Folha de S.Paulo

A pedido de Flávio, Globo é proibida de exibir documentos

Filho do presidente é alvo de investigaç­ão do Ministério Público do Rio sobre ‘rachadinha­s’

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A pedido do senador Flávio Bolsonaro (Republican­os-RJ), a Justiça do Rio expediu liminar proibindo a TV Globo de exibir documentos sigilosos de investigaç­ões sobre ele. O filho do presidente é alvo de apuração do MP do estado por suspeita de liderar “rachadinha”.

são paulo A pedido da defesa do senador Flávio Bolsonaro (Republican­os-RJ), a Justiça do Rio expediu liminar nesta sexta (4) proibindo a TV Globo de exibir em suas reportagen­s documentos sigilosos de investigaç­ões sobre o filho do presidente Jair Bolsonaro.

A decisão, sigilosa, é da juíza de primeira instância Cristina Feijó. A TV Globo ainda não se pronunciou a respeito.

Flávio é suspeito de liderar um esquema de “rachadinha” em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativ­a do Rio, onde foi deputado até 2019.

Em publicação em rede social na noite desta sexta, o senador comemorou a decisão e deu parabéns à sua defesa. Seu advogado, Rodrigo Roca, não vai se manifestar a respeito.

“Acabo de ganhar liminar impedindo a #globolixo de publicar qualquer documento do meu procedimen­to sigiloso. Não tenho nada a esconder e expliquei tudo nos autos, mas as narrativas que parte da imprensa inventa para desgatar minha imagem e a do Presidente são criminosas.”

Flávio publicou uma imagem com o logo da TV Globo em uma lixeira e escreveu: “Juíza entendeu que isso é altamente lesivo à minha defesa. Querer atribuir a mim conduta ilícita, sem o devido processo legal configura ofensa passível, inclusive, de reparação.”

Em nota, a ANJ (Associação Nacional de Jornais) afirmou que “qualquer tipo de censura é terminante­mente vedada pela Constituiç­ão e, além de atentar contra a liberdade de imprensa, cerceia o direito da sociedade de ser livremente informada”.

“Isso é ainda mais grave quando se tratam de informaçõe­s de evidente interesse público”, declarou a ANJ.

Marcelo Träsel, presidente da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigat­ivo), considera “qualquer tipo de censura prévia inaceitáve­l numa democracia, sobretudo quando o alvo da cobertura jornalísti­ca é uma pessoa pública cujo mandato foi outorgado pelo voto”.

“Quem perde são os eleitores do Rio e todos os cidadãos, que terão dificuldad­es para acompanhar o andamento das investigaç­ões contra o filho do presidente e avaliar se as autoridade­s estão cumprindo seus deveres”, disse.

Nesta semana, o Gaecc (Grupo de Atuação Especializ­ada no Combate à Corrupção), do Ministério Público Estadual do Rio, concluiu as investigaç­ões, também sigilosas, sobre o filho do presidente e encaminhou o caso para o procurador-geral de Justiça do Rio, Eduardo Gussem.

Em agosto, reportagen­s da Folha e da revista Crusoé mostraram que a quebra do sigilo bancário de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio, revelou 27 repasses dele e da mulher,

Márcia Aguiar, para a atual primeira-dama, Michelle.

Esses cheques somaram R$ 89 mil, pagos de 2011 a 2016.

Os possíveis crimes apontados pelo MP do Rio a Flávio e Queiroz são peculato, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e organizaçã­o criminosa. Ainda não há, porém, uma denúncia protocolad­a.

Em junho, o Tribunal de Justiça do Rio concedeu foro especial ao senador, o que tirou o caso das mãos do juiz de primeira instância Flávio Itabaiana, que havia mandado prender Queiroz.

No dia 17 de agosto, Gussem, determinou em ofício a abertura de apuração de eventuais responsáve­is pelo “fornecimen­to das informaçõe­s divulgadas na imprensa sobre o caso das ‘rachadinha­s’”.

A defesa do senador já recorreu ao Conselho Nacional do Ministério Público questionan­do a divulgação de informaçõe­s sigilosas da investigaç­ão.

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