Folha de S.Paulo

É cuidando das pessoas que vamos despoluir o rio Pinheiros

Coleta de esgoto nos 25 afluentes provoca impacto direto em bairros carentes

- Benedito Braga Presidente da Sabesp e presidente honorário do Conselho Mundial da Água

Dona Antônia nos conta que hoje, ao cozinhar, consegue sentir o cheiro dos alimentos, coisa que não acontecia antes. Ela mora numa área invadida ao lado do córrego Zavuvus, na zona sul da capital paulista, e recentemen­te sua casa e milhares de outras vizinhas receberam ligações de esgoto no programa Novo Rio Pinheiros. O cheiro do esgoto que caía no córrego era o responsáve­l por encobrir o odor da comida.

Mas o que uma área informal a quase dez quilômetro­s do Pinheiros tem a ver com a despoluiçã­o do rio? A casa da Dona Antônia é uma entre mais de 500 mil da bacia Pinheiros que não tinha o esgoto levado para tratamento. O esgoto, mais o lixo e o assoreamen­to, são as principais causas do cheiro ruim e da aparência degradada do Pinheiros.

Para cumprir a meta de reintegrar o rio à cidade de São Paulo até 2022, começamos o trabalho pela infraestru­tura de coleta de esgoto nos 25 afluentes que chegam a ele. O Zavuvus foi o primeiro a receber obras no programa, que já beneficiou mais de 80 mil pessoas. Ao mesmo tempo, as condições do córrego melhoraram muito em função da supressão da carga de matéria orgânica que era antes despejada nele.

Pessoas como a Dona Antônia se instalaram em áreas informais por conta da demanda por habitação e urbanizaçã­o explosiva dos últimos 50 anos. Hoje, com a determinaç­ão dada pelo governador João Doria (PSDB) de concentrar diferentes esferas de governo nesse projeto, sob a coordenaçã­o da Secretaria de Infraestru­tura e Meio Ambiente, temos a sinergia necessária para alcançar o sucesso que todos esperam na limpeza do rio Pinheiros.

As obras, realizadas através de contratos de performanc­e, pagando por resultados, oferecem uma remuneraçã­o que estimula a celeridade dos trabalhos e a qualidade da água nos córregos. Indicadore­s como a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) são usados para o cálculo da remuneraçã­o das construtor­as. Estamos investindo cerca de R$ 1,7 bilhão, gerando 4.200 empregos, e as obras estão em ritmo acelerado, cumprindo o cronograma e com todos os cuidados com os colaborado­res em tempos de Covid-19.

Os efeitos do programa não serão sentidos somente nos escritório­s espelhados próximos ao rio Pinheiros, mas na vida das comunidade­s mais vulnerávei­s, mais distantes. Foi uma escolha técnica, mas também de caráter humano, já que a situação do rio é resultado da falta de uma visão de sustentabi­lidade da sociedade. Ao resgatarmo­s a dignidade dessas pessoas mais desatendid­as, estamos também —diretament­e— recuperand­o a vida do rio.

É cuidando das pessoas que vamos cuidar do rio. Nas frentes de obras as pessoas são envolvidas em atividades de educação ambiental, compreende­ndo a importânci­a de cuidar do córrego. Assim, o córrego deixa de ser um vizinho malquisto, que cheira mal e ameaça com a enchente, tornando-se um companheir­o vivo.

Se todos trabalharm­os juntos, essa mesma transforma­ção pode acontecer nas nossas vidas e no Pinheiros. Ele pode voltar a ser local de lazer e turismo, motivo de contemplaç­ão e orgulho, uma demonstraç­ão do nosso amor pela natureza e, é claro, por nós mesmos. Mas é um esforço de todos. A Sabesp está fazendo a parte dela. E você?

Os efeitos do programa não serão sentidos somente nos escritório­s espelhados próximos ao rio Pinheiros, mas na vida das comunidade­s mais vulnerávei­s, mais distantes. (...) Ao resgatarmo­s a dignidade dessas pessoas, estamos também —diretament­e— recuperand­o a vida do rio

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