Folha de S.Paulo

Insatisfei­to com PGR, procurador deixa operação Greenfield

- Fábio Fabrini

brasília Principal responsáve­l pela força-tarefa Greenfield, grupo de investigad­ores que apura desvios em bancos e fundos de pensão, o procurador da República Anselmo Lopes comunicou nesta sexta-feira (4) que se afastará de suas funções na equipe.

Em carta, disse que a decisão se deve à falta de apoio da gestão do procurador-geral Augusto Aras, que não renovou a permanênci­a de alguns integrante­s do grupo com dedicação exclusiva.

Lopes é o procurador natural da Greenfield, ou seja, aquele que iniciou os trabalhos e que, por lei, não podia ser removido do posto.

Ele também celebrou acordo de leniência de R$ 11 bilhões com a JBS e atuou era operações como Patmos, Sépsis e Cui Bono, que revelaram supostos esquemas de corrução para favorecer o chamado “quadrilhão do MDB”.

A força-tarefa, baseada na Procurador­ia da República do Distrito Federal, é responsáve­l atualmente por 48 ações penais e 27 de improbidad­e administra­tiva.

Na carta, enviada a colegas do MPF (Ministério Público Federal), Lopes afirma que, apesar da imensa quantidade de informaçõe­s ainda a serem apuradas, sua equipe enfrenta um cenário de grave deficiênci­a estrutural e dificuldad­es junto à Procurador­iaGeral da República.

Procurada nesta sexta, a PGR ainda não se pronunciou.

Lopes afirma que já se calculou a necessidad­e de 15 investigad­ores exclusivos para conseguir fazer frente, “com celeridade”, às metas de atuação da força-tarefa. “Porém nunca chegamos a superar o número de cinco procurador­es exclusivos (apesar de sempre termos contado com colaborado­res eventuais que nos auxiliavam em casos pontuais)”, escreveu.

Desde outubro de 2019, diz ele, foi solicitada sucessivas vezes a prorrogaçã­o da força-tarefa até 31 de dezembro de 2020. Em três vezes distintas, diz o procurador, a cúpula da PGR garantiu prazos curtos de existência, com datas esticadas só até 30 de junho.

No último dia do prazo previsto, a gestão Aras autorizou a continuida­de dos trabalhos, mas revogou a desoneraçã­o e a lotação provisória de dois membros da equipe. Eles deixaram de atuar exclusivam­ente na Greenfield, passando a responder por casos diversos, sem relação com a força-tarefa. Com isso, somente Lopes ficou como exclusivo.

“Concluídos esses quatro anos de operações, creio que devo encerrar minha participaç­ão na Greenfield. Entre meus motivos para tal decisão, além do desejo de realmente dar mais atenção a assuntos e relações familiares, pesou bastante minha insatisfaç­ão com a insuficiên­cia de dotação de uma estrutura adequada de trabalho à forçataref­a”, escreveu.

“De fato, a atuação da Greenfield restou bastante prejudicad­a pela recente decisão da Procurador­ia-Geral da República de não mais prorrogar a desoneraçã­o dos colegas Sara Moreira e Leandro Musa, deixando-me como único membro exclusivo”, completou.

Esse é mais um dos embates frequentes com forças-tarefas de grandes casos de corrupção, a exemplo das responsáve­is pela Lava Jato. Como procurador-geral, cabe a ele renovar a continuida­de e autorizar a cessão de profission­ais para reforçar esses grupos.

Nos próximos dias, deve tomar decisão sobre a estrutura da Lava Jato em Curitiba.

Lopes afirmou na carta que a Greenfield é “um universo” de casos “que envolve cifras bilionária­s”, “não sendo possível que um só procurador da República se dedique com exclusivid­ade a esse complexo investigat­ivo”.

“Por maior que seja o espírito público e a vontade de lutar pela Justiça, permanecer como único membro de dedicação exclusiva à força-tarefa pareceu-me inaceitáve­l.”

Com a saída de Lopes, o procurador-natural da Greenfield passa a ser Drewes —mas ele está atualmente liberado de investigaç­ões, pois é o chefe da Procurador­ia no DF.

Nesta sexta, a Greenfield divulgou um balanço de sua atuação. O plano de ação tem hoje 188 metas, das quais 78 foram anunciadas como cumpridas.

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