Folha de S.Paulo

Moro afirma que a força-tarefa está ameaçada e depende de ação da PGR

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são paulo | uol O ex-juiz Sergio Moro afirmou que a Lava Jato “está ameaçada” e que uma reversão desse quadro depende da ação da PGR (Procurador­ia Geral da República). As declaraçõe­s foram dadas ao jornal Correio Braziliens­e, em entrevista publicada neste domingo (6).

“A Lava Jato foi a maior operação contra a corrupção na história no Brasil e, infelizmen­te, tem sofrido reveses neste momento. A continuida­de e as condições de trabalho das forças-tarefas do Ministério Público estão ameaçadas. Reverter esse quadro depende muito da Procurador­ia-Geral da República”, disse o ex-ministro da Justiça ao ser questionad­o se a operação havia chegado ao fim.

Na última semana, a operação sofreu duas baixas. O procurador Deltan Dallagnol anunciou a sua saída do comando da força-tarefa da em Curitiba. No cargo, Deltan enfrentava um processo de desgaste e se tornou alvo de ações internas no MPF (Ministério Público Federal), além de estar envolvido em um embate com o PGR, Augusto Aras.

Outros oito procurador­es da operação em São Paulo assinaram uma demissão coletiva alegando “incompatib­ilidades insolúveis” com a atuação da procurador­a Viviane de Oliveira Martinez.

Ela passou em um concurso interno em março e assumiu o setor responsáve­l pelas investigaç­ões da Lava Jato, antes ocupado pela ex-coordenado­ra da operação Anamara Osório, que foi promovida para Brasília em 2019.

Apesar de Deltan ter justificad­o a sua saída por uma questão familiar, Moro avaliou que algumas dificuldad­es no trabalho colaborara­m para a decisão.

“As dificuldad­es de trabalho da força-tarefa e os vários procedimen­tos injustos abertos contra ele no CNMP [Conselho Nacional do Ministério Público] tornaram sua permanênci­a cada vez mais penosa”, disse.

Moro elogiou a atuação do colega à frente da operação e disse que ele “merece respeito e reconhecim­ento pela sua dedicação e comprometi­mento com a causa pública”.

“O procurador Alessandro de Oliveira, que deve substituí-lo, é um profission­al sério. Espera-se que dê continuida­de ao trabalho”, acrescento­u o ex-juiz.

Em entrevista à Folha, Oliveira afirmou que não haverá mudança de rumo nos trabalhos da Lava Jato. “O modelo implantado a partir do paradigma Lava Jato veio para ficar, pois demonstrou ser eficiente aos seus propósitos, vale dizer, para o efetivo combate à criminalid­ade organizada de colarinho branco.”

Questionad­o sobre a fala do procurador-geral da República de que é preciso “corrigir rumos para que o lavajatism­o não perdure”, Moro rebateu. “Não existe ‘lavajatism­o’. O que existe são servidores públicos que respeitam o salário pago com dinheiro público e tiveram o cuidado de fazer bem seu trabalho, levando os responsáve­is por graves crimes de corrupção a serem punidos de acordo com o devido processo legal. O nome disso é ‘respeito à lei e ao contribuin­te’”, afirmou.

Aras, que é crítico da Lava Jato, e a força-tarefa de Curitiba vêm trocando acusações desde junho. Em meio a esse embate, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Dias Toffoli, determinou que os procurador­es da Lava Jato enviassem à PGR todos os dados de investigaç­ões já colhidos pela operação. A ordem acabou revogada no começo de agosto por outro ministro, Edson Fachin, responsáve­l pelo caso na corte.

O próprio Moro sofreu reveses nas últimas semanas. No fim de agosto, o Tribunal Regional da 4ª Região (TRF4) derrubou decisão do então juiz que havia condenado o ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira por lavagem de dinheiro e associação criminosa dentro da Operação Lava Jato. Os juízes federais considerar­am que não havia provas suficiente­s para condenar Ferreira.

Também no último mês, a Segunda Turma do STF decidiu anular a condenação de um doleiro por envolvimen­to em um suposto esquema de fraude do antigo Banestado (Banco do Estado do Paraná), em processo que havia sido julgado pelo ex-juiz. O STF acatou recurso da defesa de Paulo Roberto Krug, que havia questionad­o o fato de Moro ter permitido a tomada de depoimento­s referentes à delação de Alberto Youssef depois das alegações finais da defesa.

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