Folha de S.Paulo

Entre lições e conselhos, fez sucesso com massas italianas

HONORINA ZAIA DEMARI (1922-2020)

- Patrícia Pasquini coluna.obituario@grupofolha.com.br PAULINA KAISER ZAJDENS

são paulo A dona de casa Honorina Zaia Demari não teve a pretensão de ser professora, mas viveu para ensinar.

Rina, como era conhecida, nasceu dentro de um navio que trazia seus pais e irmãos da Itália após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Sua mãe, Fosca Milaneia Zaia, estava certa de que daria à luz no Brasil. Como a epidemia de Tifo havia atingido parte da Europa, entre 1918 e 1922, ela permaneceu ao longo de três meses dentro da embarcação.

Depois, Rina e a mãe desembarca­ram no Rio de Janeiro e fizeram quarentena. O pai, Francesco Zaia, e os cinco irmãos desceram em Santos (72 km de SP) e foram levados a uma fazenda em Serra Azul (302 km de SP), onde Francesco havia conseguido emprego na colheita de café. Passado o período de isolamento, a família voltou a ficar unida e tempos depois se mudou para o bairro paulistano da Mooca (zona leste).

“As mulheres foram trabalhar em indústria de tecelagem e os homens na Nadir Figueiredo. O pai arrumou emprego como jardineiro na fazenda do Francesco Matarazzo, no Tatuapé”, conta a empresária Maria José Rocha Glorigiano, 67, que também é sobrinha e afilhada de Rina.

Rina tinha dupla nacionalid­ade: brasileira e italiana. Estudou até o segundo ano primário, mas em sua vida sempre houve espaço para bons livros. Tornou-se uma leitora voraz com o passar dos anos.

Rina conheceu o marido Roque Demari durante um passeio no largo São José do Belém (zona leste). Do casamento nasceram duas filhas. Depois, vieram cinco netos e três bisnetos. O distanciam­ento físico imposto pela pandemia do novo coronavíru­s impediu que Rina conhecesse o último bisneto.

Ela cuidou da família, ajudou na educação das filhas, dos netos e bisnetos. Até 2017, nunca havia se separado da irmã Victoria Catharina Zaia Rocha, que morreu naquele ano. “Já mais velhas elas falavam um italiano abrasileir­ado quando queriam conversar em código pensando que ninguém entenderia. Muitos constrangi­mentos e muitas histórias engraçadas acontecera­m por conta disso”, lembra a sobrinha.

Além de boa matriarca, era imbatível quando entrava na cozinha, principalm­ente quando preparava massas —os pratos a faziam recordar de suas origens. Educada e amável, Rina tinha talento como conselheir­a e acertava nos palpites.

A lição que mais ensinou foi o amor e cuidado com a família, diz Maria José. Honorina Zaia Demari morreu dia 1º de setembro, aos 98 anos, de insuficiên­cia renal.

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