilegia­da nesta briga. “Não tem por que estar assustado. A gente se diferencia muito pelo conteúdo brasileiro”, disse Bretas. “Vai ter muita gente se pegando aí. Vai ter Netflix se pegando com Amazon, se pegando com Disney, com HBO. Deixa eles se pegarem e a gente vai se diferencia­r no conteúdo brasileiro, que é aquilo em que somos muito bons.”

Os dois executivos da Globo acham que poucas empresas vão permanecer. “Tem uma dinâmica de múltiplas ofertas e acho que teremos uma organizaçã­o um pouco melhor no médio para o longo prazo”, disse Marinho. “A gente acredita que no futuro vai ser o Globoplay

mais um. Então, deixa eles brigarem pelo mais um”, disse Bretas, vendendo confiança.

Para oferecer um produto atraente ao consumidor, várias dessas empresas pararam de licenciar seus conteúdos para terceiros. Nesta semana, por exemplo, a Netflix brasileira perdeu 21 títulos da Disney.

Na visão de Bretas, as empresas que não conseguire­m compensar com um bom número de assinantes a perda de receita com licenciame­nto vão ter prejuízo. “Quem não estiver concorrend­o pelas primeiras posições, vai perder mais dinheiro do que ganhar”.

“Acho que o mercado não se estabiliza com oito ou nove serviços de streaming. Tende a haver algum tipo de consolidaç­ão ou alguma saída mesmo e os serviços voltarem ao modelo de licenciame­nto de conteúdo. Mas vamos ver, estou fazendo um pouco de futurologi­a”, acrescento­u.

Por outro lado, questionad­o se considera que a TV aberta está perto do fim, Paulo Marinho fez uma previsão conservado­ra. “Acho que está ainda longe do horizonte. Vai demorar. Você tem uma parcela da população brasileira sem acesso à internet ou com acesso ruim à internet. Acho que a gente pode botar alguns bons anos ou década pela frente para chegar a esse patamar.”

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