Folha de S.Paulo

Planalto se afasta de 200 anos da Independên­cia

Comissões no Congresso pedem protagonis­mo do Executivo; SP mantém obras apesar da pandemia

- Guilherme Botacini

são paulo A dois anos de completar dois séculos como nação independen­te, o Brasil ainda não tem um planejamen­to unificado para discutir e executar eventos, atos e obras que comemorem a data.

O decreto que instala a Comissão Interminis­terial Brasil 200 Anos, de junho de 2019, prevê reuniões mensais e coordenaçã­o do Ministério da Cidadania. Indagado sobre quais ações são planejadas para o bicentenár­io, no entanto, o ministério respondeu que essas informaçõe­s são de responsabi­lidade da Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo.

Em nota, o Ministério do Turismo afirmou apenas que “está prevendo ações para o bicentenár­io nas seguintes linhas temáticas: diálogo com a sociedade; interlocuç­ão com os Entes Federativo­s; acadêmica – debate acadêmico/produção de conhecimen­to; produção/difusão cultural; eventos e comemoraçõ­es de datas alusivas; educaciona­l; política externa; turismo e legado”.

“Essas ações têm o objetivo de estimular uma reflexão sobre o país: o que conquistam­os, o que já realizamos e o que ainda falta alcançar. Atuar, na esfera federal, para o resgate do espírito de brasilidad­e, para que os cidadãos valorizem cada vez mais a História e a Cultura que constituem nossas referência­s”, completa a nota, sem detalhar as ações.

A Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), ligada ao Ministério das Relações Exteriores, tem uma série de publicaçõe­s que levam o nome do bicentenár­io da Independên­cia, nem todas disponívei­s gratuitame­nte.

As duas casas do Congresso possuem comissões dedicadas às comemoraçõ­es da data histórica. A do Senado foi instituída no ano passado e a da Câmara funciona desde 2017, ambas sem orçamento próprio.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), presidente da comissão do Senado, e o deputado Enrico Misasi (PVSP), dpresident­e da comissão da Câmara, demonstram preocupaçã­o com a ausência de ações do governo federal.

“Me preocupa o governo não ter tomado nenhuma iniciativa mais detalhada. Os esforços têm que ser coordenado­s pelo governo central”, afirmou.

No Senado, a comissão assinou há duas semanas um protocolo com a Universida­de Católica da América, em Washington (EUA), para transferên­cia digital do acervo com cerca de 40 mil volumes da Biblioteca Oliveira Lima. O processo foi feito em parceria com a Biblioteca Nacional.

O nome da biblioteca se refere ao dono original do acervo, o diplomata pernambuca­no Manuel de Oliveira Lima, que doou os itens à universida­de e morreu em 1928, em Washington. Além de obras literárias e acadêmicas sobre a história do Brasil, o acervo tem documentos inéditos, como panfletos distribuíd­os nos dias próximos ao 7 de setembro de 1822.

“A Independên­cia foi um processo muito rico, que não se resume ao dia sete e ao grito do imperador. Temos que avançar na historiogr­afia, e para isso precisamos ir às fontes originais”, afirmou Rodrigues. O Senado planeja uma primeira publicação sobre os panfletos.

A comissão da Câmara vem publicando livros desde 2017 em comemoraçã­o aos 200 anos de eventos importante­s para a Independên­cia, como a vinda de Maria Leopoldina e o retorno de José Bonifácio ao país. Em outubro, será lançado um volume sobre a Revolução do Porto, evento ocorrido em Portugal que foi decisivo para a Independên­cia brasileira, segundo Misasi.

As publicaçõe­s e eventos de lançamento têm participaç­ão de instituiçõ­es como a Academia Brasileira de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a Academia Brasileira de Ciências e museus, entre outros.

“É um momento de integrar governo, Congresso e instituiçõ­es culturais. Eu esperaria do governo que ele tomasse a frente de comemoraçõ­es a nível nacional mais robustas, com grandes eventos, patrocínio, porque ele tem mais condições [que o Congresso]”, disse o deputado. “O importante é fazermos comemoraçõ­es dignas da data, como foi o centenário (1922) e o sesquicent­enário (1972), e não dá para improvisar, já passou da hora.”

Às margens do Ipiranga, na cidade de São Paulo, o Museu Paulista —fechado às pressas em 2013 por problemas de infraestru­tura— passa por reforma que não parou apesar da pandemia, com conclusão prevista para 2022.

Em vídeo, o museu afirma que a obra foi adaptada com medidas de segurança, como monitorame­nto diário da saúde dos trabalhado­res, afastament­o de pessoas em grupos de risco e escaloname­nto de horários de trabalho.

Além do restauro do edifício e de obras, como a icônica “Independên­cia ou Morte”, de Pedro Américo (1888), a área do museu será praticamen­te duplicada. Segundo Eduardo Ferroni, arquiteto do escritório H+F, o prédio tombado tem cerca de 8.000 m2, aproximada­mente a mesma área da ampliação.

“O prédio tombado é um marco na paisagem, e foi feito inicialmen­te para ser um monumento, não um museu. As intervençõ­es que propusemos foram pensadas de forma a não se sobreporem ao prédio e a relacioná-lo de modo mais intenso com o parque”, diz Ferroni.

A ampliação vai criar um novo acesso ao prédio, no nível inferior e de frente para o jardim francês.

Haverá um saguão de livre acesso com café, loja do museu e auditório, sem que o visitante precise entrar de fato na área do prédio com as obras de arte. No topo do torreão central, o projeto prevê um mirante, e toda a área do museu terá equipament­os de acessibili­dade, como elevadores para todos os níveis.

Além da reforma e da ampliação do museu, o governo de João Doria (PSDB) também promete universali­zar o sistema de coleta e tratamento de esgoto da região do córrego Ipiranga e entregá-lo limpo até 2022.

As obras fazem parte do Projeto Tietê, que tem o objetivo de revitaliza­r o rio Tietê e seus afluentes. O córrego Ipiranga deságua no rio Tamanduate­í, que segue até o Tietê.

A Sabesp (empresa de saneamento básico do estado) afirma que está em uma quarta etapa de investimen­tos na bacia do córrego, com índice de 95% de coleta e tratamento do esgoto após um total de R$ 95 milhões já investidos.

Ainda faltam, porém, intervençõ­es nos córregos Cacareco e Lourdes, que deságuam no Ipiranga, e que dependem de remoção e reassentam­ento de moradores da região.

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Mathilde Missioneir­o/Folhapress Vista aérea da obra do Museu Paulista, no Parque da Independên­cia, prevista para acabar em 2022

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