Folha de S.Paulo

Argentino perdeu batalha contra o clube, mas já ganhou a guerra

- Alex Sabino

são paulo Ao enviar um documento ao Barcelona e manifestar o seu desejo de sair do clube, Lionel Messi tentou tomar as rédeas do próprio destino. Dez dias depois, o atacante se viu obrigado a mudar de ideia e anunciou que ficará no clube espanhol por mais uma temporada.

A diretoria catalã argumentou que o prazo da cláusula contratual que o permitiria trocar de equipe de graça havia expirado. Para negociá-lo, seria necessário o pagamento da multa rescisória de 700 milhões de euros (R$ 4,3 bilhões). O argentino aceitou dar um passo atrás e evitar uma disputa judicial, mas a partir de agora o tempo é seu aliado dentro e fora de campo.

“Há um treinador novo e uma ideia nova. Isso é bom, mas depois tem de ver como responde a equipe e se nós vamos competir ou não. O que eu posso dizer é que fico e vou dar o máximo”, disse ele em entrevista ao portal Goal.

Ao prometer ser o mesmo de sempre e culpar a diretoria pela falta de planejamen­to, ele coloca a faca no peito do presidente Josep Maria Bartomeu e do técnico Ronald Koeman, recém-chegado.

Quando fala em projeto, Lionel Messi, 33, não se refere a médio ou longo prazo. Não se trata de renovar o elenco para ser campeão europeu daqui a três anos. Ele quer vencer agora. Em suas declaraçõe­s calculadas (o que não significa serem falsas), o jogador diz todas as coisas certas.

Ele ama o Barcelona, se sentiu magoado ao ver seu barcelonis­mo questionad­o, nunca viu dinheiro como problema e vai dar o máximo pela camisa blaugrana pelos 10 meses que restam do seu contrato. O atleta se coloca como torcedor, não como o maior jogador da história da equipe. Se der errado, a culpa não será sua e ninguém poderá reclamar se vontade de sair persistir.

Longe das quatro linhas, a bola também está com Messi. Ele pode influir de forma decisiva na próxima eleição presidenci­al do time, em março.

Não precisa fazer campanha para ninguém. Se ficar em silêncio, inabalável no desejo de sair, todos vão apontar o dedo para Bartomeu.

Com seu salário de 100 milhões de euros (R$ 624,5 milhões na cotação atual) garantidos, a partir de janeiro, poderá assinar um pré-contrato com qualquer clube, sem o Barcelona ter direito a nada.

Caso o desfecho seja esse, ninguém poderá dizer que o camisa 10 abandonou o time no meio do acordo.

E sempre existe a possibilid­ade de dar certo. Se o Barcelona ganhar tudo e Messi renovar mais uma vez o seu vínculo, dessa vez para encerrar a carreira no “clube de sua vida”, como disse ao anunciar a sua permanênci­a, a constataçã­o seria que ele esteve certo desde o início em suas demandas e reclamaçõe­s.

Pode até parecer que Messi perdeu a batalha nesta sexta. Mas a guerra ele já ganhou.

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