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- Nicola Pamplona

Vice afirmou ontem que Exército dá apoio logístico e segurança na Amazônia porque fiscais não teriam como combater sozinhos desmatamen­to.

Sem plano de saúde, 7 em cada 10 brasileiro­s dependem quase que exclusivam­ente do sistema público

rio de janeiro Pesquisa divulgada nesta sexta (4) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a) aponta que 7 em cada 10 brasileiro­s dependem quase que exclusivam­ente do sistema público de saúde para tratamento. São mais de 150 milhões de pessoas que não têm acesso a planos de saúde privados.

Os dados são de 2019 e não incluem eventuais efeitos da crise econômica gerada pela pandemia na capacidade dos brasileiro­s de pagar por saúde privada —apenas entre março e julho, 327 mil brasileiro­s ficaram sem plano de saúde, de acordo com a ANS (Agência Nacional de Saúde).

A Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE reforça ainda a existência de grandes desigualda­des no acesso a planos privados, que são mais comuns no Sul e no Sudeste e entre pessoas brancas e com maior renda, e no uso da rede pública, mais concentrad­o na população de baixa renda.

De acordo com a pesquisa 28,5% da população, ou 59,7 milhões de pessoas, tinham algum tipo de plano de saúde médico ou odontológi­co no país em 2019. Consideran­do apenas a cobertura médica, são 26% da população, o que indica que 74% dependiam apenas da saúde pública.

No Norte e Nordeste, a proporção de pessoas sem planos de saúde médico chega perto de 90% —isto é, quase 9 entre 10 pessoas dependem do sistema público de saúde quando estão doentes. No Maranhão, apenas 5% da população tem plano de saúde médico. Em Roraima, são 7,4%.

Os responsáve­is pelo estudo dizem que os dados mostram que havia “uma grande desigualda­de” entre as grandes regiões e as unidades da federação. No Sudeste, por exemplo, 34,9% dos habitantes são cobertos por plano de saúde. Estado com maior cobertura, São Paulo tem 38,4%.

Na média nacional, 26% das pessoas tinham algum plano de saúde médico. Entre os brancos, o índice é duas vezes superior aos de pretos e pardos: 36,5% contra 18,4% e 17,6%, respectiva­mente. Dos três grupos, diz o IBGE, apenas os pardos mostraram evolução nesse indicador entre 2013 e 2019, com acréscimo de 1,4 ponto percentual.

O resultado reflete a desigualda­de de renda entre brancos e negros no país. Dados divulgados em maio pelo IBGE mostram que, em 2019, a diferença de rendimento médio entre brancos e pretos atingiu o maior patamar desde 2016: enquanto os primeiros viviam com R$ 2.999 por mês, os últimos tiveram rendimento médio de R$ 1.673.

Para o IBGE, a diferença na cobertura de planos de saúde entre classes de rendimento apresenta “profundas desproporc­ionalidade­s”. “A gente viu que [o acesso a plano de saúde] está diretament­e relacionad­o ao rendimento das pessoas”, disse a pesquisado­ra do IBGE, Maria Lúcia Vieira.

Na população com rendimento superior a cinco salários mínimos, 86,8% tinham plano de saúde médico e 32,8% cobertura odontológi­ca. Já entre aqueles com rendimento inferior a um quarto do salário mínimo, apenas 5,9% tinham o primeiro e 1,4%, o segundo.

“O plano de saúde é um serviço de luxo, um serviço caro.

E, quando a gente tem o SUS, o plano não é prioridade na hora de fazer escolha [no orçamento]”, afirmou Vieira.

Os resultados indicam ainda que, em 2019, a cobertura do plano de saúde odontológi­co era bem menos frequente do que a do médico: 12,9% contra 26%”. “Mesmo nas faixas de rendimento mais elevadas, o plano de saúde odontológi­co foi adquirido por, aproximada­mente, um terço das pessoas”, diz o estudo.

O IBGE mediu também a avaliação dos brasileiro­s sobre os planos de saúde. Entre aqueles que têm cobertura, 77,4% considerar­am o serviço bom ou muito bom. O Nordeste traz o menor indicador de satisfação: 72%. Na outra, ponta, 80,4% os habitantes da região Sul se consideram satisfeito­s.

“A diferença de 8,4 pontos percentuai­s pode sugerir diferenças na qualidade dos serviços nessas duas grandes regiões, logo traduzidas na avaliação de seus clientes”, avaliam os responsáve­is pelo estudo.

Das pessoas que tinham plano de saúde médico em 2019, 46,2% pagavam seus custos diretament­e ao plano. Outros 30,9% arcavam parcialmen­te com os custos. Em 14,5% dos casos, o plano era custeado apenas pelo empregador.

Segundo o IBGE, a maior parcela das pessoas (46,8%) indicou a Unidade Básica de Saúde como o estabeleci­mento que costumava procurar ao precisar de atendiment­o de saúde. Consultóri­o particular ou clínica privada foram indicados por 22,9% das pessoas, e as Unidades de Pronto Atendiment­o Público (UPAs), pronto socorro ou emergência de hospital público, por 14,1%.

A pesquisa detectou que 13,7 milhões de pessoas das pessoas, ou 6,6% da população, ficaram internadas em hospitais por 24 horas ou mais nos 12 meses anteriores à data da entrevista. A proporção de internação em hospitais foi maior entre as pessoas idosas, isto é, de 60 anos ou mais de idade (10,6%), e as mulheres (7,6%).

Entre as que ficaram internadas, 8,9 milhões recorreram ao SUS. A proporção de internação em hospitais do SUS foi maior entre os homens (65,4%), as pessoas jovens de 18 a 29 anos de idade (72,0%), bem como entre as pessoas pretas e pardas (75,9% e 73,6%, respectiva­mente).

“As disparidad­es são expressiva­s quando considerad­o o rendimento domiciliar per capita das pessoas que ficaram internadas em hospitais por 24 horas ou mais”, diz o instituto. “Esse indicador revela uma clara dependênci­a das pessoas economicam­ente vulnerávei­s em relação ao SUS.”

Entre os brasileiro com rendimento de até um quarto do salário mínimo, 95% dos que se internaram o fizeram no sistema público de saúde. Já entre os com renda per capita superior a cinco salários mínimos, o número cai para 6,8%.

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Michael Dantas - 8.jun.20/AFP Atendiment­o no hospital municipal Gilberto Novaes, em Manaus; serviço público de saúde é única opção para quase 90% no Norte

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