Faltam pernas a Ibama e ICMBio, diz Mourão
Vice-presidente afirma que desmatamento é só ‘ruído’ para acordo com UE e que Exército é apoio para órgãos ambientais
brasília O vice-presidente Hamilton Mourão disse nesta sexta (4) que as Forças Armadas não assumiram a função de combate aos crimes ambientais na região da Amazônia Legal e apenas foram empregadas porque “faltam pernas” para os órgãos ambientais.
Mourão também minimizou o desmatamento e as queimadas como obstáculo no acordo de livre comércio com a União Europeia, alegando que se trata de apenas “mais um ruído”.
“O Exército não assumiu nada, não”, disse Mourão, também presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, durante evento virtual do jornal O Estado de S. Paulo.
“O papel que as Forças Armadas têm feito é de um apoio logístico e de segurança ao trabalho do Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] e do ICMBio [Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade], exatamente porque essas duas instituições não têm pernas para cumprir sua tarefa na Amazônia”, afirmou.
O vice-presidente atribuiu a situação atual de déficit de pessoal desses dois órgãos às aposentadorias dos servidores e aos momentos de aperto fiscal dos últimos anos.
Mourão também voltou a reconhecer que o governo federal demorou a atuar no combate ao desmatamento e às queimadas na região da Amazônia Legal. Afirmou que o principal erro da gestão Bolsonaro foi ter encerrado a participação das Forças Armadas após o término da Operação Verde Brasil 1, no fim do primeiro semestre de 2019.
“[No] ano passado, quando terminamos a operação Verde Brasil 1, de combate às queimadas, nós deveríamos ter permanecido no terreno já com aquela força constituída para de imediato entrar de cabeça no combate ao desmatamento. Não fizemos isso, fomos entrar tarde, já com o óbice maior da pandemia”, disse.
O vice-presidente da República afirma que as ações atuais visam os locais que concentram 80% dos crimes ambientais e que não seria possível cobrir toda as atividades ilegais. Mourão repetiu a expressão usada recentemente de que detectar todos os crimes ambientais seria como “achar agulha no palheiro”.
Questionado por um espectador se o Brasil exploraria a Amazônia com os Estados Unidos, por causa de trecho do documentário “O Fórum” em que o presidente Jair Bolsonaro manifesta essa intenção em conversa com o ex-vice-presidente americano Al Gore, Mourão relativizou, afirmando que se tratava do primeiro evento internacional de Jair Bolsonaro e uma “tentativa de conversa”.
“Não tem essa questão de explorar a Amazônia com os Estados Unidos”, afirmou. “O presidente deixou muito claro, toda e qualquer empresa pertencente a países democráticos que desejam fazer investimento na Amazônia dentro da nossa legislação será bem-vinda”, completou.
Apesar de agosto ter sido o segundo mês com mais registros de focos de queimada da última década, o vicepresidente afirmou que pretende se reunir em breve com os representantes da Noruega e da Alemanha para apresentar dados da Operação Verde Brasil 2 e o planejamento do Conselho da Amazônia, com o objetivo de tentar descongelar os investimentos desses dois países.
Em relação à negociação do acordo de livre comércio com a União Europeia, Mourão minimizou a importância do desmatamento, muito criticado pelos europeus. Disse se tratar de apenas “mais um ruído”.
“Esse acordo foi costurado por 20 anos, necessita ser submetido para a ratificação aos parlamentos dos diferentes países. Nós estamos atravessando uma crise mundial, que já vinha e foi exacerbada pela questão da pandemia, os nossos próprios parceiros aqui no Mercosul estão sofrendo. Então tem uma série de ruído nisso aí tudo”, disse o vice-presidente.
“E mais um ruído é a questão da Amazônia, que salta aos olhos dentro daquela questão política de se buscar explorar todo e qualquer aspecto negativo em relação ao presidente Bolsonaro”, completou.
Mourão disse que a questão ambiental, incluindo a preservação da Amazônia, não tem ideologia e que a meta do atual governo é encerrar o mandato com registros de desmatamentos “abaixo da média” ou nos “mínimos históricos” —pelos índices atuais, isso ainda é algo longe de ocorrer.
O vice-presidente também reclamou do uso da questão para criticar o trabalho do governo federal.
“Um tema como a Amazônia, onde prospera a ilegalidade do desmatamento, queimada e garimpo, é usado por três grupos: um grupo é esse grupo político, vamos dizer assim; outro grupo é aqueles que se sentem ameaçados pela pujança do agronegócio brasileiro; e um terceiro grupo, que eu chamo dos bolsões sinceros, porém radicais, que são os ambientalistas da ala mais radical.”
Em relação ao monitoramento da Amazônia, o vicepresidente afirmou que o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) realiza um trabalho “excepcional”, mas, ao mesmo tempo, disse faltar o uso de inteligência artificial, comparando a situação com seus tempos de tenente do Exército, quando analisava fotos aéreas usando equipamentos antigos.
“[No] ano passado, quando terminamos a Operação Verde Brasil 1, de combate às queimadas, nós deveríamos ter permanecido no terreno para entrar de cabeça no combate ao desmatamento Hamilton Mourão vice-presidente da República