Folha de S.Paulo

O dedo de Luxemburgo

Nada como uma vitória de virada para mudar humores. Que o digam os palmeirens­es

- Juca Kfouri Jornalista e autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP

O Palmeiras fazia mais uma apresentaç­ão lamentável sob o sol escaldante de Bragança Paulista.

Perdia a invencibil­idade para o Bragantino, um dos lanternas do Covidão-20, e nada indicava que evitaria a derrota.

As redes sociais alviverdes, ainda no intervalo, com o jogo 0 a 0, estavam repletas de “Fora Luxemburgo!”.

Com o 1 a 0 dos anfitriões, era possível ouvir a gritaria.

Cabeça fervilhand­o nos quase 30°C e 26% de umidade, o treinador se dividia entre as desculpas que daria ao fim do jogo e as cinco mexidas que sempre faz no segundo tempo, para aproveitar a fartura do elenco e explorar o esgotament­o dos pobres adversário­s.

Entre as desculpas, duas válidas: é impossível jogar bem naquela temperatur­a e o VAR varia em seus critérios, ao não ver pênalti da bola no braço do zagueiro bragantino embora tenha visto no do palmeirens­e contra o Inter.

Nenhuma delas, no entanto, capaz de justificar o futebol indigente sob quaisquer condições climáticas.

Aos 20 minutos do segundo tempo, então, Gabriel Veron e Willian entram no jogo, Mayke sai e Gabriel Menino vai para a lateral-direita no lugar dele.

Dois minutos depois, Menino cruzou na cabeça do xará Veron e o Palmeiras empatava pela quinta vez em sete jogos. Permanecia invicto, embora empacado na tábua de classifica­ção.

Só que teria mais.

Em jogo com ritmo bem melhor apesar do calor ainda maior, o cansaço começou a cobrar seu preço, a abrir espaços no gramado incandesce­nte, lá e cá.

O Bragantino foi obrigado a tirar seu melhor jogador, o expalmeire­nse Artur, e Luxa ainda tinha Raphael Veiga para substituir o sonolento Lucas Lima, aos 39 minutos, quando o Braga era mais perigoso e Weverton havia evitado o segundo gol.

Pois não é que Veiga lançou Veron e o garoto deixou Willian na cara do gol para virar, fazer 2 a 1 e dar a terceira vitória ao Palmeiras que, com um jogo a menos, entra no páreo para brigar no topo da tabela?

Veja bem, se já não viu: Veron, Willian e Veiga, três dos cinco que vieram do banco, construíra­m a vitória que tornou desnecessá­rio falar da arbitragem e da temperatur­a.

Poderão a rara leitora e o raro leitor palmeirens­es perguntar: “Mas é digno de elogio o técnico que corrige escalação errada?”.

Quem disse que houve erro na escalação?

O Palmeiras tem jogado sempre com 16 jogadores e melhorado, porque os que entram tem o mesmo nível dos que saem e, descansado­s, se impõem diante do bagaço em que encontram os rivais. Vai dizer que não vale?

Basta dizer que a primeira vitória palmeirens­e, contra o Athletico, foi obtida aos 46 min do segundo tempo; a segunda, sobre o Santos já depois da metade da etapa final, aos 27 min, além dessa terceira e do empate contra o Inter, também nos acréscimos.

Inegável o dedo do treinador. “Ah, mas com elenco tão forte até eu”, você pode pensar e argumentar.

OK, OK, OK. Até eu também.

A graça de Graciliano

A editora Record lança “Pequena História da República” do gênio da raça Graciliano Ramos, texto imperdível publicado em “Alexandre e Outros Heróis” e agora em livro só seu.

São 48 páginas de puro deleite.

Só uma amostra, logo no início, da graça do alagoano que não gostava de futebol: “Em 1889 o Brasil se diferençav­a muito do que é hoje; (...) o rádio não anunciava o encontro do Flamengo com o Vasco, porque nos faltavam rádio, Vasco e Flamengo”.

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