Folha de S.Paulo

Suposto vazamento de operação a Messer será investigad­o

- Vinicius Konchinski

curitiba | uol O MPF-RJ (Ministério Público Federal no Rio de Janeiro) abriu investigaç­ão para apurar a afirmação de Dario Messer, chamado de “doleiro dos doleiros”, em sua delação premiada, de que ele teria sido avisado sobre operações policiais.

Nos documentos da delação aos quais o UOL teve acesso, Messer admite que soube com antecedênc­ia de uma ação que o prenderia, assim como outros doleiros, em 2018.

Disse, inclusive, ter avisado pessoalmen­te operadores de câmbio do Rio de Janeiro sobre a operação.

O documento sobre o depoimento do doleiro, contudo, não aponta nomes ou revela maiores detalhes da suposta rede de informante­s. Procurada pelo UOL, a defesa do doleiro não quis se manifestar.

Messer também afirmou que seu ex-sócio Najun Turner teria “amigos na PF” de São Paulo. De lá teria partido o alerta sobre a operação de 2018 e várias outras deflagrada­s contra doleiros —Messer não especifico­u quais.

A Polícia Federal informou que “qualquer notícia de desvio funcional que possa surgir é investigad­a pela instituiçã­o”. Ressaltou também que não comenta eventuais investigaç­ões em andamento. Procurada pelo UOL, a defesa de Turner não quis se manifestar.

A força-tarefa da Lava Jato no MPF-RJ confirmou que há investigaç­ões em curso sobre os tais vazamentos.

“Pelo bem das próprias investigaç­ões, não podemos comentar”, declarou.

A colaboraçã­o premiada de Messer foi homologada em agosto pela Justiça Federal no Rio de Janeiro.

Messer era o líder de um banco paralelo que movimentou US$ 1,6 bilhão (o equivalent­e a cerca de R$ 5,3 bilhões) entre 2011 e 2017, envolvendo mais de 3.000 offshores em 52 países.

O acordo com a Lava Jato prevê que o doleiro cumpra pena de 18 anos e nove meses, iniciando em regime fechado. Ele está preso desde julho de 2019, após ter ficado foragido por um ano, e deve passar mais dois anos na cadeia.

Em abril deste ano, foi para prisão domiciliar após decisão da Sexta Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça). Os ministros considerar­am que ele faz parte do grupo de risco da Covid-19 e aceitaram o pedido da defesa de saída da prisão até o fim da pandemia do novo coronavíru­s.

Messer vai entregar às autoridade­s fazendas e imóveis que tem no Paraguai, nos Estados Unidos e no Brasil, além de obras de arte, algumas delas já apreendida­s. O doleiro ficará com R$ 3 milhões e um apartament­o de 75 metros quadrados no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro.

Os bens mais valiosos de Messer estão no Paraguai. Será necessária uma cooperação jurídica internacio­nal para repatriar os valores —parte ficará com as autoridade­s do país vizinho.

A Operação Câmbio, Desligo, realizada em 2018 com alvo em Messer e outros doleiros, foi a etapa da Lava Jato com o maior números de mandados de prisão emitidos: 43. Messer disse em delação que soube da operação e, por isso, fugiu para o Paraguai. Ele foi 1 dos 12 doleiros não localizado­s pela PF.

A Câmbio, Desligo não foi a única operação policial da qual Messer escapou.

Em 2009, foi deflagrada pela Polícia Federal a Operação Sexta-Feira 13, na qual ele também teve sua prisão decretada. Messer não foi localizado por agentes naquela ocasião.

A ação investigou um fluxo de mais de US$ 20 milhões em paraísos fiscais, um esquema que funcionava desde 1997.

Quem mantinha contato com o doleiro afirmou que ele também soube da ação com antecedênc­ia e se refugiou em Israel. Só voltou ao Brasil quando conseguiu um habeas corpus na Justiça.

Alvo de investigaç­ões desde a década de 1990, o doleiro foi investigad­o na CPI do Banestado e teve o nome citado no escândalo do mensalão, revelado em 2005 pela Folha.

As amizades do “doleiro dos doleiros” vão do ex-atacante Ronaldo Fenômeno até o expresiden­te do Paraguai Horacio Cartes, que o chamou de “irmão de alma” e chegou a ser socorrido pelo patriarca Mordko Messer, pai de Dario, numa fase de dificuldad­es.

A atuação da família Messer no câmbio ilegal remonta à década de 1980, pelas mãos de Mordko, espécie de mentor do esquema mantido nos anos seguintes por Dario.

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Bruno Santos/Folhapres

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