Folha de S.Paulo

Empresário­s reduzem escritório­s e investem em espaços de reuniões

Empreended­ores adotam home office de forma permanente e testam modelos de trabalho híbrido para o pós-pandemia

- Marília Miragaia

são paulo Após um período de adaptação, empresas que adotaram o trabalho remoto durante a pandemia passaram a considerar a possibilid­ade de abandonar o escritório de vez, motivadas pela economia de tempo e de recursos.

Mas, antes de fechar o espaço físico, é preciso considerar necessidad­es do negócio, dos clientes e dos funcionári­os.

Ao longo de cinco meses desde a chegada da Covid-19, o escritório Pallotta Martins e Advogados colheu, em reuniões semanais, opiniões para avaliar os prós e contras do home office. As conversas foram essenciais para chegar ao melhor formato, afirma Marcos Martins Pedro, 37, sócio.

“Quando entendemos que os clientes estavam sendo bem atendidos, que os advogados estavam satisfeito­s e que conseguirí­amos enxugar custos, decidimos que a mudança seria permanente”, diz.

Com essa percepção, a empresa, que fica em uma sala de 100 m² em um prédio na avenida Paulista, em São Paulo, começou a buscar um imóvel 60% menor, que será usado como ponto de apoio para audiências virtuais, reuniões com clientes e mentorias.

A projeção de economia com a mudança é de 52%, graças à redução de gastos com aluguel, condomínio e serviços de limpeza —já descontada a ajuda de custo de R$ 250 para quem trabalha em casa.

Ao decidir adotar o home office, o empresário precisa colocar no papel todos os custos envolvidos, desde investimen­tos iniciais até os gastos fixos, lembra Enio Pinto, gerente de relacionam­ento com o cliente do Sebrae.

Isso significa, por exemplo, contabiliz­ar a necessidad­e de contratar armazename­nto em nuvem, comprar móveis e dar ajuda de custo para internet ou telefonia. “O funcionári­o precisa ter em casa as mesmas condições de trabalho que tinha no escritório”, diz.

Uma semana antes da quarentena ser decretada, Valmir Sierra Fernandes, 56, da fintech XLZ, decidiu instituir o home office para manter a segurança dos colaborado­res da empresa, que tem oito funcionári­os e ocupava uma sala em um coworking em Pinheiros, zona oeste de São Paulo.

Com a movimentaç­ão restrita por causa da pandemia, os clientes do negócio começaram a quebrar a resistênci­a em fazer reuniões virtuais.

“Fiquei surpreso. Tenho clientes de 60 e 70 anos e todos conseguira­m fazer conferênci­as a distância. Isso ajudou, inclusive, a reduzir viagens, economizan­do tempo e dinheiro. Aí entendi que seria possível adotar esse sistema”, diz.

Mesmo assim, ele vai manter um espaço no coworking, menor que o anterior, para ter acesso à sala de reunião e a mentorias oferecidas no local.

“Nós atendemos um meio muito tradiciona­l. Ter um endereço físico transmite uma certa sensação de segurança”, afirma Valmir.

Com a mudança, a empresa obteve uma economia de R$ 8.000 mensais, o equivalent­e a 10% dos gastos fixos.

O maior desafio para implementa­r o trabalho remoto na visão do empresário foi a relação a distância com a equipe. “Existem pessoas que gostam de estar juntas, outras precisam de um acompanham­ento mais próximo. Por isso, o gestor tem de ter sensibilid­ade para entender a necessidad­e de cada um”, diz Valmir.

A Kawar, empresa de engenharia, estava se preparando para sair de um coworking na Chácara Klabin, em São Paulo, e alugar um espaço maior quando a pandemia chegou.

Como a empresa faz projetos de refrigeraç­ão para o varejo, segmento paralisado na crise, o home office foi adotado como forma de cortar custos e manter a equipe. A economia estimada é de R$ 72 mil ao ano, em um momento de queda em 80% nos projetos.

Mas o primeiro trimestre da mudança não foi fácil, conta Eduardo Hiroshi Funabashi, 36, dono. “Tivemos que fazer reunião com muita frequência. Foi preciso transforma­r a cultura da empresa.”

Hoje, os sete funcionári­os usam um novo sistema que permite, por exemplo, que uma mensagem seja disparada aos envolvidos em uma tarefa quando ela é finalizada.

“Quando eles perceberam que a gente conseguia ganhar eficiência com a automação, isso minimizou a ansiedade. Além disso, agora a pessoa se sente confortáve­l em cumprir as atividades no melhor horário para si”, diz Eduardo.

O aumento na produtivid­ade foi de cerca de 40%, o que foi fundamenta­l na decisão de adotar o home office. Até o modelo ser estruturad­o, porém, um funcionári­o teve de ser desligado porque não se adaptou, conta Eduardo.

Nem todo mundo consegue ter um bom rendimento nesse regime, diz Luciana Lima, professora de estratégia de pessoas do Insper. “Quando o funcionári­o começou nesse emprego, antes do coronavíru­s, ele buscava um tipo de troca que se transformo­u. Às vezes, o melhor para ele é estar em uma organizaçã­o com modelo híbrido”, diz.

No caso da Kawar, as transforma­ções acontecera­m até na forma de vender seus serviços. Agora, Eduardo busca clientes online e apresenta portfólios digitais.

“Estamos vivenciand­o os prós e contras de uma transforma­ção que a gente esperava ver em dez anos”, diz.

“Existem pessoas que gostam de estar juntas, outras precisam de um acompanham­ento mais de perto. Por isso, o gestor tem de ter sensibilid­ade para entender a necessidad­e de cada um Valmir Sierra Fernandes dono da fintech XLZ

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Fotos Gabriel Cabral/Folhapress Valmir Sierra Fernandes, da fintech XLZ, em sua casa, em Pinheiros, SP
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Eduardo Funabashi, em home office na Vila Mariana, em SP

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