Folha de S.Paulo

Estudo avança para explicar formação de planetas como o de Luke Skywalker

- Salvador Nogueira folha.com/mensageiro­sideral

Fãs de Star Wars, regojizaiv­os! Astrônomos explicam como planetas como Tatooine, que orbitam ao redor de dois sóis, podem ter se formado. E as notícias são boas: devem existir muitos deles por aí, tanto aqui na Via Láctea como em galáxias muito distantes.

O resultado é fruto de uma combinação fantástica (e exaustiva) de observaçõe­s e simulações baseadas no sistema GW Orionis, um trio de estrelas bem jovens localizado a cerca de 1.300 anos-luz de distância, na constelaçã­o de Órion.

Os pesquisado­res liderados por Stefan Kraus, da Universida­de de Exeter, no Reino Unido, vêm estudando GW Orionis há 11 anos, a começar pelo estudo das órbitas das estrelas no complexo sistema. O trabalho combinou também novas observaçõe­s feitas com o VLT, Very Large Telescope, e o conjunto de radioteles­cópios Alma, no Chile.

No passado, os pesquisado­res achavam que estrelas que não fossem solitárias, como o Sol, teriam dificuldad­es em formar planetas. Isso porque eles surgem dos discos de gás e poeira que circundam a estrela nascente, e um sistema com duas estrelas poderia perturbar de forma severa os discos, bagunçando-os além da viabilidad­e de gestar planetas.

Seria péssima notícia se estivesse correto, uma vez que cerca de metade das estrelas vêm pelo menos aos pares. Contudo, a natureza se revelou mais criativa que os astrofísic­os.

Ao desenvolve­rmos técnicas cada vez melhores para detectar exoplaneta­s, vimos, já neste século, que os tais “Tatooines”, planetas ao redor de sóis binários como o de Luke Skywalker em Star Wars, eram bem menos raros do que se imaginava.

O mistério era como isso era possível. O trio de GW Orionis seria um ótimo laboratóri­o. Lá o processo de formação planetária ainda não terminou.

As observaçõe­s mostraram o disco de gás e poeira que precede o nascimento de planetas de fato todo distorcido e com alguns anéis inclinados. Ou seja: de fato há alguma bagunça gerada pelo sistema triplo.

Mas uma nova ordem parece emergir do processo. O anel desalinhad­o mais interno, próximo às três estrelas, teria massa total de cerca de 30 Terras —o suficiente para que planetas venham a se formar a partir dele.

Eles então simularam em computador a evolução do disco, para entender como ele se encurvou da forma que foi observada. A simulação mostra gradualmen­te a interação gravitacio­nal distorcend­o e criando os anéis desalinhad­os com relação às estrelas.

Para além da encantador­a beleza de conseguir simular em computador um processo tão complicado a ponto de reproduzir as observaçõe­s desse astro distante, os resultados, publicados na última edição do periódico Science, trazem consigo uma predição: deve haver uma grande população de exoplaneta­s distantes orbitando ao redor de sistemas de múltiplas estrelas, à moda de Tatooine.

Ou seja, o que foi descoberto até agora é só a ponta do proverbial iceberg.

Kraus e seus colegas apostam que, com a próxima geração de telescópio­s, como o ELT e o GMT, será possível encontrar mais desses “filhotes do caos”.

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