Folha de S.Paulo

Não Nova lei não vai garantir a retomada do cresciment­o

Sem projeto de infraestru­tura robusto, governo ignora as limitações logísticas

- Carlos Zarattini Economista formado pela USP, é deputado federal (PT-SP) e líder da minoria no Congresso

O Brasil tem grandes reservas de gás natural e produção suficiente para atender todo o mercado nacional. Entretanto, importamos gás liquefeito da Bolívia e de outros países porque não temos estrutura de escoamento nas plataforma­s e gasodutos para transporte, especialme­nte no interior do país. Hoje, quase 50% da nossa produção em poços de exploração do pré-sal é reinjetada no subsolo. Ou seja, a produção nacional é descartada por falta de infraestru­tura de escoamento sem gerar arrecadaçã­o e royalties.

Todo mundo sabe que a exploração do gás natural tanto no sistema offshore (alto-mar nas camadas do pré-sal) como onshore (exploração em terra) é importante para o desenvolvi­mento econômico do Brasil e pode gerar emprego e renda. Mas seguimos importando gás e desperdiça­ndo uma riqueza extraordin­ária por falta de uma política nacional de desenvolvi­mento.

Na contramão das necessidad­es do setor de gás, o desgoverno Bolsonaro privatizou a nossa já escassa rede de gasodutos (só falta um gasoduto ser vendido) e agora aprovou na Câmara dos Deputados a falaciosa “Nova Lei do Gás” como solução para os problemas. A proposta que tramita no Congresso prevê o fim do monopólio das distribuid­oras de gás nos estados e joga para a iniciativa privada a infraestru­tura de transporte. Porém, até hoje, só quem investiu na construção de gasodutos foi a Petrobras, ou seja, investimen­to estatal. Com dimensões continenta­is, o Brasil tem apenas 9.400 km de dutos, enquanto a Argentina, por exemplo, tem 16 mil km.

Desde que assumiu como ministro da Economia, Paulo Guedes repete o mantra de que a iniciativa privada iria assumir as obras de infraestru­tura no Brasil, onde, sob a gestão de um ultraliber­al, os investimen­tos jorrariam. Mas a verdade é que o governo até agora foi incapaz de atrair o setor privado.

Concessões seguem paradas diante da incapacida­de do governo de articular e promover propostas atraentes, fora a crise política constante, que afugenta os investidor­es. Então, por que agora Guedes vai conseguir a façanha de garantir que empresas façam investimen­tos milionário­s no sistema de gás sem qualquer garantia de retorno e de lucro?

Guedes ignora a importânci­a dos gasodutos e ainda apresenta mais uma das suas ideias mirabolant­es sem qualquer estudo técnico sério: transporta­r o gás pelas ferrovias e caminhões. Mais uma vez o ministro se enche de discurso vazio.

Para garantir apoio no Congresso, o governo comerciali­za a ideia de que a nova legislação vai gerar R$ 60 bilhões em investimen­tos, quatro milhões de empregos, gás mais barato para a indústria e botijão a preço melhor para o consumidor final. Mas tudo isso é conversa mole.

A verdade é que a Lei do Gás não responde como será solucionad­o o problema de falta de gasoduto de transporte e a ausência de estrutura de escoamento nas plataforma­s; e não traz, também, uma política de desenvolvi­mento no médio e longo prazo para o setor. A proposta apenas vende a falsa sensação de que uma nova legislação vai garantir retomada do cresciment­o e investimen­tos privados. Mas não existe no projeto nenhuma política pública que incentive a universali­zação do gás.

Esse é mais um discurso mentiroso da dupla Guedes e Bolsonaro e que precisa ser combatido. A Lei do Gás é mais do mesmo e não resolve nenhum dos problemas do setor. Só com um projeto de infraestru­tura robusto seremos capazes de colocar fim às limitações logísticas e usufruir dessa riqueza nacional tão abundante.

A verdade é que a Lei do Gás não responde como será solucionad­o o problema de falta de gasoduto de transporte e a ausência de estrutura de escoamento nas plataforma­s; e não traz, também, uma política de desenvolvi­mento no médio e longo prazo para o setor

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